terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Cordão umbilical

Quando decidi engravidar do Yuri eu não trabalhava fora. Vivi a gravidez e a maternidade com dedicação exclusiva por 1 ano e 10 meses. Recebi muitas críticas por minha escolha, mas foi uma decisão que tomei com muita consciência e alegria e nunca me arrependi dela.

Com o Caio, trabalhei até o início do sétimo mês de gravidez quando, por aconselhamento médico, me afastei por algum pequeno indício de parto prematuro – o que realmente acabou acontecendo 15 dias depois. Com toda a função que aconteceu após seu nascimento eu nem cogitei voltar a trabalhar tão cedo. Metade da minha licença-maternidade ele ficou hospitalizado! E ainda recebi uma recomendação médica do quanto seria interessante se eu pudesse acompanhá-lo mais de perto ao longo do primeiro ano, quando as eventuais seqüelas da meningite poderiam se manifestar com mais intensidade. Pronto, estava decidido.

Mas quando ele completou 10 meses recebi uma nova proposta do meu ex-chefe para voltar ao batente. Os altos custos do tratamento do Caio foram determinantes para endossar o meu sim. Mas combinei meio turno, pois gostaria de continuar acompanhando ele nas fisioterapias e demais especialidades médicas que fazem parte da sua rotina.

Agora, por conta do novo cargo, estou prestes a começar, daqui a dois dias, a trabalhar em turno integral. Estou feliz por um lado, é um grande desafio, uma oportunidade profissional muito boa. Mas estou dividida. Minha forte tendência a me culpar por todas as dores do mundo me dilaceram. Estou sentindo como se estivesse abandonando meu pequeno e indefeso bebê.

É um clássico dos desenhos infantis, o anjinho e o diabinho conversando contigo, cada um te dizendo a (sua) melhor maneira de agir:
“Ele vai continuar em casa, sendo cuidado pela avó, que o levará às terapias e tudo o mais”.
“É, mas vocês sofreram tanto para poderem estar juntos e tu vais passar apenas 3 horas do teu dia com os filhos que colocaste no mundo”.
“Uma mulher realizada em todos os sentidos, inclusive profissionalmente, será uma mãe muito melhor”.
“Será que ele vai continuar te amando ao sentir esse teu afastamento?”.

Enfim, está sendo difícil para mim cortar o cordão umbilical que me liga ao Caio e que foi tão reforçado pelas intensas experiências que já vivemos juntos. Quero muito fazer um trabalho legal, ter meu nome reconhecido em minha área, é um sonho de infância. Mas ser mãe sempre foi meu desejo ainda maior... Conseguirei conciliar as duas coisas?

Estou dividida. Entusiasmada com as oportunidades de crescimento que estão surgindo a minha frente. E temerosa de que minha ausência reflita em queda de qualidade e amor na relação que tenho com meus filhos. Mas preciso acreditar que tudo o que eu, o Yuri e o Caio construímos até hoje são laços imensamente mais fortes do que o singelo cordão ao qual tento me agarrar.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Não me leve à mal, hoje é Carnaval...

Adoro internet, amo meu blog, tenho paixão por minhas amigas virtuais... Mas vou me desconectar um pouquinho até o próximo dia 26, enquanto curto a minha família na praia. Na volta, certamente muitas fotos e histórias novas das crias pra contar.
Bjs, e que o seu Carnaval tenha exatamente aquilo que você precisa: muita folia, muito descanso, muito trago e festa, muita “lagarteada” na beira da praia ou a cidade toda deliciosamente vazia... de qualquer forma, muita paz e muito amor, sempre.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

O que vale na vida

Ontem o dia foi uma m#@%! Profissionalmente, pessoalmente, “familiarmente”. Cheguei em casa exaurida, com dor de cabeça, querendo que o mundo acabasse. Mas aí alguém, de pouco mais de 1,20m de altura, me deu um beijo delicioso, quentinho e fofinho igualzinho a ele mesmo. E outro alguém, com humildes 87 centímetros, sorriu demonstrando todo o seu contentamento pela minha chegada e disse “A mamãe”.

