Eu ia escrever este texto o Brasil ganhando ou perdendo a
Copa.
Perdeu feio. Acho que, para o que eu quero dizer, é até
melhor.
Eu fui contra a realização da Copa. Acho sim que foi um
desperdício de dinheiro público, uma roubalheira descarada, mais uma
oportunidade para o favorecimento ilícito de um seleto grupo de políticos e
empresários. Mas a partir do momento em que a Copa ficou sacramentada em nosso
país, acho sim que nosso dever, como anfitriões, era fazer o melhor. Era
receber civilizadamente, era torcer para fazermos bonito porque não é a derrota
da Seleção que vai expor ao mundo as graves mazelas do Brasil. Delas sabemos
muito bem. E delas, somos NÓS que temos que dar conta.
Eu amo meu país. Fico realmente emocionada com estes
comerciais que conclamam o povo a ser unir em torno deste amor. Mas eu também
me envergonho do país que NÓS estamos construindo. Conheço de pertinho seus
defeitos, sua ineficiência, sua desigualdade. Eu, particularmente, como mãe de
uma criança com deficiência, sei muito bem quão desumano, burocrático, inócuo e
injusto ele pode ser. Só que no fundo, a culpa é toda nossa. Sempre é.
Somos os autores de nossa própria história. E fortalecemos
tudo de ruim que há em nossa cidade, em nosso estado, quando envolvemos nossas
atitudes com o jeitinho brasileiro e nos orgulhamos de levar vantagem. Quando
furamos a fila. Quando conseguimos um benefício à frente de outrem pelo famoso
Q.I. (quem indica). E, principalmente, quando seguimos delegando o poder a quem
não está sabendo nos representar. A grande manifestação por toda a nossa
insatisfação, replicam nas redes sociais, deve vir nas eleições de outubro.
Concordo. E te convido a esta reflexão.
O governo está ruim? Muda teu voto, escolhe outro candidato,
outro partido. É teu direito. Mais do que isso: é teu dever! Mas de nada
adianta ser um alienado fora do período eleitoral. Ser politizado não é questão de formação, de status social ou acadêmico. É conscientização e participação. Devemos ficar de olho
sempre. Em quem elegemos. No que estão fazendo com nosso dinheiro, em nosso
nome. Devemos denunciar sempre que formos vítima de alguma injustiça – seja ela
em que esfera for. Devemos lutar por nossos direitos – por mais básicos que
eles sejam ou por mais árdua que pareça essa luta. Não podemos ficar dois ou
quatro anos acomodados e aí, seis meses antes de retornar às urnas, começar a
bradar que está tudo errado – como se fôssemos técnicos palpiteiros apenas em
época de Copa do Mundo. A vigilância deve ser constante. Nossa atuação cidadã
também.
Queimar bandeira (o jogo nem terminou enquanto escrevo e já
tá rolando foto disso no Facebook), vaiar jogadores, fazer quebra-quebra não
vai acrescentar nada! O circo não se resume à Copa, nossa responsabilidade não se resume a anos eleitorais. Que possamos usar nossa energia – seja ela de amor ao
País, de tristeza pela Copa perdida ou de indignação ao que alguns chamam de
circo armado – para escrever essa história como tem que ser. Com orgulho de ser
brasileiro porque estamos sabendo fazer nossa parte com consciência e
responsabilidade – nas urnas e todos os dias, como pessoas de bem.