sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A nossa caminhada

Esta noite sonhei, mais uma vez, que Caio caminhava.
É um sonho recorrente.
Nada demais, episódios corriqueiros da família, quando, de repente, Caio surge no contexto, andando.
No sonho, não é uma surpresa... é como se já fosse a metade da história, ou como se ele sempre tivesse caminhado. A única coisa que lembro é que sempre eu e ele estamos muito sorridentes. E tenho o mesmo pensamento: "Que lindo te ver caminhando, filho!".

Eu já sonhei acordada muitas e muitas vezes com a chegada deste dia, o de ver meu filho andando, normalmente. Com o passar dos anos, vou ficando mais realista talvez. Penso nele caminhando com dificuldades motoras comuns à sua condição, mas autônomo. E cogito sim, que talvez ele nunca caminhe, que seja sempre um cadeirante. E que isto não vai o impossibilitar de ter autonomia, de exercer sua cidadania, seus direitos e deveres e, principalmente, não será uma barreira para a sua felicidade pessoal.

Costumo dizer que para as mães de crianças com paralisia cerebral, em condições semelhantes as do Caio, é extremamente difícil pensar como eu acho que deve ser: buscando o equilíbrio entre não criar expectavivas exageradas mas também não desistir nunca. Já vi o tratamento fisioterápico como a única e certa ferramenta de reabilitação, reabilitação esta que eu cheguei a acreditar que traria como resultado um menino caminhando normalmente. Hoje sei que esta fisioterapia vai, no mínimo, garantir qualidade de vida à ele, evitando possíveis atrofias e talvez até mesmo cirurgias corretivas que são frequentes em crianças com pc.

Como mãe, meu coração não desistiu ainda de ver esta cena.
Mas ela não é minha meta de vida.
Qualidade é a palavra-chave.
Que ele tenha cada vez menos crises, que talvez elas cessem.
Que ele consiga se alimentar bem, com poucas restrições.
Que se mantenha com a imunidade normal.
Que se socialize. Que se divirta. Que se sinta amado e respeitado. Que seja feliz.
Acho que, ao menos, metade desta caminhada nós estamos atingindo.


Houve um tempo em que eu achei que os sonhos poderiam ser proféticos ou um sinal de que muito em breve ele realmente estaria andando. Hoje não mais. Mas eles também não me deprimem.
Ao contrário, me dão alegria.
São um bálsamo para minha alma, ainda que somente na forma deles mesmos, sonhos.
São, talvez, uma mensagem.
Especialmente hoje, penso que foi uma resposta da Virgem Maria ao meu pedido de ontem.
De que sim, o caminho vale a pena. E estamos indo bem.

Um comentário:

Roberta Berrondo disse...

A cada pequema conquista uma grande vitória, a cada grande vitória um novo sonho e um novo ciclo. Acredite apenas... acredite e confie!