terça-feira, 5 de agosto de 2008

Verás que um filho teu não foge à luta

Caio é, definitivamente, meu tudo. Meu ídolo, minha luz, meu mestre, meu grande amor. Meu filho, meu orgulho desmedido, meu guerreiro valente.

Estivemos 7 dias na UTI. Uma tragédia, um retrocesso imenso, pensei de início.
Mais uma grande lição deste homem gigante que tive o privilégio de dar à luz.

Após 48 horas de vômitos e dor abdominal que pareciam se intensificar, levei-o para consultar com sua pediatra, a Jaque, no PA. Estava quase certa de que receberia o laudo indefectível: “virose”. Mas minha neurose crônica insistia: era melhor levá-lo. Hoje sei que, se não foi instinto materno apurado, foi providência divina.

Caio já chegou desidratado, foi conduzido imediatamente ao soro. Os exames eram inconclusivos: não era quadro viral, não havia foco infeccioso aparente. Mais de 16 horas até a confirmação: hepatite de origem medicamentosa. Liguei imediatamente pra neurologista dele, que ficou em contato com a equipe que o atendia no hospital. Essa minha decisão também teve o dedo de Deus: Caio convulsionou duas vezes, na quarta, dia 23, à tarde. Eu não agüentei o tranco. Nunca havia acontecido. Achei que o estava perdendo. Larguei ele nos braços da minha mãe e andei atordoada pelos corredores do hospital. Liguei, mandei torpedos para meio mundo. Eu queria que alguém me dissesse que aquilo não era verdade, que não estava acontecendo. Mas, infelizmente, não dava.

Quando tive coragem de vê-lo, ele estava estabilizado. Tinha tomado um forte medicamento na veia. Mas veio o segundo baque: era preciso interná-lo na UTI pediátrica.
Descobri o quanto essas 3 letras ainda me apavoram. Os velhos fantasmas, que eu quero tanto enterrar, estavam ressuscistados.
Perdi completamente a fé que tanto gosto de trazer comigo. Mais uma vez, achei que estava perdendo meu Caio. E perdi as forças pra lutar.
Quando os médicos terminaram de “acomodá-lo” no leito isolado da UTI e me chamaram para vê-lo, eu neguei. Tive que cavar um restinho de coragem pra ir lá e encará-lo inconsciente, no oxigênio, cercado de fios e aparelhos.

Segurei sua mãozinha e disse baixinho... “Tá bom, meu filho, eu aceito. A nossa história começou exatamente assim, eu segurando uma mão minúscula através de uma incubadora. Se tu quer lutar de novo, vamos lá, eu tô contigo. Eu não tinha me programado pra essa, mas sempre vou estar ao teu lado, meu amor”. Me senti uma fraude, porque não consegui conter a cachoeira de lágrimas, o meu medo de que não íamos conseguir de novo era imenso... Mas foi o que tentei passar pra ele. Ainda assim, não tive coragem de passar a primeira noite lá. Eu precisava achar dentro de mim, bem quietinha, a famosa fé, e ela, naquele momento, parecia fugir alucinadamente de mim... Eu tava muito de cara com meu Pai, puxa como ele podia nos sacanear mais uma vez! Então, tava muito f*da encontrar essa fé... Não consegui dormir a primeira noite, o medo de que o telefone tocasse a cada instante, o vazio imenso que a ausência do Caio trazia.

E para o Yuri foi muito difícil também. Lá fomos nós, mais uma vez, fazer uma gorda mala com roupas, livros e brinquedos. Ia começar o rodízio dele, nas casas de avós, tias, dindas. A insegurança bateu forte nele e ele me perguntava: “Por quantos dias, mãe?”. E, infelizmente, eu não tinha nenhuma resposta.

