Dia desses, conversando com uma conhecida, ela me disse que só eu mesma para ter o Caio, que só eu sabia lidar com esta situação de ter um filho deficiente, que ela não estava preparada para vivenciar tantas dificuldades.
Fiquei surpresa com o que me foi dito. Eu jamais fui "preparada" para ter um filho com deficiência. Durante toda a gravidez, e ainda quando a bolsa d'água rompeu na 33a. semana de gestação, eu jamais poderia imaginar tudo o que viria pela frente. Na verdade, naquele momento eu fiquei feliz porque iria conhecê-lo antes do previsto. Quando vi meu filho nascendo, não imaginei outra coisa senão que ele estava pronto pra ser capa da Pais & Filhos.
Cada intercorrência que surgiu, cada susto que levamos. Nunca fui preparada pra ter tanto medo e sentir tanta dor. Ainda hoje, não estou preparada pra febre insistente que desperta velhos fantasmas e me tira o sono. Mas o Caio e meu amor por ele me prepararam pra ser a melhor mãe que posso ser. Atenção: não estou me auto-denominando a melhor mãe do mundo! Mas procuro exercer a maternidade dando o meu melhor, de acordo com minhas imperfeições e meus limites.
Quando penso ou mesmo assumo que tenho medos, na maioria das vezes pode soar como medo de que o Caio não tenha a reabilitação que meu coração de mãe tanto anseia. Mas posso seguramente afirmar que o maior dos meus medos é o de não ser forte, de não estar "preparada" para continuar esta caminhada por tempo e caminhos indefinidos.
O sorriso do Caio, sua doçura, o amor que ele demonstra claramente por mim. A ligação linda e forte entre ele e o Yuri. A superação constante medida em pequenos detalhes. O dia-a-dia com meu guerreirinho me prepara pra seguir em frente.
Não, eu não fui preparada para receber o Caio, nas condições em que ele chegou.
Não fui preparada para lutar diariamente pela inclusão.
Não fui preparada para crescer e aceitar humildemente meus pontos mais fracos.
Não fui preparada para criar um círculo de amizades em clínicas médicas e associações de pais de crianças com deficiência.
Não fui preparada para assumir que em alguns momentos sinto inveja, raiva, tristeza. Ou que, por mais contraditório que possa ser, que sinto um orgulho desmedido do filho que recebi.
Não fui preparada para amar e admirar tanto alguém que, aparentemente, é frágil e pequeno.
Mas jamais deixo de agradecer essa oportunidade maravilhosa de amor e aprendizado que o Caio me prepara, diariamente.
5 comentários:
Cada palavra tua...
Eu sinto-a.
Este é um post que tenho de aplaudir de pé , amiga.
É fantástico.
Mas sabes que mais: és ainda mais maravilhosa, não és? E o teu filho, é maravilhoso ! Por isso, Deus ou o destino quis e nós não viramos a cara .
Beijo.
Dinha, ando numa correria mas estava morrendo de saudades de passar por aqui, agora chego e leio esta mensagem linda, profunda que só poderia vir de você.
Acho que ninguém está "preparada", mas é admirável sua sinceridade, sua capacidade de transformar a fragilidade em amor, força, amizade.
É por estas e muitas, muitas outras que eu TE ADORO!
Beijos.
Oi Dinha, lendo sua mensagem, por sinal muito bem elaborada, eu me perguntei, será que todas nós estávamos preparadas para ser mãe? Seja em qualquer circunstância? Mesmo sendo o nosso maior anseio, a maternidade traz muitas mudanças, muita reflexão, muita responsabilidade, muita doação, sonhos que são adiados, vidas que são reorganizadas. Afinal, vamos lidar com um novo ser, apesar de muito amado, totalmente desconhecido para nós. A maternidade é um eterno aprendizado, só variando os os "projetos" e temas do que se vai aprender. Será que me fiz entender? Beijos para vc, seus filhos são lindos!
Ah, Dinha, tanta gente não está preparada pra ser mãe.Tem gente que tem um filho saudável e toma um tamanho susto.
Mas se você não estava preparada, assumiu de coração sua "missão", com todo amor, coragem e dedicação que essa tarefa impõe.Porque ser mãe é uma missão né ? Difícil, cansativa,mas acima de tudo deliciosa.
K
Dinha, lindo post. Também estou aplaudindo de pé.
Entendo o que essa pessoa quis dizer. Acho que talvez ela tenha sido infeliz nas palavras, mas acho que ninguém está preparada pra ver o filho com nenhum problema, muito menos uma deficiência, e menos ainda os problemas, diagnósticos e prognósticos que vc enfrentou com o Caíto pequenininho. Não estar preparada pra essa realidade, é uma coisa muito compreensivel. Mas acho que Deus sabia que vc encararia isso com garra, que amaria o Caio incondicionalmente e saberia como ninguém nos fazer amá-lo também, assim como eu também o amo através das suas palavras.
é isso.
beijos,
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