quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Os presentes de Caio

No último sábado, estávamos na praia há pouco mais de 24 horas, quando Caio começou a passar mal. Chorava muito, aparentemente de dor, e não conseguia abrir os olhinhos, que lacrimejavam. Ainda na incerteza da necessidade de levá-lo ao atendimento de emergência, estávamos comendo crepe na praça central. Mas seu choro foi ficando alto, forte, insistente. Então um vendedor ambulante se aproximou e nos deu seu "bastão" de luzes piscantes. E me disse: "Pega para o menino, talvez ele goste". Meu filho mais velho comentou: "Ele deve estar vendendo bem pra dar um pro Caio". Expliquei a ele que não era disso que se tratava. Mas de um olhar empático e generoso, tentando aplacar ou atenuar o choro de uma criança. Se tratava de carinho.
Com alguma frequência, Caio é presenteado na rua. Sempre me emociono. Tem o balão da Pequena Sereia que ele ganhou em 2015, de uma moradora de rua, cujos pertences cabiam num carrinho de supermercado, quando saíamos do Hospital da Criança Santo Antônio, em consulta pré gastrostomia. Ela deu acompanhada da frase "Toma, menino bonito, para te fazer ainda mais alegre". O balão está conosco até hoje.
Outra vez, estávamos no ônibus apertado, não adaptado, fim de tarde, voltando da fisioterapia. Um homem começa a conservar comigo, pergunta a história do sorridente garotinho. Fica com os olhos cheios d'água e me pede permissão pra tirar sua corrente do pescoço com o símbolo do Superman e colocar em Caio, junto de um beijo. "Herói é ele", me diz.


Penso no porquê meu filho ser tão presenteado. Acho que é uma retribuição. De quem vê ele com o coração e, por isso, além das limitações. Para quem enxerga a alma linda, um verdadeiro presente do Universo. Um presente que traz em sua própria existência mensagens de força, coragem, amor à vida e alegria acima de tudo. Um presente que não deixa morrer em mim a fé na bondade humana.
Obrigada, filho

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