terça-feira, 30 de agosto de 2016

A palavra é o meu destino

Eu aprendi a escrever sozinha, aos cinco anos de idade. Guiada pelo dedo indicador de minha mãe, que me lia gibis em seu colo, fui linkando as letras e formando as palavras. Quando ingressei na escola, aos seis então, eu já estava mais do que familiarizada com elas, apaixonada. E decretei: quando crescer, vou ser escritora.

Aos 10 anos, já com uma coleção de poesias e textos autorais, além de uma grande intimidade em leituras diárias com o jornal Correio do Povo em seu tradicional formato tablóide, escolhi a futura faculdade: Jornalismo. Escolha esta que, ditada pela alma livre dos meus 17 aninhos - quando da inscrição para o vestibular - virou Publicidade, pois eu desejava maior autonomia criativa a meus textos.


No caminho, desvios, decepções... e eu parecia me afastar do destino traçado por aquela menina de cinco anos. Em 2004, no auge da frustração profissional, criei meu primeiro blog. Neles, liberdade para minhas crônicas e ideias, traduzidas em palavras. Confesso que este primeiro blog, tinha apenas três leitores assíduos e fiéis. Hoje tenho convicção, mais pelo generoso afeto de suas amizades para comigo do que propriamente por meu talento literário.

Em 2005, nasceu Caio, meu segundo filho. E sua chegada um tanto conturbada - fruto de uma gravidez não planejada, prematuro, risco de vida, pai do outro lado do planeta - foi a mola propulsora para que, mais uma vez, eu me agarrasse às palavras. Fiz do blog meu diário, meu primeiro grande terapeuta, meu confidente, durante os 55 dias que Caio ficou na UTI Neonatal. E eis que um dia, recebo um email, de uma moça, se identificando ser de Campinas, que tinha lido minha história, estava solidária ao que eu passava, torcia por Caio. E chegou outro email, de outra moça, de Minas Gerais. E outro, de São Paulo. Do Rio de Janeiro. De Portugal! Dos Estados Unidos! Como assim? O que tinha acontecido? No fundo, eu sabia a resposta, desde o início. Ainda que fossem textos de caráter extremamente pessoal, minhas palavras tinham tocado o coração das pessoas.

E contextualizem este alcance, em tempos que as redes sociais engatinhavam. O finado Orkut era bebê. Não haviam os compartilhamentos de posts e tantas outras facilidades digitais. Internet banda larga ainda era raridade. Pois meus textos me linkaram a pessoas. Criaram laços de afetos e oportunidades. De viagens. De trabalho. De ajudas a meu filho.

Para quem não sabe, está chegando agora, meu filho caçula tem paralisia cerebral. E por conta disto, fiquei sete longos anos afastada do mercado publicitário. Deixei de ser redatora. Mas nunca deixei de escrever.Entre meus hábitos, ter sempre à mão, uma pequena caderneta e um caneta. Uma paisagem vista de dentro do ônibus. Uma situação cotidiana. Um pensamento. Tudo pode virar inspiração com uma necessidade urgente e quase imediata de se transformar em palavras. Sim, sempre elas... As palavras. Que me trouxeram ao lugar que estou, que me fizeram ser quem sou hoje.





E quem eu sou hoje? Ainda uma aprendiz da vida. Ainda uma apaixonada pelas palavras (ainda bem!!!). Nascidas em meus textos, elas hoje tomam minha voz. E falo sobre como cheguei até aqui. Falo do que vi da vida. De uma trajetória que nem sempre me sorriu, mas que eu decidi sorrir pra ela. Falo sobre vencer a si mesmo. Sobre a felicidade como escolha e como hábito. Sim, eu recebi apoios, procurei ajudas, não andei sozinha. Mas a iniciativa transformadora sempre partiu de mim. 





Eu sou a autora de minha própria história.
E a palavra é o meu destino.

Sejam bem-vindos à nova fase do Meus Frutos!