segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Errar é humano

Todo mundo erra. É da natureza humana sermos falhos. E me parece óbvio que ninguém erra intencionalmente. O errado mesmo é quando o que era uma eventual fatalidade é fruto de descaso. Todo mundo erra. Até mesmo os médicos. Porque, antes de tudo, são humanos. Mas infelizmente nem mesmo eles sabem disso.

Conversando com a fisioterapeuta do Caio me choco ao saber que as estatísticas apontam que mais de 90% dos casos de paralisia infantil ou neonatal têm origem no erro médico. Dá pra visualizar que a cada 100 crianças, mais de 90 são absolutamente sadias e normais até se defrontar com a imperícia de um profissional médico? Deste universo, menos de 10 têm seqüelas neurológicas decorrentes de doença, acidente ou má formação. São vítimas de um erro praticamente irreparável: o pecado da soberba.

Pela minha vivência com o Caio, em dois universos bem distintos - um hospital público (mas de grande referência nacional, inclusive com uma UTI Neonatal certificada em nível sul americano) e um plano de saúde privado, convivi em ambos com dois tipos bem distintos de médicos: profissionais maravilhosos, dedicados, que se envolvem com o paciente e sua família e lhe decifram o universo (ou tentam, juntos) de prognósticos e terapias; e um grupo de médicos que se acham superiores, que trazem em si o conceito cavernoso de que o título de “doutor” lhes confere uma aura quase divina, desacreditando em tudo o mais ao seu redor e deixando bem claro ao que está sendo atendido de que eles, os médicos, são onipotentes e oniscientes e que o paciente só está à sua frente porque não é normal, porque tem uma doença.

Acredito piamente que o erro médico é fruto maior e direto desta arrogância. Desta auto-estima inflada. Desta prepotência que, na grande maioria das vezes, desacredita em Deus. E aí, também entra um mérito que brilhantemente me alertou a maravilhosa neurologista do Caio, quando falávamos do já “famoso” neurocirurgião que me disse que não deveria esperar nada do meu filho, porque era um caso sem perspectiva nenhuma de melhora – acreditar em Deus é algo extremamente pessoal, mas ao lançar uma frase desta força, o médico está desacreditando em sua própria profissão e nos recursos disponíveis.

Eu e o Caio tivemos a infelicidade de passar pelas mãos de médicos que não quiseram me ouvir, que não deram atenção ao meu histórico gestacional e aos manuais de conduta. E isto ocasionou sua paralisia cerebral. Mas também tivemos a benção de encontrar profissionais excepcionais, com os quais compartilho a evolução do Caio e meu grande aprendizado, como mãe e pessoa.

Eu erro. Em casa, no trabalho, em minhas relações, em meus julgamentos. Por descuido talvez, por ansiedade muitas vezes, mas nunca por prepotência. Sei da minha nata condição de imperfeita. Se 90% dos nossos médicos pudessem se ver assim, humanos antes de doutores, com a humildade de se saberem aprendizes constantes do dia-a-dia, lidando com amor com o instrumento maior de suas profissões – que é a vida do próximo, estou certa de que os níveis de erro médico poderiam ser inversos ao que acontece hoje. Porque seriam ocasionados por seres humanos e não por pretensos donos da verdade.

10 comentários:

Claudia disse...

Dinha, falou tudo mais uma vez! E o pior é que os casos de erros médicos são mais comuns a cada dia. O que será que está acontecendo? Será que acham que podem brincar de Deus? Meu marido odeia médicos, diz que se for a uma consulta, com certeza, vão achar algma coisa. É piada, claro, mas o motivos são esses casos absurdos. Beijos pra vc e pros meninos.

Anônimo disse...

Pois é Dinha, todo mundo erra, mas aqueles em cujas mãos estão as vidas humanas, as nossas vidas, deveriam ter responsabilidade redobrada. Bjs mil e sorte na empreitada

Claudia disse...

Oi querida, tô contigo e não abro. Eu tenho não tenho medo de doenças, eu tenho medo de médicos!!!Bjs

Nalu A*) disse...

Dinha eu concordo muito com isso, que muitos erros são fruto da arrogância. E isso é triste, tanto poderia ser evitado se algumas pessoas olhassem mais pra dentro de si e vissem o que realmente são, humanas, e não semi-deuses...Beijos.

Anônimo disse...

Dinha, concordo plenamente contigo, sem tirar uma vírgula. Ultimamente tenho andado super desacreditada dos médicos.sempre tão frios, tão desumanos...Deveriam ter tentado outra profissão, já que não possuem humanidade.
Beijos!

ana b. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renata disse...

É Dinha, errar é mesmo humano, mas esse "tipo" de erro para mim não é nada humano, me revolta uma pessoa que lida com a vida humana errar apenas por orgulho. Sinto muito medo dessa situação e só me resta rezar muito para nunca me deparar com esse tipo de gente e claro para vc e sua família linda nunca mais passarem por isso. Beijos

Isabella disse...

Sim, Dinha. Errar é absolutamente humano, tanto quanto não reconhecer o erro é absolutamente desumano. Um beijo, minha querida.

Eva disse...

Dinha, eu não tenho certeza se já te contei um pedaço da minha história de quando eu era um bebê e peguei uma infecção hospitalar.
Mas, na época um médico falou para minha mãe que se eu sobrevivesse ficaria tetraplégica e nunca faria nada sozinha e outro disse que não pegaria meu caso porque eu iria morrer mesmo e minha mãe ainda o colocaria na justiça. Tenho a impressão que eles estavam errados.

Grilinha disse...

Dinha...eu sou irmã de uma G.O Ginecologista Obstreta, que nunca quis ser minha médica porque os médicos não devem assistir à própria familia...
Embora que o meu caso seja diferente e eu não posso de chapa acusar ninguém, foram cometidos erros, como seja optar por parto natural e vindo de um bebé que era de risco e tinha circulares à volta do pescoço, tenho a certeza que foi péssima opção. Julgo que a PC nada teve a ver com isso, mas o facto real é que ele nasceu sem respirar e não havia razão para isso !!! O Hospital era particular, mas a médica disse-me no fim de tudo que tinha pensado que eu faria um parto bem rápido e que se enganou...também não me consolou nem um bocadinho...
Felizmente a minha irmã tem que eu saiba uma atitude bem humilde e sempre foi muito cautelosa. Qdo trabalhava no público era chamada à administração por fazer demasiadas cesarianas. Na verdade ela sempre me disse que nunca gostou de arriscar e de jogar pelo seguro. E o estado que pagasse. O facto é que apesar disso subiu rapidamente a directora pelas diversas vezes que "confrontou colegas e impediu desgraças"...ganhou fama. Hoje está no privado e continua muito humilde e humana...tenho orgulho nela.
No meu caso ela só teve um erro que coincidiu com o meu (mas nunca me influenciou)...Foi muito OPTIMISTA...mas sabes que mais ? Ainda bem. Estou feliz do meu filho estar connosco...é muito dificil. Mas a minha vida dificil é hoje muito maravilhosa. Lindo era ele poder recuperar em grande escala e eu aliar este aprendizado a um certo alivio....o tempo dirá ! Beijinhos amigos