sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Meu guri nota 10!

E então, segue o parecer descritivo do segundo trimestre do Caio, no primeiro ano do Ensino Fundamental.


Muita alegria ao ver que perseveramos na busca, primeiro, pelo ensino regular. Novamente dou total abertura para que a professora me oriente, caso Caio não tenha aptidão para estar numa escola regular, caso ela perceba que ele teria melhor aproveitamento numa escola especial. Lhe confiro a confiança em sua autoridade como pedagoga. E ela me afirma, sem titubear: Caio está exatamente onde deve estar. Aprendendo, se esforçando, interagindo com os colegas, participando das atividades, ultrapassando os limites que a paralisia cerebral lhe impõe. 

Em especial, duas passagens do parecer me emocionaram em particular: "Muitas vezes, durante as histórias começa a falar alto, precisando ser chamada sua atenção para que espere o momento de conversas para expressar sua opinião!". Ou seja, é comunicativo, tenta falar apesar das limitações... e como a grande maioria das crianças, é tagarela!

"Nas atividades gráficas, em que ele utiliza muito esforço para executar pois nega auxílio dos colegas e professoras...". A profe me conta que ele chega a precisar de um cochilo de alguns minutos nestes momentos, tamanho o seu cansaço! Não seria mais cômodo aceitar a ajuda dos colegas? Com certeza! E aí morro de orgulho de ver tanta determinação neste guerreiro, como tão acertadamente o  chamo desde que o vi pela primeira vez... Em como ele luta pela autonomia que eu tanto desejo que ele tenha.

Corujice descontrol à parte, é nota 10 este meu guri! E realmente, como vale à pena insistirmos na inclusão escolar. Sigo afirmando: Caio ganha, Caio cresce. Mas certamente, ganham ainda mais os que tem o privilégio de caminhar junto com ele por essa estrada.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

E lá se foi o Primeiro Ano...

Daqui a pouquinho, estou indo à escola do Caio receber o parecer descritivo do segundo trimestre. Já estamos a pleno vapor no terceiro, quando nos dermos conta de novo, já foi, já acabou o primeiro ano do ensino fundamental. Então, ainda sem a "influência" de ler o parecer ou conversar com a professora, quero deixar aqui a minha avaliação sobre como temos ido - escola, Caio, família - até agora.

Procurando aqui mesmo nos arquivos do Meus Frutos, relembrei todos os detalhes de um começo extremamente difícil... A mudança da educação infantil para o ensino fundamental foi, como lá no fundo a gente sabia, um choque. Mas eu reafirmo: desistir não é comigo e, no mesmo post que fiz minhas lamentações, eu previ: vou voltar e escrever uma história diferente. E é com alegria no coração que eu retorno hoje.

Erna Würth é hoje a escola do Caio! É onde ele tem suas profes, seus colegas, seus amigos e onde está aprendendo, desenvolvendo suas capacidades. Corujice à parte (dificílimo ter opinião isenta), meu filho é cativante. Conquistou afetos e espaços. Vi profissionais da escola, que o olhavam com uma resistência inicial, se renderem. E não os culpo, porque acompanhei bem de pertinho, no dia a dia, este processo. Pude entender que, na imensa maioria das vezes, essa resistência vinha do pré-conceito, de um conceito estabelecido erroneamente por pura falta de conhecimento, de oportunidade em conviver com o diferente. Ainda bem que esta consciência eu sempre tive: estamos aqui (na escola, na sociedade, no mundo) para aprender E ensinar. Pudemos mostrar que a paralisia cerebral não é um bicho de sete cabeças. Que um corpo com pouca coordenação motora não representa necessariamente problemas cognitivos. Que igual a qualquer pessoa, o deficiente tem suas potencialidades.




Aceitação geral à parte, Caio se adaptou muito bem à rotina escolar. Como acontecia na educação infantil, ele passou a sentir falta da escola quando não havia aula ou não íamos - por chuva forte ou outra intercorrência. Demonstra grande satisfação de estar no ambiente escolar. A professora me contou (ao longo do primeiro semestre), que ele se mostra cada vez mais consciente de que está ali para cumprir tarefas e se esforça para realizá-las. Eu vejo isso em todo o nosso cotidiano e fico extremamente gratificada. A palavra é exatamente esta: Caio tem cada vez mais CONSCIÊNCIA de sua capacidade de superar os próprios limites e como ele pode interferir / interagir com o meio. 

