Nasci mulher quando meu pai torcia por um
primogênito macho. Ainda na primeira infância passei fome e conheci dentro de
casa a violência doméstica. Cresci determinada a não repetir a história de
infelicidade de minha mãe. Fui a primeira mulher de minha família a concluir o
ensino superior. Quando iniciei minha vida profissional, em meu meio,
predominava o sexo masculino. Casei, tive filhos e dilemas entre maternidade e
profissão. A primeira venceu. Fui traída, oprimida e entrei para a estatística
das mulheres que são agredidas mas têm medo de denunciar seu agressor. Ainda assim,
fui julgada - inclusive por outras mulheres – como culpada, por não entender
que homens são assim mesmo. Tive depressão profunda e não queria mais viver.
Mas, virei o jogo. Busquei forças em minhas
entranhas e me resgatei. Com mais de 40 anos. Quando alguns já podiam – mais
uma vez – me condenar. À velhice. Ao conformismo. Recomecei do zero, mas com
dois filhos à tiracolo. Mais uma vez, comi o pão que o diabo amassou. Mas
venci. Hoje sou mulher e mãe. Mulher e profissional em ascensão. Mulher e
aprendiz. Ousada o suficiente para ainda explorar muitos caminhos novos.
Independente, plena, positiva. Mulher e feliz.
Aceito as honrarias, aceito as flores. Me acho
muito merecedora de todo o reconhecimento que a data permite, pois ainda somos
queimadas em praça (e opinião) pública. Inclusive, por nós mesmas. Ainda somos
destratadas na sociedade, humilhadas em relacionamentos abusivos, preteridas em
vagas de emprego. E estamos aqui. Com a cara e a coragem para não aceitar mais
isso. Sei que apesar de tudo o que passei, sou privilegiada. Honrei a caminhada
de minhas ancestrais e a deixei um pouco mais leve para minhas descendentes.
Deixo de legado, resiliência, garra, superação. Mas com alegria na alma, amor
no coração e um sorriso no rosto. Porque sou MULHER.
Um comentário:
Esta é apenas uma manifestação de uma das mulheres que admiro pela sua trajetória de vida, por mostrar que acima de qualquer preconceito, acima de qualquer dificuldade, além de qualquer, " pão que o diabo amassou", há mulheres que podemos chamar de CLAVA FORTE. Lutam, mesmo quando homens cortam suas unhas, e arrancam seus dentes, ainda assim, elas possuem armas para lutar, pois nunca perdem o amor e a esperança. Grande beijo Claudinha, Parabéns por todos os dias das mulheres, em especial HOJE!
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