segunda-feira, 6 de abril de 2009

Uma viagem que pretendo fazer

Pensei em nomear esse post como "Um resgate que pretendo fazer".
Mas, francamente, não sei se há o que se resgatar.
Ainda assim quero tentar.
Há um ano tenho travado um diálogo intenso e cheio de argumentos e contraargumentos comigo mesma.
Quero rever meu pai. Mas o medo ainda é maior do que a vontade.
Por conta das mágoas da separação do meus pais e vários outros fatores, como o alcoolismo do meu pai, fiquei 25 anos sem vê-lo.
Só o reencontrei no velório do meu irmão. Depois da morte do Jon, em 2001, vi ele em outras três ocasiões. A última vez foi em 2005, com Caio ainda bebê.
É conflitivo pra mim.
Minha mãe não aceita bem que eu o veja.
E eu o recebo como um estranho, um desconhecido, do qual tenho má impressão - causada pelas lembranças das surras que ele dava na minha mãe. Mas, ao mesmo tempo, carrego lembranças remotas de minha infância, de estar no colo dele e ser chamada de "bonequinha".
Num de nossos encontros, ele me disse que, apesar de não termos nos visto, "não houve um só dia em que eu acordasse e não lembrasse que tinha dois filhos longe de mim". Ele não teve outros filhos. Hoje, só tem a mim...
Tenho medo de procurar um pai e me decepcionar.
Por isso converso comigo mesma que vou tentar encontrar um conhecido e aprofundar uma amizade, talvez.
Penso se tenho direito de negar a meus filhos o convívio com o único avô que eles têm.
Claro, que também penso que talvez ele não queira ser avô ou não seja um à altura do que desejo para meus meninos.
Mas acho que não cabe a mim decidir.
Acho que devo dar uma chance ao destino e que aconteça o que estiver escrito para nós.
O que não significa que este querer seja fácil pra mim.
TODO dia eu penso em pegar o telefone e marcar um encontro.
E TODO dia, eu arrumo uma desculpa.
"Está muito cedo".
"Ele deve estar almoçando".
"Ele deve estar tirando um cochilo".
"Essa semana tem feriado".
Mas uma coisa eu (acho que) decidi. Não quero levar essa pendência para outra encarnação.
Resgatar algo ou enterrar o assunto de vez.
Óbvio que, no meu íntimo, torço pela primeira opção. E morro de medo de sofrer se a segunda prevalecer.
Mas quero dar este passo. Por 32 anos tenho ouvido um lado da história, com detalhes. Penso em ouvir o outro lado. Quero viajar um pouco e ver o que existe (se é que existe) de bom e válido em nossa trajetória.
E assumir publicamente esses sentimentos significa que estou realmente disposta a tentar.

1973

2 comentários:

Nalu A*) disse...

Dinha, se tem algo que eu descobri nessa vida é que o marido da minha mãe e meu pai são duas pessoas bem diferentes... Bem diferentes mesmo. E que toda história tem dois lados, e que quando a gente vai escutar o outro lado, sempre se surpreende. Beijos

Karla disse...

Palmas pro comentário de cima e muitas palmas pro seu texto... me identifiquei bastante pelo fato de eu ser espírita (moro e nasci na cidade que Chico Xavier passou sua vida). Tinha muita raiva quando meu pai brigava com minha mãe e já fiquei inúmeras vezes sem falar com meu pai por meses... era horrível escutar as coisas que escutei... hoje, depois que saí de casa, vejo tudo diferente... como vi que meus pais nunca iriam se divorciar (rezava pra isso acontecer desde os 5 anos), resolvi eu mesmo me divorciar... hehehe hj moro com minha irmã e temos uma linda amizade com meu pai... ele é um paizão... cresceu muito e educa o Lu e dá um amor incondicional ao "amigão" (como ele chama o Lu). Frequento o centro espírita todos os dias e sempre escuto mensagens sobre evoluirmos aqui na terra e não deixarmos passar as oportunidades. Faça isso... resolva os problemas com seu pai, vc vai se sentir leve... o perdão é fantástico! Pra perdoar, não precisa morrer de amores, basta não guardar rancor... não desejar o mau... não precisa desejar o bem tbm... pode ser indiferente... mas converse nem que se for pela última vez e o perdoe por tudo. Ele pode ter feito inúmeras coisas ruins mas te deu seu bem mais precioso: a vida! Se hoje vc é mãe, um mulherão, foi graças ao ato de amor de sua mãe e do seu pai que se resultou na bonequinha que hoje é uma guerreira! Beijos!