quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Rapidinhas

● Ando sem a mínima inspiração pra escrever. Até começo posts, mas nunca termino. E estou bem sem tempo também;

● Yuri pegou suas primeiras recuperações na escola. 6,5 em Geografia, 5,5 em Ciências. A média é 7. Eu me chateei comigo, me senti ausente. Mas estudamos juntos para as provas de recuperação e foi bem gostoso;

● Caíto anda um mimo só. Se aproveitando de nossa exagerada boa vontade pra com ele pós-hospital. Aí conversei com minha mãe, que ele estava nos manipulando. E ela o colocou de castigo: conversou com ele, que ele precisava melhorar seu comportamento e o deixou um dia sem ver Cocoricó! Ele entendeu tudo e está se adoçando... Hehehehe... Amei!;

● Depois de duas semanas de luto, todos ainda sentimos muita falta do Scott. Nosso pátio agora parece imenso, de tão vazio. Estamos pensando seriamente em pegar outro vira-latas bebê...;

● Caio não anda bem do estômago, com dores e regurgitos (é assim que se escreve?) freqüentes. A nutricionista disse que temos 3 hipóteses: ele está engolindo ar ao mamar; ele pode (pós-hepatite) estar desenvolvendo intolerância também à soja (rezo para que não) ou é apenas um reflexo incomodativo, mas natural, do seu sistema gastro-intestinal se reequilibrando após a crise hepática. Amanhã vamos na Anja Daniela. Que venham os melhores resultados;

● Yuri segue tratando o Caio com muito amor, mas dá sinais de que quer mais atenção (merecida) para si. Estamos nos empenhando em deixar bem claro que ele é tão amado, lindo e importante quanto o irmão.

● Um sentimento estranho anda comigo. O último mês foi muito doído para toda a família, ainda estamos todos muito "neurados". Mas é impressionante como o clima de amor, tolerância e união aumentou. E ainda tem gente que estamos nesta vida é pra aprender...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A pedidos

Atendendo numerosos pedidos que chegaram à esta editoria, lanço umas news do Yuri, meu primogênito gostoso!

* Ele está fazendo as provas do segundo trimestre na Escola. Tirou 7 numa prova e ficou profundamente frustrado. Ele acertou tudo sobre números romanos, resolveu com destreza seqüências numéricas. Mas se nega a fazer a "prova real" ou armar contas que ele resolve, com extrema facilidade, de cabeça. E é descontado por sua insubordinação...

* Ainda a escola: é meu orgulho! Segundo a professora, demonstra o maior interesse por leitura, excelente grafia (diferenças entre Ç, S e SS ou X e CH, X e Z, por exemplo) e ótima redação para a idade!

* Sofreu muito com a morte do Scott, seu "filho". Foi muito dolorido vê-lo chorar tanto, com aquele olhar de perplexidade, de "por quê?", tão difícil, se não impossível, de explicar. Mas, como em tudo, ele deu show de maturidade. Já passa adiante seu aprendizado de que doenças e acidentes também podem ser fatais e não somente conseqüência da idade. Fala do Scott com grande amor, ainda chora algumas vezes, mas de uma maneira bem resolvida.

* Está cada dia mais meu parceiro nas tarefas domésticas e nos cuidados com o irmão. Cada dia mais penso que Caio escolheu a dedo este mano pra ele!

* É agora um judoca "federado", associado à Federação Gaúcha de Judô. E, assim, pode viajar e ser reconhecido como judoca faixa amarela em qualquer competição nacional. Acho que aquele sonho dele das Olimpíadas de 2020 permanece de pé.

* Está cada dia mais lindo e amado. Alguém discorda?

Pra compartilhar

"A fé sincera é arrebatadora e contagiosa; ela se comunica àqueles que não a tinham, ou mesmo não queiram tê-la; encontra palavras persuasivas que vão à alma, enquanto que a fé aparente não tem senão palavras sonoras que os deixam frios e indiferentes. Pregai pelo exemplo da vossa fé para dá-lo aos homens; pregai pelo exemplo de vossas obras para fazê-los ver o mérito da fé; pregai pela vossa esperança inabalável, para lhes fazer ver a confiaça que fortalece e leva a enfrentar todas as vicissitudes da vida.

