sexta-feira, 26 de junho de 2009

Fantasmas, fatos e fé

Eu levei quase dois anos para deixar de ter medo de que, de uma hora para outra, o Caio morresse. Sim, é verdade.
Embora eu saiba da força e da coragem dele e de que os piores momentos foram mesmo logo ao nascer, eu o considerava frágil. Qualquer febre, qualquer espasmo, me apavoravam.
Quando finalmente relaxei, aconteceu a hepatite medicamentosa do ano passado e as convulsões.
Foi o que bastou.
Os fantasmas ressuscitaram.
Desde então, quando ele dorme muito calmamente vou lá ver se ele está respirando.
Morro de medo a cada crise de vômito.
Verifico seguidamente suas extremidades (dedinhos, lábios) para ver se ele está oxigenando bem.
Eu sei, eu sou uma neurada. Mas faz parte da nossa história.

Ao mesmo tempo, os fatos depoem a seu favor.
Caio está cada dia mais interativo.
Entende todas as perguntas que lhe fazemos e procura responder, por um gesto, um olhar, um som. Segue adorando música, brinca com teclados e sua mão está cada vez melhor coordenada (aos poucos, mas está).
Yuri brinca com ele mostrando diversos objetos e perguntando qual é qual. Caio acerta em 99% das vezes.
Seu olhar também está ótimo. Acho que o efeito prolongado, detectado quando ele ainda era bebê, e que não o permitia fixar o olhar está praticamente ultrapassado. Caio foca objetos e pessoas e busca rapidamente alcançar com a mão o que lhe interessa. Segundo o neurologista, isso é sinal de amadurecimento cerebral.
E ele tenta falar. E muito. As sílabas cada vez mais se misturam e tenho muita fé que ele ainda vai conseguir se comunicar de uma forma mais interativa com as demais pessoas.
Do ponto de vista nutricional, apesar de crises frequentes de glaucoma, está conseguindo voltar a ganhar peso. Está com uma boa "massa" nas coxas e no abdômen. Ok, nada de gordinho. Mas também não exageradamente magricelinho...
Um outro ponto que muito me orgulha são as fraldas. Ele usa e o xixi diurno não é bem controlado. Mas a fralda noturna tem amanhecido seca com frequência e Caio tem sinalizado quando quer fazer o "número 2", já tendo, inclusive, utilizado o vaso. Fico muito feliz, porque me faz crer que talvez ele não use fraldas para sempre. E uma das grandes barreiras para a inclusão de PPDs na educação tem a ver com a necessidade do uso de fraldas.
Está com excelente imunidade, visto que completou um ano sem necessidade de usar antibiótico, não apresentando nada além de alguma congestão nasal típica de um mero resfriado.
Também não quer ser mais bebê. Ele mesmo cortou o cordão umbilical de vez e não quer mais dormir na minha cama nem com a avó. Seu berço agora é seu refúgio predileto, onde ele tem adormecido sem necessidade de embalo, canções de ninar ou outros rituais. Ele costuma dormir rapidamente quando colocado lá, abraçado em seu coelhinho de “plush”. É mais um sinal de maturidade neuronal.

Demonstra sua personalidade.
Como bom taurino é genioso. Mas também de uma alegria e doçura que encantam.

Por tantas evidências boas, de que Caio está lentamente ainda em processo de amadurecimento e aprendizado, minha fé cresce junto com ele. Deixa de ser uma esperança emocional e injustificada, “apenas de mãe”, para se tornar quase uma certeza de que estamos sabendo viver.
Nossa história está longe de ser só flores, quem nos acompanha sabe das minhas lágrimas de medo, revolta, questionamento. Mas acredito que se a gente colocar tudinho na balança, o saldo é positivo.
Continuo de olho nas experiências com células-tronco, rezo pelo seu sucesso e para que elas sejam viabilizadas em larga escala no Brasil num prazo curto ou médio.
Sonho com um filho com relativa autonomia, quem sabe até com um diploma universitário...
Mas, mais importante que tudo, vejo que Caio responde muito bem ao amor que tanto lhe devotamos.
Que ele sabe o que significa em nossas vidas. E que entende a importância dessa luta que ele passou a travar junto conosco, com consciência, obstinação e, principalmente, alegria.

É por ele ser assim, esse menino tão guerreiro, iluminado e feliz, que o amo tanto, o admiro tanto. Acho que mesmo que ele não fosse meu filho, o amaria muito.
Porque ele me ensina o tempo todo, sobre tudo.
Ultimamente ele tem me ensinado o quanto a fé pode ser boa.
Os fantasmas existem. Mas nada pode ser maior do que a minha fé.
Só o meu amor por ele é que chega a se igualar.


Um lindo rapaz, vitorioso, do alto de seus 4 anos.

4 comentários:

Karla disse...

Adorei o post.. quando Lu passa mal meu coração vai a mil, fico super preocupada.... fico louca quando vejo crises de cólica, tosses de alergia quando come algo que não pode, quando quase desmaia de tanta fraquesa, etc... imagina vc... é normal conferir toda hora se ele está bem.

Adorei saber as evoluções dele... Hj fomos a escola do Lu e falamos que pra gente, cada coisa que parece mínima pros outros, pra gente é grandioso! Quando o Lu começou a olhar a gente, a falar, a responder com gestos, mostrar onde doía, etc...

Estamos na luta contra as fraldas já faz mais de ano e faz meses que tiramos e ele não faz cocô sempre que tem vontade e sozinho... é sempre muito difícil e dolorido mas vamos conseguir!!! Sorte e força sempre!!! Beijos da tia Karla orgulhosa!

cecisantiago disse...

Oi Dinha querida,
qie bom que vc consegue visualizar tão bem os progressos que vcs têm alcançado! E quanta coisa boa ainda está por vir. Não se ache neurótica por conferir o bem estar do seu filhote. Muitas mães que nunca passaram pelo que vcs sentiram na pele fazem o mesmo: super normal!Umas mais outras menos..rsrsr!Caio está muito fofo e tenho certeza que progredindo lindamente. Mil beijos, Ciça

Bianca disse...

Querida

Mas com certezas esses resultados também são devido a sua luta e amor junto com ele,né??
O Caio é um menino lindo, guerreiro, simpático, fofo,sociável, e tudo de bom!! A pequena defociência éum mero detalhe perto de tanta coisa boa que ele ensina para vc e para todas nós!!
Amo vc e amo ele demais
beijos

Bibi

Luciana Pessanha disse...

Caio é um vencedor, querida! E Deus cuida dele. Você é uma mãe maravilhosa!