quinta-feira, 15 de março de 2018

Às minhas várias mulheres

Semana passada, no Dia Internacional da Mulher, fui agraciada pela Câmara Municipal de Canoas, com o Prêmio Picucha Milanez. Um reconhecimento a mulheres que se destacam por sua atuação, em diversas áreas, na cidade. Fui indicada por meu trabalho pela inclusão de pessoas com deficiência e empoderamento feminino, que realizo via este blog e via minhas palestras. Recebi o prêmio junto a outras 10 mulheres. Fui escolhida como oradora do grupo e ainda tive a oportunidade de apresentar nossa trajetória, dificuldades e desejos de um mundo mais igualitário. Foi uma noite ímpar, jamais imaginada em meus devaneios de reconhecimento.

Mas sabem qual momento mais me emocionou? A hora do hino. Ali, perfilada com as demais homenageadas, cantando o hino da minha cidade, eu chorei.


Aquele prêmio estava sendo dado à menina que nasceu em Canoas, contrariando o desejo machista do pai de ter um filho homem. Que viu seu lar ser destruído pelo alcoolismo e pela violência doméstica. Que foi levada embora, aos 5 anos, para Porto Alegre, para ser criada longe de sua família e muito chorou por isso, sem entender os porquês.

Aquele prêmio foi da estudante que, contrariando as piores previsões do pai que a rejeitou e de uma madrinha que a humilhou e desacreditou ainda na infância, foi a primeira pessoa de sua família a conquistar um diploma universitário, na concorrida UFRGS, aos 21 anos de idade.

Quem recebeu o prêmio, foi a esposa, casada por 22 anos, que repetiu a história de violência doméstica de sua mãe. E que, oprimida pelo sistema, se sentia culpada. Custou mais de duas décadas, mas ela conseguiu se livrar da subjugação.

Quem foi premiada foi a mãe, que teve um filho comprometido para sempre por conta de um erro médico no sistema público de saúde, na hora do parto. E que dessa dor, fez motivação para lutar pela inclusão, acessibilidade e, todos os direitos das pessoas com deficiência.

O prêmio foi para a mulher que uma vida inteira teve problemas com o peso e autoestima, chegando à obesidade mórbida. Mas que, como tudo em sua vida, decidiu que era hora de virar o jogo. Que deixou 35 quilos para trás e quer e sabe que ainda pode mais.

Foi reconhecido o valor da mulher que entre 2010 e 2013 pensava em tirar a própria vida todos os dias, pois não via sentido em tudo de ruim que precisava passar. E que hoje, há 5 anos sem uso de nenhuma medicação, ajuda as pessoas a buscarem motivação e propósito em suas vidas, por mais difícil que pareça. Ela mesma aprendeu. Sempre há motivos.

Ouvindo o hino da cidade que nasci e, mesmo morando fora, eu sempre mantive o vínculo, eu chorei. Onde casei e batizei meus filhos. Onde estava minha família biológica. Para onde sempre quis voltar, e assim o fiz, 28 anos depois de ter ido embora. Voltei ainda infeliz, ainda no olho do furacão de todas as minhas tempestades pessoais. Mas eu sabia que na minha terra as coisas iam melhorar. Foi aqui que conheci pessoas que me estenderem a mão. Que me ajudarem a me reencontrar e me reerguer. A cidade que tanto amo, o meu berço... Premiando todas as mulheres que vivem em mim. Elas venceram! 


E vitoriosas, hoje, elas querem dizer a cada mulher, que elas também podem. Sempre podem. A qualquer momento. Em qualquer idade ou situação. O poder da mulher é imenso. Descubra o teu poder. Acredite nele. A vida te premiará por isso.

Um comentário:

cecisantiago disse...

Bravo!!!!!! Viva!!!!! Uhuuuuuu! Fiu,fiu!!!! Era isso tudo que eu estaria fazendo na platéia aí!! Você é de fato uma Guerreira Dinha! Que Deus continue te iluminando e guinado seus passos! Os meninos estão enormes! Muito feliz por você!
Baijão, Cecília