Eu sempre digo que sou uma mãe que sonha tudo para seu filho, independente (ou apesar) de sua deficiência. Mas, não é bem assim. Em alguns episódios, já pude perceber que às vezes eu "subestimo" a capacidade do Caio.
Como sou metida a buscar razões em tudo, fico pensando porque faço isso. A terapeuta ocupacional dele diz que é superproteção de mãe. Que eu gosto de tê-lo assim, bem embaixo da minhas asas, dependente de mim. E que este comportamento não tem ligação com a paralisia dele, mas sim com meu sentimento de dominação. Será? Eu penso que eu quero sonhar tudo, mas também tenho medo de sonhar demais e me decepcionar. E frustrá-lo com as expectativas que, afinal, fui euzinha aqui quem criou.
Não dá para saber.
Mas a real é que meu filho é maior que tudo essa confusão de sentimentos, relação mãe e filho e psiquê. Ele sempre me surpreende.
O episódio do cocô é um claro exemplo disso. Caio usa fraldas e eu nunca cogitei algo diferente. Para mim era natural e esperado que, como não caminha, não pudesse controlar suas necessidades fisiológicas. Fraldas a vida inteira me parecia o caminho óbvio e inquestionável.
Até que Caio começou a apresentar, sem explicação, alteração nos hábitos alimentares, ou algo que o valha, uma constipação crônica horrível. Não havia laxante ou supositório que o ajudasse. E ir ao hospital para fazer o esvaziamento do seu intestino se tornou parte da nossa rotina. Até que um belo dia, não consigo lembrar o contexto, por mais que me esforce, levei o Caio ao vaso sanitário. A partir daquele dia, ele nunca mais teve constipação! Passou a usar o wc quase com pontualidade britânica. Salvo uns dois episódios de indisposição intestinal, ele nunca mais fez o "número 2" na fralda.
A dificuldade maior é que ele não consegue pedir para ir ao banheiro. Vez ou outra sinaliza sua impaciência, bate as pernas. Mas, na maioria das vezes, ele espera que eu o leve e, nos horários que o levo, ele faz o serviço.
Tudo isso, me apontam seus médicos, é sinal de uma grande maturação cerebral e física. Comemoramos! E aí eu já estava satisfeita que só.
E agora, começa tudo de novo. Caio chora toda vez que vai colocar as fraldas. Mais que isso: reclama, "me xinga". Algumas tardes, passa o tempo com elas secas. Em outros dias, não. Mais uma vez, eu não estava preparada para isso...
Caio quer usar cuecas. Para que ele não chore tanto, a tática agora é a seguinte: tiro a fralda molhada (ou não) e coloco a cuequinha. Elogio ele por não ser mais um bebê e sim um rapaz... Ele fica feliz que só. Deixo um tempo assim, aí enrolo, brinco e colocamos a fralda outra vez. Mas, ao que tudo indica, o que era impensável para mim, pode vir a acontecer. Quando o inverno passar, a monitora da escola disse que vai fazer um intensivão com ele e me ajudar no desfralde, porque Cainho indica que está pronto.
E eu, mais uma vez, sigo aprendendo com esse meu mocinho... Aprendendo a apostar, a não ter medo de acreditar e ser feliz.