sábado, 12 de março de 2016

"Eu serei tuas pernas..."

Tenho oito tatuagens. Nenhuma delas fruto de impulso juvenil. A primeira chegou depois dos 37 anos. Todas planejadas, pensadíssimas. Mas a mais significativa delas, completou um ano esta semana.
Foi para Caio. Foi por Caio. E por mim.
Eu acredito que uma das maiores expectativas da família e da sociedade para com uma criança com paralisia cerebral é vê-la caminhando (embora, claro, nem todos os PCs sejam cadeirantes). Ao menos comigo, foi assim.
Quando Caio completou um ano, transferi meu sonho de vê-lo dar seus primeiros passos para o segundo aniversário. O que não aconteceu. Então imaginei que poderia acontecer, quem sabe, no quinto ano, no sétimo... Neste meio tempo - aos três para quatro anos - veio a primeira cadeira de rodas substituindo o carrinho de bebê e um dos primeiros choques de realidade: sim, ele era cadeirante; não, ele não conseguia andar.
Mas a vida foi me trazendo maturidade para entender e aceitar. Talvez ele nunca ande. E nossa - nem a dele, nem a minha - alegria em viver não pode ser atrelada a isso. Não fazemos fisioterapia com o objetivo exclusivo dele vir a caminhar. Onde exerço minha fé, também. Vivemos por onde nos faz bem. A fisioterapia evita atrofias e dores. A fé fortalece a alma para amparar o corpo.
Sempre afirmo que Caio transformou todo o meu olhar sobre a vida e as pessoas. Principalmente me ensinou que ser guiada pelo coração não é sinônimo de fragilidade. Nosso coração é sábio e forte, na imensa maioria das vezes conhece as melhores escolhas, os melhores caminhos.
Então eu assumi, como já disse, especialmente para mim: meu filho não consegue andar. Mas isso não o faz menos amado nem menos feliz. E tatuei a imagem e escrevi este texto no mesmo dia, a sua tradução literal: 
O tempo que preciso for
Ainda que nossas vidas inteiras, meu filho
Eu serei tuas pernas
E serás tu meu coração
Um ano se passou. A gente segue lutando, fazendo fisio e exercitando a fé de que nada é impossível. Mas, principalmente, seguimos sendo alegres e gratos pelo que temos: a oportunidade diária de sonhar, lutar e sorrir. Está marcado no corpo, tatuado em nossas almas.


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