Um dado que foi essencial, foi o atendimento que tivemos no Hospital Universitário da ULBRA. Um hospital muito bem equipado, com materiais de última geração, mas com aquilo que, acredito, é o mais importante: atendimento humanizado. Na primeira manhã pós UTI, um querido enfermeiro veio conversar comigo, de que o Caio estava estável e me confortar – ele ia ficar bem, as convulsões do tipo parcial que ele tinha tido não costumam deixar seqüelas. Tudo ia dar certo, me disse o Alti. Não era o seu papel "profissional", mas ele nos deu o conforto que tanto precisávamos. E eu consegui conversar com o Caio, apesar de sedado, como eu gosto: confiante de que sim, íamos vencer de novo. Foram 48hs de sedação por conta da forte dor que ele sentia e pela dose de ataque do novo anticonvulsivante, para evitar novas crises. Meu coração estava na mão. Vendo minha preocupação, meu nível de informação e acho, especialmente meu interminável amor – eu cantava, conversava muito com o Caio, o alisava, mesmo sedado – os médicos me ajudavam (eram tantos fios e eletrodos) e ele era posto no meu colo. E é impressionante, quando eu o segurava, seus batimentos cardíacos e níveis de saturação (respiração) ficavam em seu melhor percentual. O médico-chefe olhou para sua equipe e afirmou “Colo de mãe é o melhor analgésico do mundo, cura tudo. Nunca esqueçam”.

Ele ficou mais estável e pôde ser transferido para a UTI Intermediária ou Semi-intensiva. Os níveis do fígado responderam rapidamente, começando a normalizar. A alimentação voltou a ser administrada, mas inicialmente via sonda. Ele ainda estava muito sonado, era hora de começar a reagir me diziam os médicos. E eu estava louca pra tê-lo de volta. E isso aconteceu no terceiro dia. Eu tinha levado o MP4 com sua trilha Cocoricó, para alegrá-lo. Quando ele acordou e sorriu ao ouvir os primeiros acordes de suas musiquinhas, eu chorei muito. Agradecida. Era ele, o meu Caio, que tanto amo. Me convenci mais uma vez de que o amo loucamente como ele é. Prometi à mim mesma que por mais que eu nunca me acomode, não vou mais criar expectativas sobre a reabilitação dele. A maneira como ele me olha, como nos ama, interage conosco, se mostra feliz em família... Isso é tudo que posso desejar de um filho tão amado.

A partir daí, foi um dia melhor do que o outro. Caio me olhava e me dava a certeza de que venceria de novo. Tivemos uma febre, um susto no meio do caminho. Mas ele já não corria mais risco de vida e me enchi de orgulho de sua valentia. Eu conversava com Deus e tentava entender as lições que estava recebendo, mais uma vez. Os médicos todos, unânimes em elogiar o quanto ele é bem cuidado, o quanto ele é esperto e interativo para seu quadro neurológico, o quanto é sadio e forte.

Caio é um menino muito obediente. Pedi à ele que não se "envolvesse" demais com a equipe médica, que sua estadia fosse breve. Inicialmente se imaginava ao menos 15 dias de internação para normalizar o fígado. No oitavo dia, recebemos alta. Caio venceu! Mais uma vez!
Tomara que eu nunca mais precise passar por outra dessas pra aprender um pouquinho mais com esse menino iluminado sobre coragem e amor à vida.

Mas ainda assim, reforcei meu aprendizado.

Não somos nada nesta vida.
Nada é mais importante do que amor e saúde. Nada é mais valioso nem mais urgente.
Meus filhos são meus tesouros e não tenho missão mais importante nesta vida além de ser a mãe deles. Tudo o resto pode vir depois.
Minha casa – que tanto me queixo dela – é o melhor lugar para estar, quando meus filhos estão lá, felizes e sadios.
Minha mãe – apesar de nossas inevitáveis diferenças – é minha grande parceira nos cuidados e no amor ao Caio.
Minha família é imensa. É todo mundo que ligou, orou, mandou torpedos. Sou grata a cada um que ouviu meu choro, compartilhou meu medo, torceu e acreditou que daria certo. Acredito demais na corrente do bem e sei que ela, mais uma vez, fez pelo meu Caio.
Algumas mãos que esperei, não foram estendidas. Tudo bem. Deus mandou várias, muito afetuosas e generosas. Inclusive a Sua própria.
Agradeço termos passado por isto. Foi muito difícil, doloroso. Mas pudemos superar e, por mais contraditório que pareça, me deu ainda mais confiança em nosso futuro. Seremos muito felizes. Caio é amado e sabe disso.

Todas aquelas lições de 2005 foram renovadas.
Saber lidar com o inesperado, sabendo que por pior que possa parecer no momento, é sempre uma oportunidade de aprender e crescer.
Que a saúde é o bem mais precioso, a maior riqueza.
Que os amigos são um forte e necessário esteio.
De que generosidade e humildade nunca são demais.
E que amo, amo, amo demais Yuri e Caio.
Amo-os pra sempre.
Amo-os acima de tudo.
Amo-os incondicionalmente.

