Estou com várias amigas vivendo ou prestes a viver a experiência do segundo filho. E se tornam inevitáveis as conversas sobre esta fase e o que ela traz de mudança para toda a família. Especialmente para o primogênito. Ciúmes, perda, o sentimento de divisão da mãe... E este assunto me tocou especialmente esta semana.
O Yuri, todos que me acompanham, sabem, foi planejadíssimo. O Caio foi uma grande surpresa desde o início. E comecei a lembrar de nossa trajetória. Eu, mãe de dois filhos.
Antes de eu engravidar, ele não admitia a hipótese de um irmão ou irmã. Repetia constantemente que somente ele seria meu bebê para sempre. Ele estava com 4 anos. E quando lhe contei que havia um maninho ou maninha na minha barriga, ele chorou muito. A ponto de fechar a porta do seu quarto e chorar na cama. Respeitei seu momento. Passados alguns minutos, ele veio enxugando as lágrimas, ainda fungando e disparou uma das frases que gravou para sempre no meu coração: "Tá bom, eu não 'querio' . Mas eu vou ser forte e vou ser bom pro meu irmão".
O destino nos pregou várias peças e foi o Yuri o meu grande parceiro de gravidez. O Sandro foi para Paris e foi Yuri quem foi às consultas pré-natais, quem assistiu as ecografias, descobriu o sexo do mano junto comigo e também votou forte na escolha do nome. Era ao lado do Yuri que eu dormia à noite e foi ele quem mais sentiu os movimentos do irmão, com quem conversava emocionado através da minha barriga. Estava escrito: ele já estava completamente apaixonado pelo mano que ia chegar!
Se é sabido que a chegada do segundo irmão representa, naturalmente, uma perda de espaço, uma divisão de atenções, para o Yuri foi ainda mais forte.
Uma noite, fomos dormir juntos. Na madrugada minha bolsa d'água rompeu, me levaram ao hospital e ele, dormindo, para minha sogra. Ele amanheceu sem pai (ainda na Europa), sem mãe, sem o irmão. Diziam que a mãe tinha ido buscar o mano no hospital. Mas eles custaram a voltar e ele, Yuri, não podia ir lá.
Depois de muito sofrimento, finalmente ele conheceu o Caio. E seu sorriso voltou a se iluminar como antes. A volta pra casa, a família completa, tudo parecia entrar nos eixos. Mas algumas coisas eram estranhas. O irmão não aprendia a sentar como os outros. Não falava como os outros, não aprendeu a andar, não interagia do mesmo modo que os outros. Uma pergunta começou a fazer parte do cotidiano do Yuri. "Quando o Caio vai conseguir, mãe?".
O tempo e o aprendizado que o Caio trouxe a todos nós fez o Yuri entender as diferenças do irmão. Deficiência. Paralisia cerebral. Neurônios. Fisioterapia. Remédios. Convulsão. Reabilitação. O Yuri teve o vocabulário e a vida enriquecidos. Às vezes sofro por ele. Percebo que ele precisou amadurecer à força. Com apenas 5 anos! Mas ele muito raramente se lamenta. Na maioria das vezes, engrandece o irmão, enaltece as qualidades que ele generosamente enxerga. Uma vez, quando o Caio tinha pouco mais de um ano e o Yuri parou de perguntar quando ele iria caminhar, vi ele acariciando o Caio no seu bercinho. E soltando, como sempre, uma pérola de amor: "Eu sei que tu ainda não consegue fazer um monte de coisa. Mas eu quero que tu saiba que mesmo assim tu é um ótimo irmão". Já postei muitos causos que demonstram o amor gigante que o Yuri sente pelo Caio (procurem no marcador Amor de irmão). Ele sabe que o Caio tem a prioridade na atenção, nas saídas (por médicos e terapias), no horário da alimentação, na escolha dos programas... E ainda assim ele, Yuri, consegue me dar seguidas lições. Como a recente história do cinema, contada aqui. Me mostrando que as maiores barreiras, as que precisam ser vencidas de verdade, são as que ficam dentro da gente.
Essa semana Yuri acompanhou Caio nas terapias. Ele sempre é curioso, quer saber maneiras de ajudar o irmão em casa. Aí a fono ensinou a ele uma "brincadeira" (na verdade, um exercício) para melhorar o déficit visual que o Caio tem num dos olhos. Com uma lanterna envolta num celofane colorido, no quarto, com luzes apagadas, brincamos com a laterna para que Caio siga sua luz. E o Yuri foi animadamente fazer o exercício com o Caio. Expliquei à ele o motivo do exercício, lembrei ele que o cérebro do Caio precisa de mais tempo e treino para fazer aquilo que todos fazem tão naturalmente. Para nossa feliz surpresa, Caio prontamente seguiu com a mãozinha na parede a luz que o Yuri dirigia.
E mais uma vez, vi nascerem lágrimas nos olhinhos do meu Yuri. Lágrimas de felicidade. Por acreditar e ver real as possibilidades de reabilitação do irmão tão amado. E ele me reiterou: "Amo muito o Caio, mãe. Queria muito ter ele na nossa vida, do jeito que ele é. Ele é o melhor irmão que alguém pode querer". Já me disseram que é muito difícil uma criança da idade do Yuri se emocionar ao ponto de chorar. Pois se nenhuma folha cai das árvores sem o consentimento de Deus, estou certa de que Yuri e Caio foram escolhidos a dedo, um para o outro. Que não existe nada mais lindo, forte e transformador do que esse amor entre irmãos. E como volta e meia deixam escrito nos comentários aqui, eu tenho o privilégio de ser a guardiã dessas duas jóias tão preciosas.
Um vidro não foi barreira pra esse amor se fortalecer...
Finalmente juntos, em casa
Sempre segurando o mano com muito cuidado
Felizes, sorrindo, sintonia pura!
Meigos e fofos...
Lindos e peraltas...
Parceiros de toda a vida!
5 comentários:
vais escrever um livro? deveria...
bjs Vale (de Valeida ;)).
Uia! eu nem sei o que falar, o que escrever! Ainda bem que vcs fazem parte da minha vida!
Beijos
Babi
Como diz o recado aí de cima "não temos nem o q. falar diante desse texto tão lindo", ao termino da leitura a sensação q. tenho é de paz, leveza espiritual...texto lindo, fotos lindas, filhos m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o-s.
Tenhão uma ótima semana.
Maira
Dinha querida:
Continuo vindo sempre aqui, saber de ti. Pena que a nossa rotina não permita um convívio mais intenso, mas espero que a gente consiga ter mais contato em 2009. Ainda bem que tu escreve aqui, e divide com a gente os encantos que são o Caio e o Yuri. Eu me emociono muito com as histórias dos dois, eles são crianças maravilhosas. E tu, como já te disse outras vezes, merece muito esses dois pequenos. Não tenho dúvidas que eles vão continuar te dando muitas alegrias.
Um grande beijo.
Cas.
Que post lindo, emocionante! Parabéns pelos filhos maravilhosos. Certamente eles não vieram por acaso. Tem uma mãe fantástica como sina...A retrospectiva fotográfica está demais! Te amo!
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