segunda-feira, 5 de março de 2012

O desafio do desfralde

Então que esse post já está sendo gestado há quase dois meses.
E neste período, as coisas já foram acontecendo.
De qualquer forma ele segue válido. Aos sentimentos iniciais, junta-se agora o misto de ansiedade ainda maior e orgulho, como sempre.

Acontece que, a exemplo do que aconteceu com o cocô, Caio tem segurado o xixi. Mais do que isso, se realiza cada vez que o levamos ao banheiro e protesta firmemente, chorando, cruzando as pernas, se negando a colocar a fralda. Eu coloco e ele demonstra claramente sua insatisfação. Daí que comecei a pensar que talvez ele queira e possa sim ser desfraldado.

Como tudo que envolve o desenvolvimento dele, eu acho que existe uma "porção" de mim que tenta sabotar tudo. Eu jamais imaginei que ele um dia deixaria de usar fraldas. Para mim cadeira de rodas era sinônimo de fraldas (no caso dele, que não aprendeu estas etapas iniciais). E aí eu fico criando barreiras para não tentar.

Tenho preguiça, sim. Tenho medo dele não conseguir e se frustrar. Confesso: tenho medo dele não conseguir e EU me frustrar. Tenho receio de que, a exemplo do que acontece com qualquer criança, ele tenha períodos de "vazamento" e seja visto como um cadeirante sem higiene ou sem cuidado. Eu juro que não sei porquê, mas tudo em mim diz NÃO.

Converso com a psicóloga, discuto o assunto no grupo de pais. A maior dificuldade dos pais de crianças com deficiência é deixá-las ter autonomia. Por excesso de zelo, amor. Por querer protegê-las de tudo e todos que possam vir a magoá-las. Mas eis que a vida magoa a todos, deficientes ou não. Eis que todos um dia ouvirão um não, serão de alguma forma rejeitados... Ninguém é unanimidade sempre. E com nossos filhos não é diferente.

Lembro dos "médicos-urubus" como eu os caracterizei. Aqueles que me diziam que esperança era uma utopia sádica, que nos fazia querer o impossível e sofrer por não conquistá-lo. Do "doutor" que um dia me disse "Não adianta ter esperança, desista. Seu filho NUNCA vai ter nenhum tipo de avanço ou desenvolvimento".

E aí, bem neste momento, entra em cena Caio. O menino que não desiste. Que teima em desafiar as probabilidades e a lógica. O guerreiro Caio, como eu o chamo. Aquele que nasceu para vencer!

O menino que eu tenho em casa, que balbucia palavras, que se alimenta de comida de consistência praticamente normal, que respira sem suporte de oxigênio, não é o menino que a tomografia que apontava 80% de lesão cerebral previa no futuro. O menino que eu tenho em casa é este que vocês lêem por aqui, acompanham nas redes sociais. É uma criança feliz, que brinca a seu modo, que interage muito bem, que vai à escola, que adora música e futebol. E que decidiu que não quer mais usar fraldas.

Ele pode não saber se expressar com as palavras-padrão.
Mas há quase dois anos decidiu que o "número 2" ele só faria no banheiro, como qualquer criança de quatro anos. E agora, está chegando a vez do xixi.
Ele ainda não sabe expressar, se fazer entender. Mas segura ao máximo, aguardando a hora que ele acredita que alguém o levará ao banheiro. E a fralda, com raras exceções, vive seca.

Comentei lá na escola e a monitora dele começou a incentivar.
O resultado é que, em apenas uma semana, ele tem ido ao banheiro todos os dias na escola. Fazendo o serviço completo (número 1 e 2)! Tá super à vontade.

Se ele vai conseguir plenamente? Eu já não duvido de mais nada.
Que Caio não veio nesta vida à passeio, a gente já sabe.
Que ele é um lindo, também.
E ainda assim, não canso de me impressionar com sua dedicação e força de vontade em viver bem. Na condição dele. No tempo dele.

Que Deus siga te abençoando, meu filho.
Eu, como sempre, só tenho a agradecer a oportunidade de ser tua mãe e nunquinha parar de aprender contigo.

3 comentários:

Bárbara Szücs disse...

Dinha, parabéns por querer, assim como o Caio, sempre progredir. Acredito sim que muitos dos nossos medos limitam nossos filhos. Mas não podemos nunca deixar de olhar para eles com "olhos de achar" (como diz a filha de uma amiga), com olhos que procuram mudanças, avanços, e não olhos fechados para o desconhecido. Beijo grande!

Amábile disse...

esse menino pode tudo ! bj

Amanda disse...

Olá,
Parabéns para você e para o Caio!
Poderia me contar como fez na prática para realizar o desfralde?
Se quiser pode me escrever in box.
Sou psicopedagoga e estou com dúvidas para ajudar uma criança cadeirante e seus pais. Estou a procura das práticas que deram certo.
Tenho um filho autista, o processo de desfralde foi complicado mas conseguimos. Agora, gostaria de ajudar essa família com a criança cadeirante.
Agradeço desde já a atenção,
Abraço
Amanda
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Autismo e Maternidade Fênix
Amanda Marchioreto