Semana passada, no Dia Internacional da Mulher, fui
agraciada pela Câmara Municipal de Canoas, com o Prêmio Picucha Milanez. Um
reconhecimento a mulheres que se destacam por sua atuação, em diversas áreas,
na cidade. Fui indicada por meu trabalho pela inclusão de pessoas com
deficiência e empoderamento feminino, que realizo via este blog e via minhas
palestras. Recebi o prêmio junto a outras 10 mulheres. Fui escolhida como
oradora do grupo e ainda tive a oportunidade de apresentar nossa trajetória,
dificuldades e desejos de um mundo mais igualitário. Foi uma noite ímpar,
jamais imaginada em meus devaneios de reconhecimento.
Mas sabem qual momento mais me emocionou? A hora do hino.
Ali, perfilada com as demais homenageadas, cantando o hino da minha cidade, eu
chorei.
Aquele prêmio estava sendo dado à menina que nasceu em
Canoas, contrariando o desejo machista do pai de ter um filho homem. Que viu
seu lar ser destruído pelo alcoolismo e pela violência doméstica. Que foi
levada embora, aos 5 anos, para Porto Alegre, para ser criada longe de sua
família e muito chorou por isso, sem entender os porquês.
Aquele prêmio foi da estudante que, contrariando as piores
previsões do pai que a rejeitou e de uma madrinha que a humilhou e desacreditou
ainda na infância, foi a primeira pessoa de sua família a conquistar um diploma
universitário, na concorrida UFRGS, aos 21 anos de idade.
Quem recebeu o prêmio, foi a esposa, casada por 22 anos, que
repetiu a história de violência doméstica de sua mãe. E que, oprimida pelo
sistema, se sentia culpada. Custou mais de duas décadas, mas ela conseguiu se
livrar da subjugação.
Quem foi premiada foi a mãe, que teve um filho comprometido
para sempre por conta de um erro médico no sistema público de saúde, na hora do
parto. E que dessa dor, fez motivação para lutar pela inclusão, acessibilidade
e, todos os direitos das pessoas com deficiência.
O prêmio foi para a mulher que uma vida inteira teve
problemas com o peso e autoestima, chegando à obesidade mórbida. Mas que, como
tudo em sua vida, decidiu que era hora de virar o jogo. Que deixou 35 quilos
para trás e quer e sabe que ainda pode mais.
Foi reconhecido o valor da mulher que entre 2010 e 2013
pensava em tirar a própria vida todos os dias, pois não via sentido em tudo de
ruim que precisava passar. E que hoje, há 5 anos sem uso de nenhuma medicação,
ajuda as pessoas a buscarem motivação e propósito em suas vidas, por mais
difícil que pareça. Ela mesma aprendeu. Sempre há motivos.
Ouvindo o hino da cidade que nasci e, mesmo morando fora, eu
sempre mantive o vínculo, eu chorei. Onde casei e batizei meus filhos. Onde
estava minha família biológica. Para onde sempre quis voltar, e assim o fiz, 28
anos depois de ter ido embora. Voltei ainda infeliz, ainda no olho do furacão
de todas as minhas tempestades pessoais. Mas eu sabia que na minha terra as
coisas iam melhorar. Foi aqui que conheci pessoas que me estenderem a mão. Que
me ajudarem a me reencontrar e me reerguer. A cidade que tanto amo, o meu
berço... Premiando todas as mulheres que vivem em mim. Elas venceram!
Um comentário:
Bravo!!!!!! Viva!!!!! Uhuuuuuu! Fiu,fiu!!!! Era isso tudo que eu estaria fazendo na platéia aí!! Você é de fato uma Guerreira Dinha! Que Deus continue te iluminando e guinado seus passos! Os meninos estão enormes! Muito feliz por você!
Baijão, Cecília
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