Tende, pois, a fé em tudo o que ela tem de bom e de belo, em sua pureza e em sua racionalidade. Não admitais a fé sem controle, filha cega da cegueira. Amai a Deus, mas sabei porque o amais, crede em Suas promessas, mas sabei porque nelas credes."

(O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Scott, te amamos pra sempre!

Eu creio que os animais também têm alma.
Algumas, inclusive, muito amorosas e evoluídas.
Por isso, hoje rezo pela alma do nosso querido Scott, que partiu essa madrugada, subitamente.
Acredito que existe um céu lindo e puro só para animaizinhos e certamente nosso Scott está lá, fazendo suas alegres estripulias.
Te amamos muito neste 1 ano e 5 meses em que foste nosso.
E te amaremos pra sempre.




segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Lições – Alguns Esclarecimentos

Eu ainda me importo com a opinião de algumas pessoas. E neste final de semana, uma pessoa de minhas relações me disse que lê o Meus Frutos. Mas que não gosta da maneira como eu escrevo das hospitalizações do Caio – esta recente e a neonatal. Disse que eu praticamente indico uma permanência na UTI para nos tornarmos melhores, como quem indica uma viagem à Disney.

Bem, eu não vejo deste modo. Este espaço, antes de mais nada, é MEU espaço TERAPÊUTICO. Sempre foi assim comigo, desde os meus 5 anos, quando aprendi a escrever. Através da escrita, exorcizo alguns fantasmas. Ou elaboro melhor algumas vivências. E aqui, exponho, sem nenhuma tentativa de influenciar quem quer que seja, as minhas crenças muito particulares.

Obviamente que não recomendo uma estadia hospitalar como condição sine qua non para evoluirmos. Aliás, no meu coração materno e mole, nenhuma criança deste mundo deveria passar por um hospital não fosse unicamente para nascer. Mas a realidade, infelizmente, não é tão cor-de-rosa. E se EU acredito que nenhum de nós estamos neste mundo somente a passeio, mas com algum propósito, o melhor que posso fazer é tentar aprender.

Até hoje me dói não ter podido levar o Caio pra casa 2 ou 3 dias após seu nascimento. Não tê-lo amamentado. Não termos vivido tantas coisas absolutamente rotineiras para mãe e bebê. Muitas vezes ainda me chateio muito pela tabela de remédios que ele precisa usar – sempre 3 ou 4, com dosagens, horários diferentes, receitas controladas.
Me ressinto que ele tenha passe livre no transporte público por ser um portador de deficiência. Depois desse episódio mais recente me apavoro com a idéia de que ele volte a vomitar (e isso, por mais saudável que ele se mantenha, vai acontecer, porque afinal “faz parte”). Ainda estamos numa fase de transição da medicação com a qual ele recebeu alta do hospital, mas que não pode fazer uso por período prolongado, e o novo anticonvulsivante, absolutamente experimental. E me desespera a possibilidade de algum dia ter que vê-lo convulsionar novamente. Mas são riscos que corremos.

Agora, o que eu não posso é ficar me atormentado por episódios que já aconteceram e sobre os quais nem eu nem ele tivemos nenhum controle. Chorar eternamente o leite derramado não vai me trazer nada mais além de dor e amargura. E definitivamente, não é isto que almejo para nossas vidas.

O que consigo ver claramente é que, como todo mundo, nossa vida é feita de algumas pequenas certezas, uma quantidade razoável de sonhos e expectativas e um imenso lote de imprevistos e incertezas. E a gente vai levando. Um dia mais feliz e confiante. Noutro mais apreensivo. Não quero perder meu tempo pensando se é justo ou não que passemos tanto tempo com o coração na mão. Se merecemos, por algum motivo, eu e ele, as internações hospitalares. Como costumo dizer, eu não posso mudar o que vivemos. Posso, talvez, transformar o que está por vir. E ainda quero o melhor pra gente. Acho, isto sim, que merecemos!


Temos sempre a mania de achar a grama do vizinho mais verde do que a nossa. Estar com um filho numa Unidade de Tratamento Intensivo nos fazer ver bem que, na maioria das vezes, não é assim. O sofrimento ao lado pode ser maior. E por mais que saber disso não alivia a nossa dor, é uma forma de redimensionar todos os nossos valores.