A fisioterapeuta do Caio estava de férias nas últimas 4 semanas, estávamos com uma substituta (muito bacana e competente, por sinal). Daí que hoje, na segunda sessão do seu retorno, a Thaís me comenta o quanto o Caio evoluiu em tonicidade muscular e coordenação motora neste período. Eu noto sim, mas não na grandeza que ela comenta.

Ótimos exames de controle do Caio, que também vive um bom período imunológico (mais de 45 dias sem febres, nem antibióticos, nem dores desconhecidas), uma importante evolução de desenvolvimento. O carinho quente e reconfortante dos meus dois filhos.

É, a vida pode ser boa.
O resto é apenas isto: o que sobra (e nem sempre importa tanto assim).

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Se todos fossem iguais à você...

Houve um tempo em que tudo o que queríamos, eu e o Sandro, é que o Caio fosse igual às outras crianças. Hoje sei que as outras crianças podem ser muitas.

Primeiro, gostaríamos que ele não tivesse ficado tanto tempo internado na UTI, que tivesse fotos de recém-nascido “normais” como a de qualquer bebê, que não tivesse cicatrizes de cirurgia em seu corpo, que não tivesse um dreno junto ao cérebro. Depois, queríamos que ele sentasse, brincasse com suas mãos. Mais recentemente queríamos que ele estivesse falando bastante e correndo pela casa. Mas ele não é assim, e ainda assim (ou exatamente por ser assim) ele é muito amado, é o filho querido que Deus nos designou.

Na última visita à neurologista, enquanto o Caio estava dentro do consultório, minha mãe aguardava do lado de fora. E chegou um casal com uma filha de 3 anos, com paralisia cerebral grave, sem reações a estímulos externos, que não consegue sentar e com uma escoliose acentuadíssima. Minha mãe ficou conversando com eles. Quando o Caio saiu do consultório, mandando beijos e dizendo “nenê”, a mãe da menina levou as mãos ao rosto e disse “Ah, mas ele é muito evoluído. Ele interage, ele quer conversar, ele estica o pescoço. Ah, se a minha Brenda pudesse ser como ele...”.

Aquilo ficou martelando na minha cabeça. “Se ela pudesse ser como ele”.

Foi preciso mais de um ano para que certos sentimentos e expectativas fossem amadurecidos em nossos corações. Hoje, apesar de cultivarmos algumas pequenas certezas e muitas esperanças, sabemos que o Caio é como ele é, assim como eu sou como sou, e cada ser humano simplesmente é, com suas individualidades, imperfeições e qualidades. Fico triste pela mãe da Brenda, mas não a critico, sei que não é fácil. Rezo diariamente por elas para que saibam encontrar a luz em cada situação espinhosa. Que elas possam se descobrir mutuamente e ultrapassar as barreiras impostas pelas deficiências. E que aí sim, possam almejar exatamente o mesmo que eu. O caminho não foi florido, mas depois de tantas lições ganhas, hoje não quero que meu filho seja igual, nem melhor, nem pior do que ninguém. Quero apenas que ele seja feliz. E agradeço à Deus todos os dias a oportunidade que temos de tentar.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

