sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Um vídeo para transformar olhares

Quem nos acompanha, sabe... Eu me cobro e me chateio por não atualizar o blog tanto quanto gostaria. Existem épocas que parece ter "pauta" diária. Sempre algo novo que eu quero contar, compartilhar... Mas, esse patamar, meu quadro evolutivo já alcançou: se não dá tempo, é porque a vida está correndo, está acontecendo, intensa como deve ser.

Eu tive um outubro lotado de encomendas de docinhos; um novembro abarrotado de TCCs para formatar; comemoro a vitória do meu vereador Dario Silveira nas eleições e redijo um planejamento para ele, para conversarmos sobre projetos futuros que contemplem a inclusão e a acessibilidade cada vez melhor em nossa cidade; e, quando sobra um tempo, ainda faço (fiz) uma pequena cirurgia facial, onde tirei um cisto e corrigi algumas pequenas imperfeições, tô me sentindo mãe-gata (a loka!). Mas, vamos ao que interessa:

A equoterapia está sendo um sucesso. Caio já tem "outro pescoço", com um controle muito melhor. E ama, ama, estar lá na Hípica. Coisa que me deixa feliz é realizar sonhos (como este) e ver que a realidade é tão bacana como a que eu sonhava pro meu filho.

A mesma coisa acontece na escola. Caio ruma à formatura na Educação Infantil (e eu já vivo com os olhos marejados, misto de emoção, saudades antecipadas e gratidão eterna), mil coisinhas bacanas acontecendo no encerramento de ano escolar dele (isso rende um novo post futuro). Ao mesmo tempo, vai firme, forte e feliz nas manhãs de adaptação na escola de Ensino Fundamental. Já briga na hora de vir embora e este é, sem sombra de dúvidas, o melhor termômetro do quanto ele está sendo bem tratado, se sentindo verdadeiramente inserido. 

E nossa história de inclusão vai tão bem, obrigada, que Caio e sua turma foram convidados a se apresentarem no III Seminário Nacional de Educação Continuada e Diversidade e X Seminário Municipal de Formação, onde sua professora Eliane palestrou sobre a experiência de inclusão de todos com Caio na EMEI Vó Corina. Nem preciso dizer que morri de orgulho e felicidade, né? Acho que poucas coisas na vida podem ser mais gratificantes do que ver que nossa luta pessoal há muito deixou de ser só nossa, mas de um grupo que aposta e trabalha pela igualdade como um todo.

Eu, mãe metida sempre, me convidei e fui junto assistir. Gravei (ok, não é profissa, porque não sou e ca-la-ro que me emocionei horrores). E o resultado foi um vídeo bem bacana. Longo (28 minutos), mas que está bombando na internet entre quem tem que bombar: professores, profissionais de pedagogia e inclusão. É um exemplo. Não digo isto com superioridade, mas com a alegria de quem aposta em tentar e em fazer com amor. Como eu, como as professoras da vó Corina, como Caio e seus colegas.

Quem quiser perder (oi?) tempo e ganhar uma nova visão sobre inclusão na prática, tá mais que recomendado!




sábado, 10 de novembro de 2012

Apostas

Ontem recebi o aviso oficial que Caio só fará mais um mês de hidroterapia e receberá alta. É de praxe e eu até estava esperando que acontecesse. Infelizmente o sistema público de saúde não tem como absorver toda a demanda de pacientes em busca de reabilitação física. E então é feito um esquema de "rodízio". Caio já está na ACADEF (Associação Canoense de Deficientes Físicos) desde 2008. Na hidro, ele foi escalado para a primeira turma, em outubro do ano passado. Então, agora, dará vez, por pelo menos seis meses, para outra criança. Seguirá com as sessões de fisioterapia convencional.

Racionalmente eu entendo. Me coloco no lugar de quem está na angustiante fila de espera para iniciar um tratamento. Mas emocionalmente, fico insegura. A hidroterapia, especialmente, é uma das atividades mais prazerosas ao Caio. E, por isso mesmo, me parece uma das que mais pode trazer bons resultados, visto que ele se empenha para exercê-la.

Esse acontecimento comum - e, como disse, até mesmo esperado por mim - na rotina de quem faz reabilitação contínua - me levou a uma reflexão bem mais profunda (ou viajante....). Um dos meus maiores receios que tenho é o de encontrar profissionais que não "apostem" no meu Caio e em suas possibilidades. E não foram poucas as vezes em que virei as costas e abandonei médicos e tratamentos por conta dessa "falta de ousadia" deles.

