quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Contando o tempo

Se tem uma lição, entre tantas, infinitas, que Caio me ensina é a contar o tempo.
Desde nossa entrada na maternidade, tudo foi sempre uma corrida contra o relógio. 
E o tempo, costumo dizer, pode ser nosso aliado ou nosso maior algoz. Depende muito do jeito que encaramos as coisas.

Claro que quando estamos sofrendo, o tempo parece se arrastar.
Para quem, como eu, sofre de ansiedade crônica, então... é uma tortura.
Ter uma visão positiva sobre as coisas é essencial para tentar viver um dia de cada vez, celebrando o que de bom foi conquistado.

Ainda me assusto quando penso que este ano farei 41 anos! Apesar da boa maturidade que o passar do tempo me trouxe, me enxergo com a energia e com sonhos ainda de uma recém mulher. Acho que isto deve ser bom. Espero que seja. Volta e meia olho pra Yuri, já um adolescente, no meu próximo piscar de olhos um homem feito. Já falamos em vestibular e faculdade! Como pode? Mas quando olho pro Caio, o tempo me mostra os dois lados da moeda. Na UTI Neo aprendi a contar horas, a celebrar dias. Cada noite que eu dormia e não era acordada por nenhum telefonema de urgência eram alívio. Cada manhã, mal o sol raiava, e eu chegava na ala de isolamento, meu coração acelerava até visualizar aquela incubadora, para então encontrar uma paz temporária. Parece impossível que já se foram quase 8 anos. Neste ritmo, em breve, terei um segundo filho adolescente em casa!

Quando olho para o passado e presente de lutas diárias, o tempo pode massacrar. Mas, quando nossas metas se realizam, tudo é alegria! Ontem celebramos 90 dias sem crise convulsiva! Se a neurologista me afirma que uma crise mensal, para um diagnóstico de síndrome de epilepsia de difícil controle é muito bom, estamos no paraíso! Eu disse para ela que minha primeira meta é uma crise a cada seis meses, talvez uma por ano. Para quem sabe, um dia, nunca mais precisar passar por uma. Então estamos indo bem. Metade da primeira meta já foi.

Se isso parece utópico, lembro das crises de refluxo, que pareciam eternas. Praticamente a cada 15 dias Caio ficava vomitando dois, três sem parar. Chorando de dor (azia, provavelmente) noite e dia. Eu e minha mãe nos alternávamos nas horas que cada uma passava com ele, sentado para aliviar um pouco a queimação e sempre com uma bacia providencial a postos. O dia nunca clareava nestes episódios. Consultamos trocentos médicos. Nenhum tratamento foi eficaz na hora certa (a que desejávamos). Um belo dia, começamos a contar. 15 dias sem crise de refluxo. 30 dias. 2 meses. 1 ano. Há dois anos não sabemos mais o que é isso. Foi-se. É passado. 

Os quase quatro anos que ficamos sem conhecer o som da voz do Caio nos angustiava. Surdo ele não era, tínhamos feitos testes. Mas seria ele, por algum motivo, mudo? Não, não era. Hoje temos um vocábulo novo a cada semana, uma criança que evolui a olhos vistos. Mais de cinco anos para começar a controlar os esfíncteres. A tão sonhada equoterapia... Tantos anos atrás de um padrinho... E ele chegou depois de vários anos e em poucos meses vamos vivendo as recompensas da espera. Tempo demasiado longo? Tempo de angústia, mas de aprendizado. De exercer a perseverança, a paciência, o amor ao próprio tempo, oportunidade que nos é dada de permanecer lutando.

Sigo sonhando alto para o meu guerreiro. 
Tento manter os pés no chão, mas minha fé insiste em ser maior. 
Certa vez escrevi com amargor, sobre o tempo que jamais nos seria devolvido, ainda que ele tivesse uma reabilitação plena. 
É, o tempo pode ser aliado.
A mim ensinou que as coisas não acontecem quando desejamos. Acontecem quando estão destinadas a acontecer. Quando estamos prontas para recebê-las em nossas vidas. Sejam bençãos ou provações. 


Meus filhos são meus frutos. 
Me ensinam que é esta a lei da vida. Semear. Cultivar. Regar. Adubar. Tirar ervas daninhas, quando preciso. 
E um dia, chega a vez da farta colheita.
Ainda chegaremos lá.
Mas cada pequeno botão de esperança que floresce é motivo de festa.
O tempo é um bom jardineiro. E o futuro, saboroso fruto, quem sabe...



2 comentários:

Menina Eva disse...

Leio seu blog há três anos. Esse texto me fez sentir tão próxima, tão feliz. Meu abraço daqui de Manaus, pra sua família linda.

cecisantiago disse...

Dinha...que sábias palavras! Esquentaram meu coração. Tempo,tempo, mano velho..e paciência realmente são eterno aprendizado e constante! Fiquei feliz demais, depois de um tempo sem ler o blog...quantas boas novidades! Beijo no coração! Ciça em Salvador