O susto e o prejuízo

Enfim, baseado no post anterior: provavelmente precisarei de um carro novo. Ontem, ao voltarmos de uma ótima avaliação oftalmológica em Porto Alegre, com o Caio e o Yuri no banco de trás, a 4 quadras da minha casa, um carro fez uma ultrapassagem barbeira e nos acertou em cheio... Acabou com a roda e seu eixo, metade do capô e metade da porta dianteira do meu humilde, porém sincero e eficiente, Gol 96. O susto foi grande, as crianças choraram muito (especialmente o Yuri, que estava ainda impactado com a notícia da morte do menino de sua idade no RJ e acabou ingênua e errôneamente relacionando os assuntos), eu mesma achei que o carro ia pegar fogo.
Felizmente, fora uma batida no meu joelho esquerdo no painel frontal e o "ataque de nervos coletivo", estamos são e salvos. Nós. Porque meu pobre Gol vai se finar esperando conserto - não temos seguro, o motorista que nos bateu não tem nem IPVA em dia, nosso orçamento provavelmente não comportará o prejuízo. Ainda assim, o carro seguiu guinchado pra uma oficina de um amigo pra tentar ver o valor do estrago.
Sei que o prejuízo material certamente é sempre infinitamente menor que o físico - as crianças não tiveram sequer um arranhão... mas que eu tô bastante chateada, ah, isso estou... E se não sobra $$$ pro conserto, imagina pro meu sonhado carro novo. Vou ter que intensificar minhas apostas na Mega Sena...

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Momento consumista

Das coisinhas (outras nem tão “inhas” assim) que quero adquirir nos próximos tempos:

● um relógio novo, beeem bonito
● umas duas bolsas, grandes
● uma cama de solteiro (adulto) pro Yuri (a dele ainda é infantil)
● um álbum de fotografias para organizar as minhas
● um óculos de sol bem charmoso
● duas TVs novas para os quartos
● uma casa
● um carro novo (não zero, porém mais novo que o meu atual)

Bem, com o andar da carruagem das minhas finanças, os desejos com maiores chances de se concretizarem mais rapidamente são o álbum e os óculos ou uma bolsa... Mas tudo bem, desejar já é o primeiro passo!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Eu não fui à praia

Esse final de semana foi feriadão em quase todo o Brasil. Aqui também. Daí que eu tinha convites pra ir à praia, mas não me empolguei muito. Deu preguiça ao pensar em toda a tralha que ainda tenho que carregar em função das crianças, o fazer e desfazer malas. No final das contas, minha escolha se mostrou muito acertada.

● A cidade ficou vazia e, com toda a calma do mundo, pude comprar bem tranqüilamente o material escolar do Yuri.
● Meus dois filhotes colaboraram horrores e pude dormir todos os dias até depois das 9h30 da manhã (o que não acontecia há pelo menos dois meses).
● Fiz sorvetes, brincamos bastante na piscina e não sentimos falta da areia.
● Pude cochilar no meio da tarde, deixar a cama desarrumada o dia inteiro, assistir filme enquanto a louça esperava sem pressa na pia.
● Ganhei doses e mais doses de beijos e risadas.

Pra mim foi o feriado ideal, sem stress, sem compromisso, sem disputa de espaço. Dele, tirei duas conclusões:
1. Acho que estou ficando velha, mais coruja em meu ninho, menos baladeira.
2. Eu preciso de muito pouco para ser feliz.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Fé e amor que curam

O último eletroencefalograma do Caio mostrou uma atividade cerebral absolutamente normal e adequada para a idade. Este exame, somado à tomografia de agosto último, que evidenciava uma neuroplasticidade de mais de 75%, conduzem o Caio a uma vida normal e independente nos próximos anos. A partir dos laudos desses exames, não há NADA a impedir seu desenvolvimento motor e cognitivo.

Há pouco mais de um ano, tudo e todos (exames, laudos, equipe médica) conspiravam contra nós e os prognósticos eram os piores possíveis. Mas, após ser descartada a segunda cirurgia craniana, nasceu em meu coração uma convicção que se tornaria meu mantra pessoal: A FÉ TUDO PODE, O AMOR SEMPRE VENCE.

Hoje, o coração de toda a nossa família festeja. Nossa fé e amor valeram cada lágrima derramada, cada angústia vivida. O Caio já venceu.

O futuro é incerto a todos. Mas hoje ele nos sorri mais do que nunca. Com toda a força, doçura e alegria de uma linda criança.



“Queira,
Basta ser sincero e desejar profundo
Você será capaz de sacudir o mundo”

(Tente Outra Vez – Raul Seixas)