Saúde e luz.

É tudo o que precisamos para sermos felizes.
Assim seja!

14 comentários:

Isa disse...

Dinha, meu amor... depois escrevo melhor. Agora estou mergulhada em lágrimas de emoção com o seu relato. Um beijo carinhoso, do fundo do meu coração. E toda a minha admiração por essa mulher tão especial que você é.

Anônimo disse...

Dinha querida. Tbm fiquei muito emocionada com este relato, e cada dia mais admirada de ti como pessoa! Não tenho nem palavras pra expressar o que sinto, sei que é muito especial.
Beijo, no fundo do coração!

Renata disse...

Dinha querida, estou emocionada, muito emocionada e feliz, muuuuuuuuuuuito feliz.

Vocês venceram mais uma vez, o Caio venceu mais uma vez. Guerreiros como vocês são não poderia mesmo ser diferente :)

beijos do fundo do meu coração,

Anônimo disse...

Dinha, não consigo escrever. só faço rezar e agradecer a Deus por mais essa vitória. Não consegui te ligar - achei que te incomodaria demais. Mas eu estou aqui, querendo correr te dar um abraço e te dizer o quanto você é importante para mim. Caio e Yuri são muito queridos para mim. E para meior Brasilzão! Te amo! Você é uma luz que Deus colocou em minha vida. Conte comigo, sempre, viu?

Anônimo disse...

Querida... Ainda enxugando as lágrimas, te digo que a gente aprende tanto em momentos como esse, apesar da dificuldade em entender o exato "porquê". E vc é tão iluminada que aprende e ensina aos "alunos da vida" o quanto é impoportante ser bom, ter fé e lutar...
TE AMO
Promete que dá um abraço no Caíto e outro no Yuri, por mim e pelo Gui?
beijos
Bi

Anônimo disse...

ufa! que bom que tudo terminou bem! que Deus sempre os proteja. abraços vale.

Anizia e Donisete disse...

Viva o Caio.É guerreiro este guri! Graças a Deus e aos intensos cuidados, está novinho em folha, estou com saudade daquele sorriso lindo. Descansa bastante, depois combinamos um sábado de comilança aqui em casa. Diz ao Caíto que vou fazer um pudim bem gostoso pra ele. Beijos ao Yuri, grande irmão.Beijos. Anizia, Nenê, Carol e Lipe.

Anônimo disse...

Dinha, só queria dizer cnco palavras: eu amo demais essa família! E torci muito para que as lições deste episódio fossem todas apenas positivas como você relatou. Bjão grande e confie sempre nesta sua intuição materna. Eu confio!

Alessandra disse...

Dinha, seu post me levou as lagrimas. Mas agora de felicidade por vocês terem vencido mais essa.
Que Deus os abençoe a todos, vc, Caio, Yuri, sua mãe e o Sandro !
Beijo carinhoso

Grilinha disse...

Estou muito emocionada com tudo. Entendo tão bem cada palavra tua.

Viva cada dia, feliz, e aproveite. Vou acrescentar algo mais num mail, mais tarde. Um beijo

Anônimo disse...

Nem sei o que te dizer, só sei que orei mto por ele, mesmo não tendo te escrito email, torpedos, lv... Mas saiba, que orei, que torço tmo por ele, e por vc!!!
E saiba, sempre. Que cada vez, que entro em seu blog, tenho ainda mais a certeza, da luz que vcs tem, do amor que teem um pelo outro, no qto vc é guerreira e uma mãe a se seguir de exemplo... Saúde pro Caio... Saúde pro yuri, e pra vcs... Amor, paz, felicidades!!!
Bjs

Anônimo disse...

Dinha, o Caio é tudo de bom, amiga! E como você consegue escrever e a gente sentir daqui o que você sentiu daí!

Anônimo disse...

Dinha, o Caio é tudo de bom, amiga! E como você consegue escrever e a gente sentir daqui o que você sentiu daí!

Anônimo disse...

Dinha querida! Senti no peito seu relato, quando internei a Bia super desidratada com virose, um filme passou pela minha cabeça, mas esses nossos guerreiros são cada dia mais vencedores! E o Caio então não desistirá nunca de vc!
Amo vcs do fundo do meu coração!!!
Beijo Grande!