Desde muito pequena, carrego comigo muitos sonhos. Ter filhos era um deles. Escrever um livro é outro, acalentado desde a mais tenra idade. É inerente ao ser humano. Mas, depois do nascimento de Caio, sonho, meta, objetivo, tornaram-se palavras com um peso e um significado diferentes, bem mais profundos.
Diagnosticada a paralisia cerebral de meu filho, eu estabeleci como meta que iria dedicar o melhor de mim e dos meus dias para lhe oportunizar todas as chances de reabilitação possíveis. E ainda que eu tenha plena consciência da extensão de sua paralisia, costumo dizer que sonho grande para ele. Sonho vê-lo andando. Sonho vê-lo cursando uma faculdade.
Coloquei as palavras meta e sonho, propositadamente, em seus contextos mais clássicos. Meta, consta no dicionário, é alvo. Algo que se deseja atingir. Objetivo. Já sonho está apresentado como: Aquilo com que se sonha. Fantasia ou ilusão. Desejo. Aspiração.
Ou seja: meta, objetivo, são racionais e plausíveis. Sonhos são sentimentalismos impossíveis. Será mesmo?
A meu ver, são praticamente sinônimos, quando a ambos dedicamos nossos esforços. Sim, estabeleci a meta de dedicar o melhor de mim para as atividades de reabilitação de Caio. E assim tem sido, com pesquisas, conversas com profissionais, outras mães. E vamos construindo nossa história de superação frente aos piores prognósticos médicos. Sim, sonho em vê-lo andando e cursando uma faculdade. E para tanto, dedico a estes sonhos, minha completa entrega e dedicação, levando Caio para suas atividades, por mais difícil que às vezes seja - e acreditem, na maioria das vezes é. Acho que se existe diferença, talvez esteja na paixão.
Posso ter uma meta na vida e ser completamente apaixonada pelos caminhos que talvez me conduzam até ela. Mas, sim, os sonhos são aqueles planos que tomam conta de nossa alma até mesmo quando dormimos. Sonhos são aqueles objetivos que muitas vezes renegam a realidade imposta em nome de um idealismo chamado "eu vou conseguir". A meta é planejada; o sonho é impulsivo. A meta é coerente. O sonho é visceral.
O romantismo do sonho reside de superar o tempo, a ansiedade, os planos e sobreviver unicamente da esperança de deixar de ser sonho e se tornar realidade. Ainda que ele seja arduamente trabalhado. Tal como uma meta.
Passados nove anos do diagnóstico da paralisia cerebral do Caio e seu imenso comprometimento, ouvindo pérolas como "a senhora não deve esperar NADA deste menino" ou "ele NUNCA vai ter NENHUM tipo de desenvolvimento". Alternando meus momentos de exaustão, medo e descrença com aqueles da mais forte confiança, perseverança e energia.
A resposta começa a surgir. E eu digo: como é bom sonhar. Como é bom lutar por nossos sonhos. Como é maravilhoso entregar-se apaixonadamente a um objetivo de vida e fazer dele a inspiração de todos os nossos dias.
Não importa o tamanho do sonho. Não há sonho pequeno ou demasiadamente grande.
Sonhos são sempre sonhos.
Sonhos nos levam mais longe do que a razão nos diz ser possível.
Sonhos nos elevam à nossa capacidade máxima de fé, coragem e realização.
Eu ouso dizer que só quem sonha vive a vida em sua verdadeira intensidade e propósito.
Tente. Vale muito à pena.