Ainda nos primórdios de nossa história, encontrei um neurocirurgião que me dizia o tempo todo que eu não devia esperar nada do meu filho. Que ele jamais teria capacidade cognitiva, de interação, sequer de movimentos... E aí eu deixei foi de ir neste médico. Porque se tem uma coisa a que me proponho nesta vida é justamente o contrário proposto pelo tal doutor. Eu espero tudo do meu filho. Aposto alto. Jogo todas as minhas fichas. No princípio, a aposta vinha do desconhecimento do quadro verdadeiro dele. Depois, veio da negação do nível possível de comprometimento. Hoje, acredito que estou 100% consciente de tudo. Das prováveis limitações. Das dificuldades. Das incertezas. Mas eu ainda quero apostar nas possibilidades. Porque são elas que Caio desafia, a seu tempo, do seu modo.

As conquistas mais recentes acontecem justo onde mais me desestimularam e onde eu sempre mais quis acreditar e por onde mais rezei: na fala e no desenvolvimento cognitivo.  A deficiência física passou para segundo ou terceiro plano pra mim. Tenho conseguido, a meu modo e contrariando quem contraria a minha forma de pensamento, que Caio cresça e perceba o próprio crescimento, se tornando cada dia um menino mais alegre, mais feliz, mais atuante em seu grupo. Recentemente, rompi uma relação médico-paciente-família de mais de quatro anos. Tudo porque o médico entrou na zona de acomodação, do "é assim mesmo"... E não me arrependo de minhas novas escolhas.

Não é que eu indique isso substancialmente a toda mãe. Mas eu ainda acho que sim, temos o dom de saber bem - ainda que não tenhamos o estudo para tal - das possibilidades de nossos filhos. Tento manter os pés no chão. Me preparo para as limitações. Para que  um dia venha o veredito de que já trilhamos todo o caminho que tínhamos a explorar. E que não haverá mais nada a fazer, senão aceitar. Mas, por enquanto, eu sei que não é agora.  Agora é tempo de arriscar, de tentar, de não sossegar o facho. Caio é minha loteria, meu prêmio de obstinação. No seu tempo, do seu jeito, ele vai ganhando o mundo. E eu ganhando a certeza de que minhas apostas nunca serão em vão.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Quem disse que seria fácil?

Eu já sei - e sempre digo - que sou minha pior carrasca. A pessoa que mais me julga (e o faz impiedosamente). Nos últimos tempos (este ano), especialmente ao longo deste último mês, me sinto numa tristeza grande ao achar que estou falhando como mãe - que afinal, é ao que tenho me dedicado quase full time.

O que eu quero dizer é que não tem sido fácil ser mãe de um adolescente. Na lista de mea culpa, estão minha impaciência com as bobices típicas da idade, minha intolerância com a preguiça-mor que invade o corpo do meu filho. E por mais que eu saiba que são coisas "normais" desta fase, me chateio porque os defeitos prevalecem sobre os valores que tentei passar. Ou seja: eu também fui uma adolescente boba (menos que os atuais, eu acho), preguiçosa, insolente. Mas a autoridade da minha mãe era maior do que as minhas vontades. E não era por medo de castigo, de apanhar (coisa que nunca aconteceu). Era por respeito a ela, a sua trajetória como minha mãe, a sua dedicação, a nossa relação como um todo. E quando não vejo meu filho repetir esta minha linha de pensamento, eu tenho a certeza de que, em algum ponto, eu estou falhando gravemente. 

Daí não sei dizer se é o cansaço natural do dia-a-dia, a minha porção estressada e perfeccionista por natureza... o fato é que me irrito, e brigo, e xingo, e grito, e falo o que não quero falar. E em seguida já estou ajoelhada no milho, me autoflagelando por tamanho pecado - o da mãe que não tem paciência com os filhos 100% do tempo.

Penso no lado do meu filho. Penso no quanto ele é uma pessoa boa. Nas qualidades que têm, que acho tão importantes e tão em falta nos dias de hoje. No quanto é solidário, em como se preocupa e se emociona com o bem estar do próximo, mesmo que ele nos seja um desconhecido. Já vi seus olhos marejarem ao verem alguém pedindo comida na rua e já presenciei ele querendo doar a roupa do próprio corpo para outro. E essa solidariedade, essa capacidade de doação me parecem tão conflitivas com o legítimo aborrescente que tenho em casa... Que penso que a aborrescência, passa, mas eu não gostaria de que ele perdesse essas virtudes que fazem dele um rapaz lindo também por dentro.

É, tá sendo phoda impôr limites e respeitar sua individualidade ao mesmo tempo. Aceitar de que os tempos são sim, outros. Que a geração dele pensa muito diferente da minha. E que mesmo que ele tenha sido gestado dentro de mim, ainda assim é uma pessoa à parte, com sua natural singularidade. 

Tenho medo de em algum ponto estarmos nos perdendo em nossa relação. Acho que não sei ser nem bem a mãe-autoridade (não autoritária), nem bem a mãe-parceira... Boto esta reflexão na mesa com a esperança que lê-la, relê-la, racionalizá-la, me faça ir por algum caminho que me pareça o mais acertado. Mas, à medida que os filhos crescem, eu realmente me pergunto: alguém disse que seria fácil?