domingo, 24 de maio de 2015

Uma década se passou

O Meus Frutos nasceu junto com o Caio. Da minha necessidade de partilhar uma gravidez que foi vivida sozinha. De precisar colocar pra fora todo o susto, o medo de dar à luz um bebê prematuro e viver quase dois meses na UTI. Em querer encontrar alguém para conversar sobre como era mesmo essa tal de paralisia cerebral. De precisar desabafar todos os sentimentos conflitivos de luto, dor, revolta, amor, esperança.

Mas eis que no último dia 17, Caio completou 10 anos! Sim... aquele bebê pequetito que, segundo prognósticos iniciais, não completaria uma semana de vida. Depois, até lhe concederam - generosa e otimistamente - um prazo maior: um ano! Quando muito. E cá está ele. Completando 10 anos com o sorriso mais escancarado do mundo. Litando sempre, porque né? Ele não veio para esse mundo a passeio, definitivamente. Mas ensinando quem está disposto a aprender: a vida não é bolinho, mas pode ficar mais fácil quando a gente enfrenta ela com alegria.



Uma década se passou e afirmo, sem medo de errar, que cresci com Caio. As atualizações do blog anda esparsas porque não preciso mais desabafar. Aceitei nossa missão e estamos vivendo. Entendi o propósito, fortaleci minha espiritualidade e descubro que está tudo certo, sempre esteve.

Desafios seguem fazendo parte e tenho certeza que nunca cessarão. Assim é a vida de verdade, para todos - com deficiência ou não. De minha parte, decidi que quero falar cada vez menos de deficiência e mais de IGUALDADE. Meu filho passou por um erro médico e ainda luto na justiça. Mas não somos vítimas passivas de nada. Ser deficiente é uma das características de Caio. Porém, longe de ser a mais importante. Essencial a mim é a criança feliz, estimulada e amada que ele é. Não é a cadeira de rodas que o faz diferente de uma maioria. É a alegria em viver.

Hoje penso que se ainda tenho algo a falar é sobre aceitação. Que não exclui as lutas necessárias pelos nossos direitos, por acessibilidade e inclusão. Mas em aceitar o que vem a cada um de nós para viver. Isso não significa que não exista o cansaço, os momentos de apreensão e dor. Apenas significa que aceitamos que eles façam parte - assim como os momentos de alegria, superação e esperança. E que a gente escolheu, aí sim, dar valor ao que nos coloca pra cima e mantém em pé para seguir na estrada.

Vejo o quanto minha vida mudou, quando parei de questionar e aceitei. O quanto minhas lágrimas - que por vezes ainda caem porque, repito, é da vida - deixaram de queimar meu rosto. O quanto a vida fica mais leve. Vejo que os frutos, depois de longa data, amadureceram. E podem apenas ser saboreados. E divididos de outra forma.

Acho que é hora de virar a página...

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