sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O segredo do sucesso


Todo mundo acha que sabe o que é sucesso. Se não numa palavra ou num conceito propriamente dito, num contexto. Sucesso é ter fama. Reconhecimento. Dinheiro, por que não? Seria o sucesso também ser admirado, imitado, citado?

Nos meus inocentes suspiros adolescentes, eu sonhava ser jornalista e, mais tarde, publicitária, curso superior que de fato conclui. Mas eu sonhava muito alto. Sonhava em ser famosa, rica, premiada em Cannes, entrevistada em revistas de cunho intelectual ou empresarial. Me imaginava dando palestras, viajando o mundo. Hoje, rio disto tudo. De tanta inocência mesmo. E de tantos estereótipos. Mas durante muito tempo, não ter trilhado este caminho me fez sofrer.

Olhando para trás, vejo que não me dediquei à carreira como deveria para atingir tais objetivos. Não a priorizei nunca. Minha família, minhas realizações pessoais e minha consciência sempre estiveram em primeiro lugar. Quando eu tinha apenas 23 anos, eu larguei uma agência onde eu estava indo muito bem, com reconhecimento de clientes importantes como a redatora favorita deles. Deixei o emprego para cuidar da minha avó de criação, então com 86 anos. Fiquei 6 anos longe do mercado de trabalho. Porque, nesta “brecha”, optei então por cuidar 100% de outros sonhos: casei, tive meu primeiro filho, cuidei dele por um ano. Só depois que minha querida vó Piti partiu, retomei a vida de publicitária. Que durou mais 5 anos, até a gravidez inesperada do Caio. O parto prematuro e tudo que adveio dele, me deixou mais um ano em casa. E lá fui eu tentar ser uma profissional de sucesso outra vez.

Mas, confesso, depois da chegada do Caio, nunca mais fui uma publicitária em paz. Até tive momentos de satisfação porque, sim, ainda existia (e deve existir sempre) um ego que gosta de reconhecimento e elogios. Cheguei a chefiar uma equipe de criação. Fui promovida à gerente de filial! Só que todo dia, ao chegar em casa e ver aquele meu pequeno, tão guerreiro e tão frágil ao mesmo tempo, eu me questionava se estava fazendo a escolha certa. Fui muito profissional e me orgulho disto. Jamais deixei cliente na mão ou trabalho pendente, mesmo nos piores momentos, com as primeiras crises convulsivas, a hepatite medicamentosa, o retorno à UTI pediátrica. Sempre repassava tarefas e deixava um sucessor devidamente qualificado para assumir o andar da carruagem. Mas meu coração de mãe sofria. Se cobrava. Até que dois anos depois, voltei pra casa. Dessa vez para ficar.

Lá se vão quatro anos e não foi uma escolha pacífica. Sempre me perguntava o que estava fazendo com tantos anos de estudo, com tanta dedicação ao meu sonho de ser publicitária. Com o rumo que o primeiro e festejadíssimo diploma universitário de minha família tomou... Achava que ser “só” dona de casa era um atestado múltiplo. De fracasso. De incapacidade de lidar com a maternidade. De comodismo.

À medida que os anos foram passando e as coisas acontecendo, fui encontrando mais tranquilidade na minha escolha. E entendi que nunca houve escolha. Não poderia haver. Meus filhos eram minha escolha primordial. Especialmente no caso do Caio, não sou nem um pouco modesta em ter certeza que é a minha participação integral em sua vida, em seu cotidiano, que ajudaram a transformar 80% de área cerebral lesionada em apenas 5%. Sei que é meu amor, estímulo maior em forma de presença diária, a terapia transformadora que leva um menino inicialmente condenado a viver de modo vegetativo a romper mais e mais barreiras. Não tenho a menor dúvida de que é a minha escolha por ele o combustível daquele sorriso lindo.

E aí volto a me perguntar: o que é o sucesso? No meu caso, é ver que faço o melhor do que me propus a fazer. Que tenho talento para lidar com as adversidades, criatividade para lidar com as crises, persistência para empreender nossas lutas. Tudo com uma alegria talvez maior do que a que sonhei encontrar na minha profissão. Meu diploma foi em vão? Não acredito. Minha formação faz de mim uma mãe curiosa, inquieta, que busca informação em todos os meios. E alguém diga que deixei de fazer campanhas? Recém citei no post anterior a banhita, o caipira, o sonho conquistado da equoterapia através de um vídeo “promocional” de Caíto... E talvez algo maior, que seja dividir a minha luta por aqui, nas redes sociais, através de palavras que se tornaram a minha própria vida. É saber que tudo valeu a pena. As experiências, o estudo, as amizades. As dores. Os sustos. Tudo é aprendizado. Sucesso, paro para pensar, é ser feliz em nossas próprias escolhas.
Então, está tudo certo.

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