Todo
mundo acha que sabe o que é sucesso. Se não numa palavra ou num conceito
propriamente dito, num contexto. Sucesso é ter fama. Reconhecimento. Dinheiro,
por que não? Seria o sucesso também ser admirado, imitado, citado?
Nos
meus inocentes suspiros adolescentes, eu sonhava ser jornalista e, mais tarde,
publicitária, curso superior que de fato conclui. Mas eu sonhava muito alto.
Sonhava em ser famosa, rica, premiada em Cannes, entrevistada em revistas de
cunho intelectual ou empresarial. Me imaginava dando palestras, viajando o
mundo. Hoje, rio disto tudo. De tanta inocência mesmo. E de tantos
estereótipos. Mas durante muito tempo, não ter trilhado este caminho me fez
sofrer.
Olhando
para trás, vejo que não me dediquei à carreira como deveria para atingir tais
objetivos. Não a priorizei nunca. Minha família, minhas realizações pessoais e
minha consciência sempre estiveram em primeiro lugar. Quando eu tinha apenas 23
anos, eu larguei uma agência onde eu estava indo muito bem, com reconhecimento
de clientes importantes como a redatora favorita deles. Deixei o emprego para
cuidar da minha avó de criação, então com 86 anos. Fiquei 6 anos longe do
mercado de trabalho. Porque, nesta “brecha”, optei então por cuidar 100% de
outros sonhos: casei, tive meu primeiro filho, cuidei dele por um ano. Só
depois que minha querida vó Piti partiu, retomei a vida de publicitária. Que
durou mais 5 anos, até a gravidez inesperada do Caio. O parto prematuro e tudo
que adveio dele, me deixou mais um ano em casa. E lá fui eu tentar ser uma
profissional de sucesso outra vez.
Mas,
confesso, depois da chegada do Caio, nunca mais fui uma publicitária em paz.
Até tive momentos de satisfação porque, sim, ainda existia (e deve existir
sempre) um ego que gosta de reconhecimento e elogios. Cheguei a chefiar uma
equipe de criação. Fui promovida à gerente de filial! Só que todo dia, ao
chegar em casa e ver aquele meu pequeno, tão guerreiro e tão frágil ao mesmo
tempo, eu me questionava se estava fazendo a escolha certa. Fui muito
profissional e me orgulho disto. Jamais deixei cliente na mão ou trabalho
pendente, mesmo nos piores momentos, com as primeiras crises convulsivas, a
hepatite medicamentosa, o retorno à UTI pediátrica. Sempre repassava tarefas e
deixava um sucessor devidamente qualificado para assumir o andar da carruagem.
Mas meu coração de mãe sofria. Se cobrava. Até que dois anos depois, voltei pra
casa. Dessa vez para ficar.
Lá
se vão quatro anos e não foi uma escolha pacífica. Sempre me perguntava o que estava
fazendo com tantos anos de estudo, com tanta dedicação ao meu sonho de ser
publicitária. Com o rumo que o primeiro e festejadíssimo diploma universitário
de minha família tomou... Achava que ser “só” dona de casa era um atestado
múltiplo. De fracasso. De incapacidade de lidar com a maternidade. De
comodismo.
À medida que os anos foram passando e as coisas acontecendo, fui encontrando mais tranquilidade na minha escolha. E entendi que nunca houve escolha. Não poderia haver. Meus filhos eram minha escolha primordial. Especialmente no caso do Caio, não sou nem um pouco modesta em ter certeza que é a minha participação integral em sua vida, em seu cotidiano, que ajudaram a transformar 80% de área cerebral lesionada em apenas 5%. Sei que é meu amor, estímulo maior em forma de presença diária, a terapia transformadora que leva um menino inicialmente condenado a viver de modo vegetativo a romper mais e mais barreiras. Não tenho a menor dúvida de que é a minha escolha por ele o combustível daquele sorriso lindo.
E
aí volto a me perguntar: o que é o sucesso? No meu caso, é ver que faço o
melhor do que me propus a fazer. Que tenho talento para lidar com as
adversidades, criatividade para lidar com as crises, persistência para
empreender nossas lutas. Tudo com uma alegria talvez maior do que a que sonhei
encontrar na minha profissão. Meu diploma foi em vão? Não acredito. Minha
formação faz de mim uma mãe curiosa, inquieta, que busca informação em todos os
meios. E alguém diga que deixei de fazer campanhas? Recém citei no post anterior a banhita, o
caipira, o sonho conquistado da equoterapia através de um vídeo “promocional”
de Caíto... E talvez algo maior, que seja dividir a minha luta por aqui, nas
redes sociais, através de palavras que se tornaram a minha própria vida. É
saber que tudo valeu a pena. As experiências, o estudo, as amizades. As dores.
Os sustos. Tudo é aprendizado. Sucesso, paro para pensar, é ser feliz em nossas
próprias escolhas.
Então, está tudo
certo.
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