quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Eu não sou só luz

Voltei a roer as unhas na última semana. Me chateio porque isso significa, pra mim, um retrocesso. Tive este péssimo hábito por mais de 14 anos, iniciando ainda na infância e me acompanhando até os 18 anos. Mas me chateio mais pela significação que ele traz nas entrelinhas.

Ando triste. E me condeno por estar triste. Faz parte do processo da terapia. Eu estava super bem, resolvendo as emergências e angústias do agora – filho, marido, emprego. Agora, estamos entrando num momento de resgate, bem mais profundo.

Volto a ser criança. E de lá trago muitas dores, muitas lágrimas, medos e traumas. Sei que eu não sou mais esta criança, mas ela ainda habita meu íntimo. E às vezes grita por mim, pedindo atenção.

Tenho pensando muito numa pessoa que fez parte deste meu período de vida. E nutro por ela meus piores sentimentos. Resolvi assumi-los, não como honrosos, mas também sem invalidá-los, pois são fruto da minha trajetória afinal:

- Eu odeio ela!
- Ela está doente e eu não tenho a mínima dó. Quero que se dane!
- Tenho raiva profunda do mal que ela me causou e a outras pessoas também (incluindo meu irmão).
- Eu não quero vê-la e não quero que se aproxime dos meus filhos de jeito nenhum! Não quero que toque neles, sequer que fale com eles.
- Tenho vontade de bater nela, mesmo sabendo que não adianta e que não é algo que eu vá efetivamente fazer. Mas bato mentalmente, seguidamente!
- Não me imagino a perdoando, em hipótese nenhuma.
- Se ela precisar de ajuda, não poderá contar com a minha.
- Não quero me culpar por esses sentimentos. Eu consegui transformar essa vivência traumática exatamente no exemplo do que meus filhos jamais terão em casa. Mas este é um mérito MEU e não deixo de ter raiva dela por tudo de ruim que ela me fez.

Dentro da evolução espiritual que busco, não consegui resolver esta história. Tento não me “açoitar” por isto, afinal somos todos luz e escuridão. Hoje eu estou na penumbra. Mas assumir e validar o que sinto como legítimo, me conduzirá à luz novamente, tenho certeza.

5 comentários:

Ana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana disse...

Dinha,
Já passei por uma situação dessas, como já contei no LV.
Tive um péssimo relacionamento com o meu pai durante muito tempo. Não o aceitava, não gostava do jeito dele, não queria que ele fosse meu pai. Isso me atormentou por anos, a final todos dizem que a gente tem que amar o pai!!
Por conta disso fiz terapia por séculos e um belo dia admiti: não gosto do meu pai. Não gosto do que ele fez no passado com a minha família. Quero que ele se dane.
Só depois de admitir isso e aceitar esse sentimento como legítimo, como verdadeiro e até como nobre (a final era o meu sentimento) eu pude gostar e aceitar o meu pai - que também teve uma longa batalha para mudar.
Hoje adoro o meu pai, mas ele também lutou muito para melhorar.
Mas acho que se ele continuasse a ser o que era antes eu continuaria a não gostar dele - e, sinceramente, não vejo nisso um sentimento menor, mesquinho ou pequeno.
Fica com Deus!!

Bjs
Ana

Anônimo disse...

Dinha, creio que um primeiro passo já foi dado, que é aceitar pra você mesma esses sentimentos. Agora o importante é vc trabalhar na sua cabeça que o que aconteceu é passado,que essa pessoa não vai mais atrapalhar sua vida,que vc é maior que ela e vai superar tudo de ruim que ela te fez.Um grande beijo e fique bem! Flávia.

Claudia disse...

Dinha querida, todos somos feitos de carne e osso, mas também de coração. E às vezes, o que está guardadinho, escondidinho lá no fundo vem à tona e nos faz lembrar de coisas terríveis que só queríamos que não tivesse acontecido.
Você não é obrigado a gostar de ninguém, independente de quem seja e por isso, também não dá pra tolerar, pra conviver. Faça o que o seu coração manda. Viva sua vida com as pessoas que vc ama e que amam vc. beijos

Claudia disse...

Minha querida Xará,

Essa fase da terapia realmente é a mais pesada mesmo. É nessa hora que a "porca torce o rabo", é quando nos confrontamos com as nossas feridas, aquelas que, com o maior capricho e dedicação, nos aplicamos a esconder, acreditar que estavam curadas. Destruir (descontruir) todo esse trabalho é MUITO doloroso. Mas quando vc terminar, vai ver que é muito mais tranquilo lidar com esses sentimentos negativos.

Na prática, acho que vc deve se afastar dessa pessoa, vá pra casa da sua sogra, porque acho que essa seria a solução mais prática e que não vai melindrar ninguém, já que vc não pode se recusar a receber essa pessoa. Vá tranquila... deculpe o romance ;)

Bjs