sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O dilema de sempre

E o ano muda, mas a maioria dos sentimentos - ou a confusão deles, não.
Sigo me perguntando, quase todo o dia: O que sou? "Só" mãe? Doceira? Publicitária?

Agorinha, dia 6, fez dezessete anos que me formei.
Ainda lembro de toda a luta e, principalmente, de toda emoção do dia.
Vinda de uma família basicamente de agricultores, colonos e, com raras mulheres trabalhando fora - mas nas lidas domésticas, fui a primeira Lacerda com um diploma universitário. Somado à minha infância turbulenta, foi uma mega conquista. Me orgulho até hoje. Não que eu me ache melhor do que ninguém, especialmente das "mulheres Lacerda" que me antecederam. Apenas tive boas oportunidades e as aproveitei.


No entanto, essa nostalgia toda com meu diploma na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, erguido aos meus 21 anos, também me deixa uma sensação de fracasso. Hoje, à beira dos 40, me pergunto: aonde tudo aquilo, aquele empenho, aqueles sonhos, aquela garra, me levou?


Na linha da fé que mantenho, sei que tudo tem um porquê. Tudo está designado. Não existe um único dia em minha vida em que eu não agradeça a vida do Caio na minha existência. Não existe um único anoitecer em que eu não agradeça a Deus pela benção que são meus dois filhos. Mas é preciso ser realista e assumir que sim, depois do nascimento do Caio, a vida profissional ficou ainda mais difícil. Se o mercado de trabalho já é cruel com as mulheres, eu diria que ele é sádico com as mães e praticamente inexistente para as mães de crianças deficientes.

Mais do que as cobranças de alguns poucos amigos e familiares e da sociedade, sei que nunca é possível contentar todos. Se opto pela maternidade em detrimento da profissão, sou tachada de acomodada. Se priorizo a carreira, lá vem o rótulo de mãe omissa. É. No way.

E eu tenho bem claro o que é prioridade pra mim: meus filhos. Não tenho falsa humildade ao assumir que eu sei, como me afirmam alguns médicos, que Caio só está vivo e se desenvolvendo com a qualidade que está, por conta da minha assistência integral.

Mas quando as contas apertam, os avisos de corte chegam e não vejo que não quero abrir mão de certas escolhas - comer bem (ainda que sempre em casa), investir na van escolar do Yuri (já que ele é bolsista de uma escola particular), manter o plano de saúde do Caio e o atendimento domiciliar de urgência, eu novamente me questiono o que adiantou estudar tanto e hoje não conseguir ganhar dinheiro com isso.

Sei que a faculdade não foi em vão.
Mais do que me tornar uma diplomada, me fez desenvolver visão crítica, raciocínio lógico, coerência de ideias.
E às vezes acho que isso tudo é fundamental para eu correr atrás do que é necessário ao Caio. Pesquiso, fuço, requisito. E, na maioria das vezes, conseguimos o que queremos!

Eu queria duas coisas que parecem simples mas não são.
Me conformar que não sou uma publicitária, apenas cursei a faculdade.
E ganhar dinheiro com algum dos meus talentos - os doces, os convites e lembrancinhas de festa personalizados, os textos - mas sem precisar abrir mão de estar sempre junto ao meu filho, em seus tratamentos e terapias, vivendo intensamente cada momento dos seus progressos que eu sei, ainda vão longe.

Haverá um dia que isto será possível?

2 comentários:

Aline Szücs Ortiz Deák disse...

Perfeito e justo seu desabafo! Só posso lhe dizer que sua missão é inquestionável e sua dedicação é admirável! COntinue no caminho que só vc pode compreender que é o correto! Sempre ouvi dizer que escolhas implicam em perdas, isso é o natural...mas tenha a plena certeza que Deus tem lhe guiado em suas escolhas! Parabéns pelo seu blog, pela sua atuação nos papéis que a vida nos coloca e que Deus abençoe vc e sua família grandemente! *Admiro muito vc viu?!!! bjs

Marina Dantas disse...

Olá Claudia!
Tenho um bebe de 10 meses com paralisia cerebral.
Apesar de ser tudo muito recente ainda, estou muito angustiada com essa questão de trabalho! Sou formada em estatistica pela Unicamp... e não tive coragem/possibilidade de voltar a trabalhar depois que o Gabriel nasceu!
Cheguei a comentar em alguns grupos de discussão, mas não tive muitas respostas. Não existe nenhum insentivo do governo para que os cuidadores tenham emprego em empresas com cargas horarias reduzidas? Tenho pensado muito em ir atras disso...
ACredito que trabalhar meio periodo, seria muito bom para mim e para meu bebe!