quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Meu pai e eu, the never ending story...

Já escrevi algumas vezes aqui sobre meu pai... Acabei me dando conta de que há até um marcador aqui no blog só pra ele. Sinal de que ele é importante na minha história. Como acredito que é ou deve ser todo pai, toda mãe. Pena que a nossa história é de uma complicação sem fim...

Tentando resumir: meu pai separou da minha mãe quando eu tinha mal 5 anos. Ele era alcóolatra, violento, batia muuuito nela. Não a deixava trabalhar fora, mas também não provia a casa como devia, por conta do seu vício. Até aí eu entendo tudo. Mas não consigo aceitar o fato de que, após separação, meu pai nunca mais procurou a mim e meu irmão. Eu, como tinha lembranças claras das surras que ele dava na minha mãe, não sentia tanto sua falta. Mas meu irmão, que mal chegou a conhecê-lo, muito chorou e pediu pra ver nosso pai. Minha mãe não permitia e meu pai não nos procurava. Sabem quando aconteceu o reencontro entre pai e filho? 25 anos depois, no enterro do meu irmão!

Eu acho que esse pode ser um dos motivos que eu não me permito evoluir minha relação com meu pai. Me dói pensar que meu irmão quis tanto ter um pai, ou ao menos conhecer o seu e não conseguiu. Às vezes penso ser injusto que eu desfrute da companhia dele, visto que essa tentativa de aproximação só aconteceu pela morte do meu irmão.

Mas não é um motivo isolado. Falo - e sinto - que meu pai para mim é um estranho, do qual tenho má impressão. Não conheço este homem e ele não me conhece. Tentamos algumas vezes, mas sempre me foi dolorido. Meu pai não tem traquejo, por assim dizer. Na primeira vez que me viu, comentou sobre o quanto eu era magrinha quando criança e como tinha ficado tão gorda. Numa outra visita, me lembrou que devia ficar de olho no Yuri para ele não seguir meu caminho (no quesito forma física). Ok, até entendo. Não me orgulho do meu corpo. Não desejo que Yuri siga pelo mesmo caminho. Mas com 25 anos de brecha na relação pai e filha, acho que teríamos coisas mais importantes ou significativas para conversar. Depois do nascimento do Caio, ele volta e meia me telefonava perguntando quando ele iria ficar curado, quais são os prognósticos médicos... E na boa, não aguento esse tipo de cobrança! Me canso de explicar que paralisia cerebral não se cura!

No nosso último contato, ele chorou. Disse que eu era muito fria. Que esperava ouvir de mim um "eu te amo, meu pai". Oi? Já tenho uma vida toda empepinada, não preciso mais uma pessoa na minha vida pra me cobrar beleza física, cuidados com um filho, a reabilitação plena de outro e declarações de uma filha amorosa! Me poupe, mas, na minha concepção, quem me deve é ele!

Nunca mais atendi seus telefonemas.
E lá se foi mais de ano... Mas o ruim é que não me sinto bem com isso.
Penso nele. Penso, como já escrevi por aqui, no único avô que meus meninos têm e não convivem, não conhecem.
Entendo a doença do alcoolismo, já superada.
Entendo a separação com minha mãe e sei hoje que ela também fez sua parte para que ele não nos procurasse.
Às vezes até penso que ele pode ter danos neurológicos pelos anos de bebida...

Nas reaproximações anteriores, imaginei que eu poderia ir desarmada, sem criar expectativas.
Mas não adianta.
Eu sou a filha. Eu fui "abandonada". Eu quero colo.
E aí acho que nossa relação tem tudo pra dar errado.
Porque ambos queremos a mesma atenção. Eu e ele queremos receber, antes de doar.

Ultimamente tenho pensado bastante nele outra vez.
De que está velho, talvez no fim da sua jornada.
Da paz que talvez eu alcançasse se pudesse perdoá-lo e viver, algum tempo, uma relação minimamente sadia.
Se tem assunto mal resolvido (ou não resolvido) na minha vida, este assunto é meu pai.
E isso me dói.

Um comentário:

Cris disse...

Então, como eu disse... super te entendo. Minha relação com meu pai tinha algumas semelhanças com a sua. Sou filha única e meu pai era repressor e machista: ele não queria que minha mãe me colocasse na escola, porque "mulher não precisa mais do que saber escrever o próprio nome" e isso eu já sabia fazer desde os 4 anos, e meu destino seria casar com um cara que ele escolhesse, aos 18 anos, e pronto. Não, eu não nasci no Afeganistão: isso foi em Porto Alegre na década de 70... Só citei esse exemplo para te dar uma ideia da mentalidade da pessoa com a qual lidei por 25 anos, e que se não fosse minha mãe ser a guerreira que sempre foi, não sei o que teria sido de mim. E o que sou hoje é resultado de toda a repressão que vivi.
Eu precisaria de um livro para contar o que foram estes 25 anos, mas o ponto que me identifiquei é essa cobrança dele, de amor. Uma coisa que aprendi: ninguém está acima do bem e do mal por ser pai ou mãe. Isso quer dizer que não existe isso de você ter o direito de ser o pior pai ou mãe do mundo e AINDA ASSIM ter a pachorra de cobrar amor dos seus filhos. Respeito sim, isso é incostentável, mas amor, desculpe: é igual a QUALQUER relação que vc tenha na vida: você tem de volta aquilo que conquistou, aquilo que ofereceu. Meu pai tinha a mesma cara de pau que o seu, de cobrar que eu o amasse, mesmo depois de tudo. E sendo pai, quem sempre esteve em débito foi ele. Eu dei a ele a chance de consertar nossa relação: quando tinha 19 anos, o levei a um psicólogo. Na segunda sessão, ele não quis mais ir (claro: foi desnudado, desmascarado, caiu em prantos no meio da sessão...). Daí joguei a toalha e concluí que eu tinha que cuidar é de mim e dos meus problemas em vez de tentar consertar o que não tinha mais jeito. Meu pai morreu em 1997. Hoje eu o perdoo e tenho até orgulho das coisas boas que ele fez, das qualidades que ele tinha. Mas não sei se, vivo fosse, eu teria conseguido consertar nossa relação e perdoá-lo. Lutar contra a ignorância é uma batalha inglória que só nos desgasta e machuca.