quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Na minha casa não

Sou do time que acha que política, religão e futebol não se discute. Às vezes pode acabar com velhas amizades. Mas às vésperas das eleições e com um texto tão bacana como este, não pude me abster.

"Fazia tempo que queria reformar minha casa. Foi-me indicado um profissional que diziam fazer um bom trabalho. Não apoiei, mas toda a minha família ficou satisfeita com a contratação dele. Diziam que, mesmo sem muita experiência, era um cara honesto e coisa e tal. E ele quase me convenceu com seus argumentos, devo dizer a verdade. Encheu-me de promessas, disse que faria isso, que resolveria tal problema, que mexeria nos alicerces. Em suma, que tudo ficaria como novo.

Mas, de uma hora pra outra, começaram a sumir coisas lá de casa. Uma caneta, alguns DVD’s, um rádio. Depois as coisas foram crescendo. Quando me dei conta, tinham-me levado até o carro. Confrontei o homem a quem havia contratado. Ele acusava seus ajudantes. Dizia que não sabia de nada, que estava focado apenas no trabalho.

Descobriu que as desconfianças em relação à sua equipe eram verdade mandou todos embora. Trouxe novos ajudantes. A reforma continuava, ainda que a passos curtos e lentos. Com mais problemas do que acertos. Nesse momento, já estávamos nos irritando. No entanto, as coisas continuaram a sumir de casa, mesmo com a nova equipe. O chefe seguia se eximindo da culpa sempre que pegava algum dos seus roubando. “Não sabia de nada”, dizia ele.

Um dia, acabou o prazo que ele tinha me prometido para entregar a casa. Faltou muito para ele chegar ao menos perto do que havia prometido. O pior é que, ao longo do tempo de trabalho, ele foi mudando tudo o que havia dito. Se tinha dito fazer uma coisa, ia lá e fazia outra. Se assumira compromisso com a minha família em relação a tal assunto, pouco depois parecia esquecer completamente.

Mesmo com tudo isso, o safado ainda teve a cara-de-pau de vir me pedir por mais tempo de trabalho. Sim, depois de todos os seus ajudantes terem me roubado, tanto os velhos quanto os novos, depois de ter me mentido descaradamente, depois de me prometer coisas que não chegou nem perto de cumprir, depois de se fazer de inocente frente a todas as acusações, ele ainda queria continuar dentro da minha casa com um contrato prorrogado.

Claro que eu jamais aceitaria isso. Não sou idiota. Minha família veio dizer que nas outras reformas isso havia acontecido também: coisas haviam sumido, as mentiras rolaram. Tudo bem, pode ter acontecido, mas nunca tão descarado quanto agora. Nunca mesmo. E, de qualquer forma, desde quando o erro do passado justificam o roubo de agora? Era só o que me faltava: deixar um ladrão, mentiroso e ignorante na minha casa por mais quatro anos porque “outros também fizeram”.

O problema é que combinei com a minha família que ninguém decidiria nada sozinho. O que a maioria decidir, será feito. A votação final ficou pra domingo. Só espero que as 180 milhões de pessoas que moram comigo mostrem-se mais inteligente do que parecem."

(Este texto é de autoria de Silvio Pilau, publicitário, excelente crítico de cinema e de livros, e um ótimo cronista, como no exemplo acima. Quem quiser saber mais sobre ele, acesse Viagem Literária.)

3 comentários:

Anônimo disse...

Dinha adorei. Espero que os menios estjam bem. Beijos.

Anônimo disse...

Saiu tudo errado. Que os meninos estejam bem.

Isabella disse...

Muito bom o texto, Dinha, gostei muito. E também espero que os meninos estejam bem, tá? Beijo.