Sei que ele será automaticamente aprovado, por questões de legislação referente ao primeiro ano. Não concordo muito com essa prática, mas isso é assunto para outro post. De qualquer forma, tenho cobrado da professora que quero que ele tenha aproveitamento, desenvolvimento. Sei que nem seu ritmo nem sua forma de aprendizagem é igual ao da grande maioria, mas não o quero na escola regular apenas porque é lei ou para figuração. Quero ele inserido onde tenha mais ganhos para si próprio. E ele tem nos dados respostas muito satisfatórias.

Para 2014, acredito que poderemos contar com o Livox para auxiliá-lo em sala de aula. Estou me movimentando para poder fazer o treinamento que terá em Porto Alegre mês que vem e com certeza uma ferramenta desse porte pode acrescentar muito no processo de aprendizagem do Caio, pois lhe possibilitará uma comunicação mais ampla. Sonho (e como não costumo sonhar pequeno né?) em criar um projeto-piloto para, quem sabe, a Secretaria de Educação adotar o Livox para alunos de inclusão da rede municipal. 

Entre as metas que ficaram para 2014 e, óbvio, não vou desistir, está a monitoria e a implantação do elevador. Por enquanto está tudo bem com a turma de Caio implantada no térreo. Mas, como eu luto e acredito, a verdadeira inclusão lhe permite acesso a TODOS os espaços escolares. E, se ele vai ficar, no mínimo mais 8 anos lá, a peleia vai continuar! Sobre a monitoria, também insisto: eu não tenho que ficar à disposição dele na escola, em horário integral! A escola é um espaço DELE, não meu. Sou coadjuvante neste espaço e é assim que deve ser.

No âmbito de só alegrias, fica o assunto colegas / amigos. Caio conquistou muitos! As crianças me vêem chegar e já há uma grande disputa sobre quem pode ajudá-lo, quem vai lhe dar o lanche, que vai empurrar a cadeira. Percebo que para eles estar com o Caio não é um favor ou algo assim. É um prazer. Eles me contam felizes, a cada final de dia, os progressos, as interações que Caio fez. Questionam angustiados quando Caio não vai, comemoram quando ele chega. E isso é extensivo a crianças de outras turmas, de outros anos inclusive. Como o amigo Ryan, do segundo ano, que vem seguidamente conversar com ele no pátio ou no refeitório. Insisto: aposto com muito amor e alegria nesta geração futura, despida de preconceitos.



Olho pra trás e respiro aliviada: que bom que estamos no caminho certo! Que bom que não desistimos! Hoje vejo a escola com carinho, com o potencial de quem quer e pode ser maior! É uma escola que luta, num bairro também tomado pelo preconceito (cada vez menos, mas fruto de um grande trabalho), para que a comunidade entenda cada vez mais a importância da escola na formação do ser humano. Uma escola municipal que aposta num projeto pedagógico diferenciado, baseado na Escola da Ponte. Ali existem profissionais que colocam carinho em cada detalhe. E este diferencial é tudo quando se trata de educação - para ensinar, para dar limites, para fazer a diferença nos corações dos pequenos em formação. Dia desses, enquanto aguardava o horário da saída do Caio, vi uma cena que ilustra muito bem o que quero dizer: a diretora, vista como brava e autoritária (e, graças a Deus, ela o é nos momentos precisos), saiu de sua sala, deparou-se com um aluno "perdida" e perguntou: "mas o que fazes aqui, que não estás na sala de aula? já pra aula ou vou te pegaaaaarrr..." e saiu correndo atrás da criança como um "bicho-papão". Autoritária. Mas com o carinho que, afinal, as crianças precisam.







A propósito, fui convidada pela própria direção para ser uma das representantes dos pais no grupo que vai discutir diretrizes e metas para o ano que vem. Fico feliz em achar que posso colaborar. Em ter essa abertura na escola. 

Caio ruma a concluir o primeiro ano do Ensino Fundamental e eu acho que até agora, passamos por média. Que venha o segundo ano, que venham mais desafios. Vamos seguir tentando aprender. E ensinar. Porque é dessa troca que é feita verdadeiramente a vida.