sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Siglas

Eu, como toda mãe, considero meus filhos meninos especiais. Acho que são os mais lindos, os mais espertos, os mais amorosos... Mas me sinto desconfortável quando chamam o Caio, por sua deficiência, de "especial". Sinto nesta palavra um preconceito velado, como li certa vez num blog. Entendo que as pessoas tenham medo, talvez, de me ferir. Eu mesma custei muito a usar a palavra correta: deficiente. É o que meu filho é. Não é um adjetivo que o desqualifique, é a sua condição.

Houve um tempo em que se chamavam os deficientes de PNEs -Portadores de Necessidades Especiais. Não sei de onde surgem essas siglas. Hoje, é mais usado o PPD - Pessoa Portadora de Deficiência. Acho mais correto. Mais abrangente, mais igualitário.

Especialmente neste momento em que visitei escolas à procura daquela que me pareça ideal para o Caio este é um pequeno detalhe que me chamou atenção. Pode parecer - e talvez até seja - besteira minha, preciosismo... mas meu filho não é portador de nenhuma necessidade especial. As necessidades dele são as mesmas de qualquer outra criança, de qualquer outro ser humano. Ele precisa ser respeitado em sua individualidade. Ter o direito de ir e vir livremente. Precisa ser escutado, ainda que não fale. Precisa ser bem alimentado - ainda que seja em sua dieta restrita. Precisa ser bem higienizado, sem preconceito. Não pode nem deve ser subestimado. Deve ser estimulado.

Obviamente que, enquanto cadeirante e portador de paralisia cerebral, há que se fazer adaptações que sim, são necessárias. Mas para garantir seus direitos básicos - saúde, educação, sociabilização - e não "necessidades" especiais.

A sociedade precisa entender que acessibilidade não é apenas um problema de portadores de deficiência. É um problema para pobres, homessexuais assumidos, minorias étnicas, obesos. Para todos aqueles que, de algum modo, são diferenciados. Mas, como sempre digo, a inclusão começa em cada um. Em não se automaquiar, buscando disfarçar sua imperfeição. Claro que existem momentos em que sonho com meu Caio mais igual às demais crianças, andando, brincando, interagindo. Mas afirmo com toda a verdade do meu coração que não é vergonha nem algum sentimento de inferioridade que impulsiona meu desejo. É um simples e natural anseio materno. Porque hoje entendo que a vida se tornou, se não mais fácil, mais leve, ao assumir meu filho como ele é: o mais lindo, o mais esperto, o mais amoroso E uma pessoa portadora de deficiência. Meu amado PPD!

Um comentário:

Luiza Coelho disse...

Quem não é portador de deficiencia que atire a primeira pedra... eu sou e tenho muitas... busco me aperfeiçoar mas não é fácil... e os obstáculos me ajudam a crescer... detesto palavras e termos taxativos... detesto pessoas que ficam mudando o termo pra ele ficar bonito... o importante é que o outro entenda a mensagem.. ppd, ppne, especial... tanto faz contanto que aja boa intensão e respeito... Amo o termo especial pq vc só descobre o verdadeiro valor dessa palavra quando convive com uma pessoa que tem alguma dificuldade e que te mostra o que é realmente importante na vida, que te melhora e te faz enxergar que vc tbm tem dificuldades que passam despercebidas pelo dia a dia...
Lu é muito especial... mas só vai entender o sentido dessa palavra pra mim quem tiver oportunidade de conhecê-lo...
deficiente todos nos somos.