Recentemente lhes apresentei aqui a fonoaudióloga Rosana, um novo anjo para o Caio e todos nós. Temos aprendido muito com ela, com sua experiência profissional e como mãe também. A filha dela, de 1 ano e meio, tem um quadro neurológico muito parecido com o do Caio, com uso das mesmas medicações, indicação das mesmas terapias. E ela também tem desabafado conosco, sobre a difícil, e minha conhecida, tarefa de conciliar carreira (nos nossos casos necessária) e a maternidade de uma criança com necessidades especiais. Ela trabalha três vezes na semana e tenta conciliar os cuidados com a filha. A mãe dela cuida na menina nos demais dias, mas, segundo a Rosana, não a estimula o necessário, deixa ela dormir demais e tal.
Para quem ainda não sabe (?), a paralisia cerebral do Caio é decorrente de falta de oxigenação no parto, adiado por uma errôena decisão médica de adiar uma cesárea por 5 dias. Caio acabou nascendo de parto normal, mas as infecções subseqüentes lhe deixaram o cérebro bastante lesionado. Levei quase dois anos para decidir ir atrás do que acredito serem nossos direitos. E um dos fortes motivos na demora da minha decisão é a minha crença pessoal de que cada um escolhe sua missão. Caio não tem paralisia cerebral e não é meu filho por mero acaso ou acidente. Já estava escrito e tanto eu quanto ele, assinamos embaixo.
Mas um dia desses me sensibilizei muito com um desabafo da Rosana, de que nós temos a quem culpar. "Vocês colocam a culpa do Caio ter deficiência no hospital e no atendimento que receberam. Mas e eu? Minha filha nasceu com má formação. Culpo quem?".
Foi esse questionamento, de busca por culpados que me fizeram emperrar muitas vezes. Reitero tantas vezes que o Deus no qual acredito não impõe nada. Não castiga. Não culpa. Mas então, todos os envolvidos comigo e com o Caio escolheram fazer parte dessa história. E eu me perguntei se, ao buscar a justiça dos homens, eu estivesse renegando aquilo que nos foi destinado. Mas, conversando com um iluminado amigo, ele pôde me esclarecer. O mesmo Deus que não impõe, nos dá o livre arbítrio. E se afinal estamos aqui para aprender, e não para uma passagem estática, escolhemos nossas lutas e como travá-las. O essencial é que o imperativo seja o amor. O resto vem como conseqüência dessa escolha maior. Inclusive e, principalmente, mudanças que possamos criar, por nossa livre vontade.
Gostaria de poder dar este alento à Rosana. Nem eu, nem o Caio, nem ela, nem sua filha, estamos sendo castigados ou temos qualquer culpa. Não fomos necessariamente pessoas más em outra encarnação, nem nada disso. Escolhemos estar perto dessas crianças, dessas vidas tão especiais, tão iluminadas. E só posso assegurar que por mais que às vezes seja dolorido, é também uma benção incomensurável.
4 comentários:
Eu que nunca mais tinha conseguido aparecer escolhi justo o dia em que tinhas escrito este post tão lindo.
Quanto mais te conheço mais te admiro.
Beijocas, Márcia
olá Dinha , não acho que ir atras do culpado diminua ao altere sua missão , no seu caso ir atras talvez evite que outros erros do mesmo tipo aconteçam, talvez tb faça parte da sua missão fazer isto. no caso da Rosana ( fono - assim como eu ) AS vezes é muito mais dificil aceitar pq temos conhecimento cientifico do assunto e tem hora que é muito ruim saber tão profundamente certas coisa . Falo isso pq qdo Ric nasceu e ficou na UTI eu queria morrer pq sabia o que os aparelhos diziam , o que os indices significavam , tem hora que agente quer ser só mãe , de preferncia burra. Em tempo Ric saiu logo de lá e é uma criança linda.Desculpe o testamento enem sei se me fiz entender.bj em todos.
Cada dia que passa te admiro mais e mais, por tudo.
beijos,
Rê
Dinha, acho que é isso mesmo. Não adaianta ficar procurando culpados não. Tem que viver da melhor forma possível e tirar e passar tudo de bom que puder.
Beijos querida, em ti e nos meninos!
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