Ontem levei o Caio para tomar as "gotinhas" contra a paralisia infantil.
O posto de saúde fica a cerca de um quilômetro da minha casa.
Aproveitamos o sol lindo de sábado e fomos passear em sua cadeira.
Mas preciso dizer que voltei para casa exausta, indignada e triste.
Em mais de 90% do percurso não pudemos utilizar as calçadas. Ou porque elas simplesmente inexistem ou porque numa mesma quadra temos que enfrentar desníveis dignos de uma prova olímpica de obstáculos.
Meus braços e pernas cansaram de fazer as manobras possíveis para conduzir meu filho.
Na maioria das vezes, andamos na rua mesmo, no meio fio.
E penso que para um país que diz apostar tanto no futuro, estamos é muito atrás.
O deficiente não tem espaço nem direito na prática de circular livremente.
Imaginei um adulto com relativa autonomia, cadeirante... não conseguiria atravessar nossas despreparadas calçadas sem ajuda de outra pessoa. Imaginei o desgaste e os perigos para um deficiente visual.
E fico triste sim. Porque se dou o melhor de mim para que meu filho tenha todas as possibilidades possíveis de autonomia e inclusão, o poder público não colabora. Ignora. Não faz o suficiente.
A acessibilidade existe bela e faceira no papel. Mas ontem pude comprovar que ela ainda não foi apresentada a meu filho, por exemplo.
E lembro que amanhã teremos médico. Vou de ônibus. Ou tentarei ir.
Porque moro na região metropolitana de Porto Alegre. Poderia pegar um único ônibus, quase em frente à minha casa, e descer no centro da capital. Bom, mas a grande maioria dos ônibus intermunicipais não são adaptados a cadeirantes. Então vou de metrô. Ah, sim. O ônibus que me conduz até a estação não é adaptado também. A solução é pegar um ônibus urbano, até o centro da minha cidade. E dali sim, pegar o metrô até Porto Alegre. Normalmente poderia fazer esse trajeto em 30-40 minutos. Mas com essa operação mirabolante que terei que fazer, não tenho previsão.
Então. A acessibilidade não poderia e deveria ser bem mais fácil?
Porque qualquer possibilidade de inclusão deixa de existir, quando não consigo levar meu pequeno sequer até a esquina de nossa própria casa.
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