segunda-feira, 14 de março de 2011

Aonde você quer chegar?

Se tem uma coisa que a paralisia cerebral nos ensina é a quebrar convenções.
Para um portador de pc a maioria das coisas mais simples são realizadas de forma diversa àquela amplamente conhecida, aprendida, divulgada. Convencionada.
E, se pararmos para pensar, é fascinante. O cérebro, que não está paralisado, ao contrário do que a maioria leiga pensa, busca incansáveis alternativas para realizar aquilo que se quer.

Quando eu era criança, minha avó comprava anualmente os cartões de Natal da Associação dos Pintores Sem Mão. Eu realmente não lembro se naquela época este era o nome correto da associação, talvez não (hoje é Associação dos Pintores com a Boca e os Pés, conheça aqui) mas na minha inocente visão infantil eram pessoas que não tinham as mãos e pintavam com a boca ou pé. Nunca me ative realmente onde estavam as mãos dessas pessoas.

Meu guerreiro Caio tem duas lindas e perfeitas mãozinhas, que num longo dia lááá atrás correram o risco de amputação. Deus, em sua infinita bondade, não permitiu, mas a paralisia deixou Caio com muito pouca coordenação nas suas mãos. A direita até segura alguns objetos, busca, tenta se alimentar, faz descoordenados mas amorosos carinhos. Há esperança para sua plena funcionalidade. Já a esquerda eu chamo de quase inoperante. Não há força nem coordenação nela. Todo objeto que chega nela ganha um breve afago e se vai...

Dia desses observava ele num de seus recantos favoritos, próximo à janela da frente da nossa casa, onde penduramos alguns brinquedos e colocamos ele em sua cadeira, a aproveitar a "fresca" e ao mesmo tempo olhar o movimento da rua. Há dias que ele fica horas, se deixarmos, ali, entretido.
E eis que o pego buscando suas alternativas.

"O chocalho de borboletas está ali, pendurado.
Mas como fazê-lo mexer e emitir sons, se não consigo segurá-lo com as duas mãos?
Ora, levo uma extremidade até a boca e com a minha maravilhosa mão direita... brinco!!!!"



Sim, não é fácil, não é o ideal. Mas é a nossa condição. E não é impossibilidade.


Olho para meu filho e o vejo tão concentrado, tão esforçado para realizar aquilo que se propõe.
É por isso, só por coisas simples assim, que insisto em sonhar tudo para seu futuro, como sempre compartilho aqui.
Podemos chegar aonde quisermos.
Não precisa ser exatamente pelo mesmo caminho que a maioria percorre.
Afinal alguém aí tem, prontinha, a receita para a felicidade?
O segredo é ir tentando. Não desistir. E caminhar do jeito que dá.
Caio me ensina. Mais uma vez.

3 comentários:

Grilinha disse...

Cláudia, que post lindo....
Ler-te sempre foi inspirador. ADOREI esse post . Beijos para toda a família.

Anônimo disse...

Que lindo este post Dinha.... realmente emocionante.... Meu Lolô tb tem essa dificuldade com a duas mãos mas vira e mexe ele consegue levar alguma até a boca, derrubar algo... e às vezes ele fica horas para tentar fazer uma pequena movimentação e quando consegue é uma alegria só! Agora me diz uma coisa: quem aprende com quem? Minha respota vc já sabe, meu filho me ensinou em quatro anos muito mais do que eu poderia aprender em uma vida inteira. Um gde beijo para vcs!!! Priscila (mãedo Lorenzo)

Marina Mottin disse...

Ensina a ti e mim também. Me emocionei. Lindas e sábias palavras!