quinta-feira, 28 de abril de 2011

Medos e palavras

Caio, o meu filho-coragem, veio a esse mundo com o propósito (um entre vários) de me fazer aprender a lidar com meus medos. Medos esses que vêm, quase sempre, personificados primeiro por uma palavra. Envoltos em pré-conceitos, naquilo que a gente acha que sabe a respeito de.

Antes mesmo dele nascer, durante nossa internação, eu já tive um medo imenso de perdê-lo. Medo esse que me acompanhou, mais fortemente, por cerca de 15 dias ainda após o seu nascimento. Logo em seguida, eu ouvi uma palavra muito assustadora: meningite. E na carona dela, veio outra: seqüelas. Quando eu achei que tinha garantido fôlego para lidar com elas, na prática, a sucessão continuou: hidrocefalia, dvp, cirurgia. Haja coração!

Outras palavras bem feinhas, aparentemente complicadas, surgiram: cranioestenose (ô pânico!), a própria paralisia cerebral, deficiência... Algumas até são corriqueiras, a gente sabe o que significam, mas ainda assim nos assustam muito quando entram direto em nossas vidas.

E o medo da epilepsia, das convulsões? E o fantasma da hepatite que surgiu? São isso mesmo, fantasmas. Tento me libertar deles, mas volta e meia me rondam. Tento fazer com que não sejam limitadores do nosso modo de viver. Estão ali, mas, graças ao bom Deus, sem muita valorização nos últimos tempos.

O episódio da primeira cadeira de rodas é uma história à parte. Como chorei, como neguei, como sofri e tive medo dela ser um sinônimo de prisão e incapacidade para meu menino! Hoje sei que a cadeira poder ser uma maravilhosa ferramenta de inclusão e liberdade. A segunda, trocada devido a seu crescimento, foi aguardada e vejo claramente o conforto que ela proporciona ao Caíto.

Vou ser sincera: tenho meus piores dias. Mas quando passei, a seu devido tempo, a encarar de frente essas palavras que tanto me amedrontaram, elas foram se tornando menores. Menores do que minha fé, do que meu amor, infinitamente menores do que nossa luta. Se tornaram coadjuvantes da nossa história, do destino que temos a cumprir e evoluir.


Hoje tenho dois novos medos que se aproximam.
Caio tem que fazer uns exames para avaliar a possível necessidade da troca da válvula, devido ao seu crescimento. Se tem uma coisa que me congela de medo é uma nova cirurgia, embora Cainho tenha dado show no seu primeiro procedimento, com recuperação fantástica. Estou protelando uns dias, por mais que racionalmente saiba que não adianta.


E outro medo, atualíssimo porque é inédito em nossa trajetória, é o da prescrição de aplicação de botox para aliviar a espacidade de suas pernas. É algo que quase 100% das crianças com paralisia cerebral fazem, os resultados costumam ser muito positivos. Ainda assim, sofro por antecipação, pois também me dizem que é bastante doloroso. E eu pegava todas as dores do mundo pra mim, mas acho que meu filhote já teve sua cota de sofrimento físico por essa e por umas próximas encarnações. E aí é o medo de simplesmente ter que vê-lo passar por uma dor e tentar fazê-lo entender que só permito isso por amor e pela crença de que dias melhores para ele sempre virão.

Às mães que passarem por aqui que tenham experiência com o botox em seus filhos, agradeço se me esclarecerem mais à respeito.
Hoje eu tenho medo. Mas sei que, como tudo, vai passar. E vai ficar o aprendizado.

Um comentário:

Keylla Amelotti disse...

Dinha, daqui de longe consigo entender seu medo e aflição. Acho que para quem sabe da história de vocês e tem um filho, não é difícil se colocar no seu lugar e imaginar como seu coração fica num momento desses. Digo imaginar pois acho que só quem vive a situação consegue perceber a verdadeira dimensão da coisa, do mesmo modo que, às vezes, passar pela situação é às vezes menos doloroso ou aflitivo que a gente imagina, talvez por culpa do nosso nosso "medo do que a gente acha que pode ser".

E por isso tudo, por acompanhar o que você compartilha conosco, pelas poucas vezes que conversamos, por ser mãe, te digo: Vocês vão superar ambos os medos, mais uma vez serão vitoriosos e mais uma vez você vai dizer quanto foi bom ter superado esses medos. Tenho certeza.

Bjão.