Eu tenho uma nova amiga. Ela se chama Teresinha e nos vemos quase todos os dias, de segunda a sexta. Costumamos pegar o mesmo metrô de Porto Alegre para Canoas, no início da noite. E descemos na mesma estação.
Estou muito contente com minha recente amizade e fico triste nos dias em que nos desencontramos. A cada conversa vou descobrindo coisas em comum com a Teresinha: nossos filhos (ela tem uma filha de 4 anos) estudam na mesma escola. E temos muito pouco tempo para estar com eles, porque trabalhamos numa cidade e moramos em outra. Assim como eu, ela precisa se apressar para não perder o ônibus que a leva pra casa. Nós duas somos gordinhas. Descobri que temos a mesma idade (nascemos no mesmo mês!), temos gostos muito parecidos e crenças também. Brinquei com ela: "Menina, somos gêmeas separadas no nascimento"! Mas a Teresinha tem mais a me ensinar, do que eu a ela.
A Teresinha é deficiente visual. Mas não é isso que mais chama a atenção. É o seu sorriso. Lindo, espontâneo, cheio de vida.
Inicialmente eu a via uma vez por semana, quando ia pegar o Yuri na casa da minha sogra, nos dias em que ele faz judô. Pegávamos o mesmo ônibus. Aí comecei a reparar nela nos demais dias, quando nossos bairros diferentes nos levavam a embarcar cada uma num coletivo. Até que um dia, enquanto eu esperava o meu ônibus, eu a vi sozinha. Por menos de 1 minuto ela tinha perdido o seu ônibus e precisou esperar mais de 30 minutos o próximo horário. Fiquei com pena e passei a esperar a Teresinha na estação de Canoas, onde desembarcamos. Aí a conduzo mais rapidamente ao seu ônibus e depois pego o meu.
Fico feliz por tê-la conhecido. Não existe mérito nenhum no que estou fazendo. Os méritos são da minha nova amiga. Que me mostrou quão rabugenta eu era, ao correr desesperadamente a passarela de acesso, perder um ônibus e precisar esperar o próximo. Afinal, eu posso correr e ver o meu ônibus partindo! A Teresinha só sabe que o dela foi embora quando, depois de desviar de dezenas de pessoas e obstáculos, chega ao ponto da parada. Que me alertou como a vida fica mais fácil quando a gente encara tudo com um sorriso no rosto. A Teresinha me fez ver a vida com outros olhos. Me permitiu um olhar sobre a pressa e o egoísmo coletivos. Me oportunizou uma reflexão sobre acessibilidade no seu sentido mais profundo. Sobre o direito à cidadania. Sobre solidariedade ao alcance de todos. Não é preciso doar milhares de reais ou quilos e mais quilos de alimentos para ser solidário. Às vezes, um simples braço dado e 2 minutos do seu tempo são suficientes.
E eu estava errada. Eu não tenho porque ter pena da Teresinha. Tenho orgulho da mulher, esposa e mãe que sei que ela é. Da profissional que batalha. Da nova amiga que ganhei e que me traz, a cada encontro, tantas lições bonitas. Que me fez enxergar coisas aparentemente óbvias, que estavam ali bem no meu nariz. Mas que eu não tinha capacidade de ver. Obrigada, Teresinha! Deus te abençoe!
3 comentários:
Dinha, adoro aprender com você! Que post lindo! Reforça a sensação que tive na semana passada com uma leitura minha...Tolerância, solidariedade, são palavras que precisamos colocar de vez no nosso vocabulário diário. Bjs
Ah sua danadinha sempre nos emocionando. A Terezinha pode ser tudo que você falou mas a cada dia você demonstra que é muito e muito mais do que a gente pensa.
Beijos
Dinha
És fantástica mesmo. E fantástica é a tua amiga ! Um grande beijo para vocês e agora com esse novo "olhar" , toca a apreciar a vida e as suas cores, de uma forma muito mais especial .
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