Chorar pelo que realmente toca, pedir o que realmente importa, sofrer pelo que realmente é válido, torcer pelo que é justo, amar incondicionalmente. Teremos momentos de frescurinha, pitis, futilidade? Claro, também faz parte da natureza humana. Mas sabendo que o que conta, o que faz a diferença é a essência do que trazemos no coração. E que ela saiba se manter humilde, para aprender um pouquinho mais a cada dia. Como eu e Caio temos tentado.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Lições - O resgate

Acredito que realmente tirei muitas lições desta hospitalização do Caio.
Por mais que tenha doído, acho que cresci mais um pouquinho.
E pra mim, uma coisa que ficou muito clara foi a importância da minha mãe nas nossas vidas - minha, do Caio e do Yuri.
Já compartilhei várias vezes o quanto, no cotidiano, me desentendo com ela. Não fui criada por ela, por circunstâncias que neste momento não vêm ao caso. Nos separamos quanto eu tinha 5 anos, embora sempre tenhamos mantido contato. Voltei a morar com ela, por conta do destino, 29 anos depois. Com marido e filhos à tiracolo. Mas somos muito diferentes, pensamos e agimos muito diferente uma da outra.
Mas sou obrigada a reconhecer: minha mãe é meu grande esteio.
É ela quem cuida do Caio, para que eu possa trabalhar e custear suas altas despesas.
Eu pago. Mas pago menos do que ela merece. E tenho a confiança de que o Caio está em mãos tão boas e amorosas quanto as minhas. É ela quem o leva na fisioterapia, agora na fono e que está pronta para levá-lo onde for preciso, se isto significar maiores chances de qualidade de vida pra ele.
Foi com ela que compartilhei a missão de cobrir as 24 horas de hospital. 12 para cada.
Mas foi nos braços dela que deixei o Caio nos meus momentos de maior medo e dor. Quando eu achava que não ia segurar a onda, ela segurou por todos nós.
E, depois, ela me conta que também conversava com ele, quando ele ainda estava convulsionando. E que pediu à ele pra nos escolher mais uma vez, pra ficar com a gente, mas ficar bem... Me disse também que pensava no quanto todos sofreríamos se ele partisse, mas especialmente a dor que seria para o Yuri...
A primeira noite de UTI também foi dela. O primeiro colo que os médicos deram direito ao Caio foi o dela.
É como digo, passar por situações extremas assim podem nos deixar com medo ou fortalecidos.
Acredito que mais uma vez pude redimensionar as coisas na minha vida.
O que realmente importa, o que vale, o que é verdadeiro.
E pude perceber que a ligação que tenho com minha mãe é forte, intensa. Apesar das picuinhas do dia-a-dia. Que são tão somente isso, migalhas. De algo muito maior e importante, que é o amor que ela nos têm.
Eu já quis me mudar e ir morar longe da minha mãe.
Hoje percebo que necessitamos dela para sermos felizes e completos.
E se eu tiver que mudar, ela irá conosco. Que bom que pude enxergar isso a tempo.
E que estamos resgatando nossa história ainda nesta vida.

Minha mãe, Ideli, eu e Caíto: um time que joga bem!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Nossa nova trilha

Quem me conhece, sabe: eu não resisto à uma música brega.
E a última incorporada à trilha do meu filme com Caíto é esta...

Como vai você?
Eu preciso saber da sua vida
Peço a alguém pra me contar sobre o seu dia
Anoiteceu e eu preciso só saber

Como vai você?
Que já modificou a minha vida
Razão de minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você



Vem, que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz
Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu só preciso saber
Como vai você

(Como vai você? - Antônio Marcos/ Mario Marcos)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Meu "aranha" valente!

Caio é um menino insistente, que luta e não desiste frente a qualquer obstáculo, não.
Isso todo mundo sabe.
E sabem no hospital, sua música favorita?
A companhia do cãozinho "Bebê", presenteado por minhas amigas mineiras, cantarolando:

A Dona Aranha subiu pela parede
Veio a chuva forte e a derrubou
Já passou a chuva
O sol já vem surgindo
E a Dona Aranha continua a subir
Ela é teimosa e desobediente
Sobe, sobe, sobe
Nunca está contente


É ou não é o hino de superação do meu guerreiro?
Caio é meu "dono Aranha", sempre subindo, nunca está contente, quer sempre mais!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Verás que um filho teu não foge à luta

Caio é, definitivamente, meu tudo. Meu ídolo, minha luz, meu mestre, meu grande amor. Meu filho, meu orgulho desmedido, meu guerreiro valente.

