quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Pra frente é que se anda

Então que o ano virou, chegamos a 2016. Ano do décimo primeiro aniversário do Caio, do décimo primeiro aniversário do Meus Frutos. Como já compartilhei aqui em outros momentos, não é mais meu diário, como foi por tanto tempo. Gratidão imensa tenho a este espaço que foi meu amparo por tanto tempo... Meus Frutos pra mim é uma entidade, quase uma pessoa, pois personificado em amizades e carinhos que colhemos ao longo destes quase 11 anos.

A vida vai fluindo, por um caminho cada vez mais de maturidade e aceitação. Como também já escrevi aqui, sempre existirão as questões envolvendo a deficiência pois, afinal, ela faz parte de nossas vidas. Mas o foco mudou. E é maravilhoso viver isso... São os nossos frutos, pessoais, meus, de Caio, de Yuri, parceiro nesta caminhada, sendo colhidos.

Em novembro do ano passado, Caio foi generosamente presenteado com um lindo ensaio fotográfico. Realizado pela fotógrafa gaúcha Tamara Wagner, que está se especializando em clicar crianças com deficiências, as "Borboletas" como ela as chama... foi um sucesso absoluto. Sucesso em meu coração, pois pude ver meu filho como eu sempre o vejo: com a infância em primeiro lugar. Brincando, se divertindo e sendo lindo como toda criança. E Tamara, com suas fotos, mostrou isso ao mundo, via redes sociais.













Clipe com as principais fotos do ensaio do Caio

Dali nossa amizade se fortaleceu ainda mais e seu projeto Borboletas está voando além das fronteiras do Rio Grande do Sul. Neste final de semana, iremos a São Paulo, levar A Tarde Especial no Parque e todo o seu sonho de inclusão pela fotografia, pela infância simplesmente. Iremos, pois vou junto. Honradamente fui convidada a conversar com as mães e pais, familiares presentes no evento. 


O que tenho a dizer? Ainda não sei bem. Talvez partilhar um pouco desta minha experiência de quase 11 anos como mãe "especial". Falar um pouquinho do luto, das dores, não para entristecer, mas para, quem sabe, amenizar culpas, naturais, a quem está recém chegando neste novo mundinho... Falar de fé, independente de convicções religiosas, para ir em frente, com amor e aceitação aos desafios que nos estão destinados. Falar de autonomia - para mães, famílias, crianças... Da importância de cortar o cordão umbilical para que todos possam crescer o máximo dentro de suas potencialidades - é necessário, e não temam este corte. O laço mais importante, o do coração, só se fortalece com esta coragem. Falar de como dá e é necessário sermos mulheres o tempo todo - com vaidade, com vida social, profissional, amorosa... pois já o éramos antes da chegada de nossos filhos especiais. Falar de inclusão e acessibilidade, aquela que sempre defendi, a que começa dentro de casa, dentro de nossos pensamentos... só podemos lutar por aquilo que verdadeiramente acreditamos e praticamos. 

Se vai ter gente para ouvir? Não sei... E não me importa. Se houver uma pessoa, terá valido a pena. Se não houver ninguém, terá valido minha reflexão pessoal. Eu, que durante anos, me deprimi em ter aberto mão de minha vida profissional, de uma possível carreira de publicitária, para ser "apenas a mãe do Caio". Quando aceitei ser a mãe do Caio, a vida me abriu um leque de outras oportunidades. Voltei ao mercado de trabalho, depois de 7 anos. E estou muito feliz atuando. E recebo convites para falar sobre ser "a mãe do Caio" e me sinto gratificada.

Recentemente, ainda nesta avalanche iniciada pelo movimento da Tamara e impulsionada pelo ensaio visto e curtido por mais de 3 mil pessoas no Facebook, fomos convidados à gravação de um programa local de entretenimento, o Mistura com Rodaika. Tamara foi entrevistada para um quadro que se chama Inspiração. Merecidíssimo! E eu e Caio, mais uma vez, fomos convidados a participar. 

Tenho uma pasta-arquivo com recortes das diversas vezes que eu e Caio fomos notícia. Reclamando do plano de saúde que estava falindo e deixando de atender. Reclamando dos ônibus sem acessibilidade. Divulgando a necessidade de apadrinhamento para a equoterapia. Denunciando a liminar judicial não cumprida do leite especial. Há cerca de 3 anos, fomos matéria de TV com grande audiência, num programa onde o apresentador bradava: Olhem para esta criancinha que precisa de ajuda! Não me envergonho. Foi necessário. Desta matéria de TV veio, com toda a minha gratidão infinita, a empresa que apadrinhou Caio em seu tratamento. E muitas vezes ir à mídia, é último grito de socorro para que os direitos básicos dos deficientes sejam respeitados e cumpridos. Mas hoje, vamos ser matéria de TV, onde a entrevistadora diz: Olhem que lindas estas crianças! Quanta beleza! Quanto amor! Quanta alegria de viver!


Eu e Caio falando de sua participação no ensaio do projeto Borboletas
Fotógrafa Tamara Wagner sendo entrevistada pela Cris Silva

O grupo que gravou para o Mistura
Me orgulho desta caminhada. Sim, é evolução. As lutas nunca deixarão de existir. Não sou hipócrita de dizer que nunca mais precisaremos reclamar, protestar, exigir o que é de direito. Mas hoje, me orgulho de ser a mãe do Caio. Não, não sou só a mãe dele. Mas também sou a mãe dele. Sim, é difícil e isso todos se sentem no direito de quantificar quando o olham em sua cadeira de rodas. Mas, sim, também é lindo, e maravilhoso e feliz. E isso, eu sei. Tamara sabe. O Mistura sabe. As mães de São Paulo saberão... Que todos possam saber.

Então, se tenho algo a falar, talvez seja isso. A vida segue. E ainda bem que pra frente é que se anda - com suas próprias pernas ou numa cadeira de rodas, tanto faz. Se tá difícil hoje, vai seguindo. Lá na frente, tudo vai fazer sentido. Se já tá bacana agora, joia, aproveita a viagem, vai ficar ainda melhor.

Que venha São Paulo. Estarei lá falando que "Ser mãe é sempre especial: dificuldades e possibilidades da deficiência". Obrigada, Universo. Obrigada, Caio. Obrigada, Tamara. A gente se encontra lá.