segunda-feira, 12 de março de 2007

A urgência de ser feliz

Como as coisas são. Semana passada eu estava triste por causa de comentários preconceituosos e ignorantes que ainda se aproximam do meu Caio. Logo em seguida, li um texto maravilhoso da Letícia, em seu blog. As palavras dela não me saíam da cabeça: entrego – confio – aceito – agradeço. Pois afinal, foi assim desde sempre, em nossa trajetória. A minha e do meu Caio. Desde o momento que entramos na maternidade, com a bolsa rompida e os médicos sem querer fazer o parto, alegando os riscos da prematuridade. Foram 4 intermináveis dias de angústia. Mas de entrega absoluta nas mãos de Deus. Sempre confiei que meu filho iria sobreviver. Depois, ao longo da internação na UTI Neonatal, durante várias vezes os prognósticos foram ruins – a meningite, as lesões cerebrais, a hidrocefalia. E eu sempre aceitei, disse que queria e amava meu filho do jeito que fosse, desde que vivo. Agradeci a Deus por cada noite que víamos acabar, por cada novo sol que nascia e que meu pequenino se mantinha ali, lutando.
Entreguei, confiei, aceitei, agradeci.
E assim tem sido sempre.

O preconceito me desestabiliza sim, porque não acredito em tanta ignorância, em tanta agressividade ao que, afinal, é apenas diferente da maioria – não necessariamente normal ou correto. É isso: não sabemos aceitar as diferenças. Mas confio no nosso futuro, na solidez da trajetória que estamos seguindo. Aceito com amor nossos desafios porque certamente eles nos fazem crescer. Agradeço cada momento que vivemos, pois sei que nos aproximamos, nos descobrimos, nos amamos ainda mais.

Ultimamente, o Caio tem refletido os excelentes resultados dos últimos exames. Tem descoberto o mundo. Ele descobriu que, ao tapar o próprio nariz, sua voz sai diferente. E se diverte com isso, fica “conversando” e segurando o nariz com a mãozinha até o fôlego não agüentar mais. E tem se virado rapidamente para buscar objetos com os braços (os mesmos braços que 15 meses atrás eram paralisados!). Dia desses ficou um tempão se arrastando na cama, de bruços, até chegar a uma sacola e conseguir tirar objetos dela. E a fala, então? Ok, nada de “palavras” novas, mas muitas sílabas diferentes. Antes, ele só falava se falávamos com ele. Agora não, quer conversar o tempo inteiro. Semana passada, quatro da manhã e ele estava eufórico em seu berço, cantarolando. Eu acordo às 6h15 pra vir trabalhar! Vim demolida fisicamente, mas cheia de energia interior. Poderia eu xingar a alegria que meu filho sente ao perceber sua própria evolução? Dane-se o relógio! Já perdi noites de sono por motivos muito mais atordoantes. Agora, tudo é festa! Essas conquistas a que me refiro, cheia de alegria, são coisas que qualquer bebê de 4, 5, 6 meses faz? Sim. Mas são vitórias incalculáveis para uma criança com paralisia cerebral.

Sobre o texto da Letícia, que tanto motivou este post; sobre a pergunta cretina que o Yuri respondeu magnificamente; sobre o tempo de desenvolvimento do meu Caio e suas emocionantes descobertas: nas mãos de Deus entrego, na capacidade de meu filho confio, nosso destino eu aceito, nossas vidas agradeço.

Sim, eu amo. Sim, eu não tenho pressa. Minha única urgência é vê-lo assim: feliz.

6 comentários:

Grilinha disse...

Nem eu, amiga. Dois textos lindos...o dela e o teu. Adorei. Um beijo

Anônimo disse...

Dinha, eu acompanho a estória do Caio há mais de um ano, e cada dia mais me surpreendo com o desenvolvimento dele, com as conquistas. Vejo as fotinhos e dá pra perceber que cada dia ele está mais firminho, que ele tem os músculos do corpo todos "cheinhos" como deveriam ser pra idade... Não entendo quem consegue ver qualquer tipo de "atraso" considerando todos os prognósticos dele... Além do olhar que diz o quanto ele é inteligente e esperto.
Lógico que ele não partiu nessa "corrida do desenvolvimento" do zero como a maioria das crianças, ele partiu mais lá de trás devido à todos os problemas que teve, mas vai chegar junto já já, no tempo dele. E o que vale é nesse meio tempo continuar sendo esta criança alegre que ele é, o resto é mesmo confiar em Deus e na força deste guerreiro.
bjs querida!

Isabella disse...

Ah, Dinha, o que mais podemos fazer tantas vezes na vida a não ser entregar tudo nas mãos de Deus. E Ele nunca nos falta, não é? Um grande beijo para todos vocês.

Anônimo disse...

Dinha, fico super feliz e emocionada em saber do grande desenvolvimento do Caio! Ele está cada dia mais esperto, hein?!
Beijos!

Claudia disse...

Oi Xará,
Como me emocionam seus exemplos de fé... fico sempre com o coração cheio de esperanças de que sim, no final tudo dá certo, se não deu certo ainda, é pq ainda não chegou ao fim... é assim que eu vejo "entrego – confio – aceito – agradeço"
Bjs

Anônimo disse...

Dinha queridíssima, não me canso de dizer o quanto fico emocionada com suas palavras e com sua força, do Caio e toda sua família.
Na fono do João há crianças com PC e vejo a evolução e as pequenas conquistas mês a mês.
Vocês já conquistaram tanto e vão conquistar muito mais.
Preconceito é coisa de gente pequena, que não sabe verdadeiramente o valor da vida.

Beijos mil.