Estivemos 7 dias na UTI. Uma tragédia, um retrocesso imenso, pensei de início.
Mais uma grande lição deste homem gigante que tive o privilégio de dar à luz.

Após 48 horas de vômitos e dor abdominal que pareciam se intensificar, levei-o para consultar com sua pediatra, a Jaque, no PA. Estava quase certa de que receberia o laudo indefectível: “virose”. Mas minha neurose crônica insistia: era melhor levá-lo. Hoje sei que, se não foi instinto materno apurado, foi providência divina.

Caio já chegou desidratado, foi conduzido imediatamente ao soro. Os exames eram inconclusivos: não era quadro viral, não havia foco infeccioso aparente. Mais de 16 horas até a confirmação: hepatite de origem medicamentosa. Liguei imediatamente pra neurologista dele, que ficou em contato com a equipe que o atendia no hospital. Essa minha decisão também teve o dedo de Deus: Caio convulsionou duas vezes, na quarta, dia 23, à tarde. Eu não agüentei o tranco. Nunca havia acontecido. Achei que o estava perdendo. Larguei ele nos braços da minha mãe e andei atordoada pelos corredores do hospital. Liguei, mandei torpedos para meio mundo. Eu queria que alguém me dissesse que aquilo não era verdade, que não estava acontecendo. Mas, infelizmente, não dava.

Quando tive coragem de vê-lo, ele estava estabilizado. Tinha tomado um forte medicamento na veia. Mas veio o segundo baque: era preciso interná-lo na UTI pediátrica.
Descobri o quanto essas 3 letras ainda me apavoram. Os velhos fantasmas, que eu quero tanto enterrar, estavam ressuscistados.
Perdi completamente a fé que tanto gosto de trazer comigo. Mais uma vez, achei que estava perdendo meu Caio. E perdi as forças pra lutar.
Quando os médicos terminaram de “acomodá-lo” no leito isolado da UTI e me chamaram para vê-lo, eu neguei. Tive que cavar um restinho de coragem pra ir lá e encará-lo inconsciente, no oxigênio, cercado de fios e aparelhos.

Segurei sua mãozinha e disse baixinho... “Tá bom, meu filho, eu aceito. A nossa história começou exatamente assim, eu segurando uma mão minúscula através de uma incubadora. Se tu quer lutar de novo, vamos lá, eu tô contigo. Eu não tinha me programado pra essa, mas sempre vou estar ao teu lado, meu amor”. Me senti uma fraude, porque não consegui conter a cachoeira de lágrimas, o meu medo de que não íamos conseguir de novo era imenso... Mas foi o que tentei passar pra ele. Ainda assim, não tive coragem de passar a primeira noite lá. Eu precisava achar dentro de mim, bem quietinha, a famosa fé, e ela, naquele momento, parecia fugir alucinadamente de mim... Eu tava muito de cara com meu Pai, puxa como ele podia nos sacanear mais uma vez! Então, tava muito f*da encontrar essa fé... Não consegui dormir a primeira noite, o medo de que o telefone tocasse a cada instante, o vazio imenso que a ausência do Caio trazia.

E para o Yuri foi muito difícil também. Lá fomos nós, mais uma vez, fazer uma gorda mala com roupas, livros e brinquedos. Ia começar o rodízio dele, nas casas de avós, tias, dindas. A insegurança bateu forte nele e ele me perguntava: “Por quantos dias, mãe?”. E, infelizmente, eu não tinha nenhuma resposta.

Um dado que foi essencial, foi o atendimento que tivemos no Hospital Universitário da ULBRA. Um hospital muito bem equipado, com materiais de última geração, mas com aquilo que, acredito, é o mais importante: atendimento humanizado. Na primeira manhã pós UTI, um querido enfermeiro veio conversar comigo, de que o Caio estava estável e me confortar – ele ia ficar bem, as convulsões do tipo parcial que ele tinha tido não costumam deixar seqüelas. Tudo ia dar certo, me disse o Alti. Não era o seu papel "profissional", mas ele nos deu o conforto que tanto precisávamos. E eu consegui conversar com o Caio, apesar de sedado, como eu gosto: confiante de que sim, íamos vencer de novo. Foram 48hs de sedação por conta da forte dor que ele sentia e pela dose de ataque do novo anticonvulsivante, para evitar novas crises. Meu coração estava na mão. Vendo minha preocupação, meu nível de informação e acho, especialmente meu interminável amor – eu cantava, conversava muito com o Caio, o alisava, mesmo sedado – os médicos me ajudavam (eram tantos fios e eletrodos) e ele era posto no meu colo. E é impressionante, quando eu o segurava, seus batimentos cardíacos e níveis de saturação (respiração) ficavam em seu melhor percentual. O médico-chefe olhou para sua equipe e afirmou “Colo de mãe é o melhor analgésico do mundo, cura tudo. Nunca esqueçam”.

Ele ficou mais estável e pôde ser transferido para a UTI Intermediária ou Semi-intensiva. Os níveis do fígado responderam rapidamente, começando a normalizar. A alimentação voltou a ser administrada, mas inicialmente via sonda. Ele ainda estava muito sonado, era hora de começar a reagir me diziam os médicos. E eu estava louca pra tê-lo de volta. E isso aconteceu no terceiro dia. Eu tinha levado o MP4 com sua trilha Cocoricó, para alegrá-lo. Quando ele acordou e sorriu ao ouvir os primeiros acordes de suas musiquinhas, eu chorei muito. Agradecida. Era ele, o meu Caio, que tanto amo. Me convenci mais uma vez de que o amo loucamente como ele é. Prometi à mim mesma que por mais que eu nunca me acomode, não vou mais criar expectativas sobre a reabilitação dele. A maneira como ele me olha, como nos ama, interage conosco, se mostra feliz em família... Isso é tudo que posso desejar de um filho tão amado.

A partir daí, foi um dia melhor do que o outro. Caio me olhava e me dava a certeza de que venceria de novo. Tivemos uma febre, um susto no meio do caminho. Mas ele já não corria mais risco de vida e me enchi de orgulho de sua valentia. Eu conversava com Deus e tentava entender as lições que estava recebendo, mais uma vez. Os médicos todos, unânimes em elogiar o quanto ele é bem cuidado, o quanto ele é esperto e interativo para seu quadro neurológico, o quanto é sadio e forte.

Caio é um menino muito obediente. Pedi à ele que não se "envolvesse" demais com a equipe médica, que sua estadia fosse breve. Inicialmente se imaginava ao menos 15 dias de internação para normalizar o fígado. No oitavo dia, recebemos alta. Caio venceu! Mais uma vez!
Tomara que eu nunca mais precise passar por outra dessas pra aprender um pouquinho mais com esse menino iluminado sobre coragem e amor à vida.

Mas ainda assim, reforcei meu aprendizado.

Não somos nada nesta vida.
Nada é mais importante do que amor e saúde. Nada é mais valioso nem mais urgente.
Meus filhos são meus tesouros e não tenho missão mais importante nesta vida além de ser a mãe deles. Tudo o resto pode vir depois.
Minha casa – que tanto me queixo dela – é o melhor lugar para estar, quando meus filhos estão lá, felizes e sadios.
Minha mãe – apesar de nossas inevitáveis diferenças – é minha grande parceira nos cuidados e no amor ao Caio.
Minha família é imensa. É todo mundo que ligou, orou, mandou torpedos. Sou grata a cada um que ouviu meu choro, compartilhou meu medo, torceu e acreditou que daria certo. Acredito demais na corrente do bem e sei que ela, mais uma vez, fez pelo meu Caio.
Algumas mãos que esperei, não foram estendidas. Tudo bem. Deus mandou várias, muito afetuosas e generosas. Inclusive a Sua própria.
Agradeço termos passado por isto. Foi muito difícil, doloroso. Mas pudemos superar e, por mais contraditório que pareça, me deu ainda mais confiança em nosso futuro. Seremos muito felizes. Caio é amado e sabe disso.

Todas aquelas lições de 2005 foram renovadas.
Saber lidar com o inesperado, sabendo que por pior que possa parecer no momento, é sempre uma oportunidade de aprender e crescer.
Que a saúde é o bem mais precioso, a maior riqueza.
Que os amigos são um forte e necessário esteio.
De que generosidade e humildade nunca são demais.
E que amo, amo, amo demais Yuri e Caio.
Amo-os pra sempre.
Amo-os acima de tudo.
Amo-os incondicionalmente.

Saúde e luz.

É tudo o que precisamos para sermos felizes.
Assim seja!