O blog existe há mais de 10 anos. Antes da gravidez
inesperada de Caio, era um espaço onde eu tentava exercitar minha veia criativa
de redatora, além da frustração profissional que vivia naquele momento. A
partir da gestação e todas as suas particularidades desde o início – não
planejada, eu e marido desempregados, a ida dele para a Europa e eu ficando
aqui sozinha com Yuri com apenas 4 aninhos... e tudo o que ainda veio pela
frente...
Nasceram os Meus Frutos, o cyber espaço onde eu compartilhei minha
maternidade com o mundo (e não é exagero... além de amizades por todo o Brasil
que se fortaleceram, saíram do virtual e perduram até hoje... Alguns amigos
internacionais também vieram!). A gravidez de Caio foi, literalmente, a
semente. De novas vidas – a dele e as que se transformaram após sua chegada. De
um longo processo, que mal eu podia supor o tão correto nome que dei ao blog.
Meus Frutos eram meus filhos. Minhas ideias. Tudo que vinha de mim... Meus
Frutos, hoje percebo, são os que plantei e cultivei ao longo deste processo
transformador.
A dor e o medo podem ser positivos. Quando te tiram do lugar
de mera vítima e te levam para o papel de contestação. Por que eu? Por que
comigo? E aí, não no sentido de vitimismo, mas de busca pela compreensão do que
a vida quis dizer quando te elegeu para este destino. Ou, para o que eu
acredito hoje, do entendimento de que realmente NADA é por acaso. TUDO está
escrito.
Acho que fé é essencial na vida das pessoas. Às vezes, uma
revolução em nossas vidas e pronto, não acreditamos em mais nada. Acho isso tão
triste. Para mim, se chama desesperança. Quando meu irmão morreu, subitamente,
aos 25 anos, minha mãe “brigou” com Deus. Se Ele existisse, me dizia ela, não
deixaria algo assim acontecer. Quando Caio chegou, colocando tudo o que eu
achava que acreditava mais o que eu pensava que estava certo no olho de um
furacão, eu, intuitivamente dizia: Está tudo certo, Pai. Sei que está. Aceito.
Óbvio que nem sempre foi assim. A notícia de que tua
gravidez perfeita culminou num filho com paralisia cerebral e graves sequelas
para sempre nunca é tranquila. Mas foi no desespero e na dor e dentro do que eu
achava que era vitimismo, que me perguntei: Por que eu? Por que comigo? E na
busca das respostas, encontrei um novo caminho.
Um caminho que me permitiu preparar a terra, semear,
cultivar novas crenças, novos conhecimentos. Posso dizer que amadureci. Costumo
dizer que às vezes nem lembro quem eu era antes de Caio chegar. Tenho vagas
recordações de uma menina muito mimada e intempestiva. Que teve que dar lugar a
uma mulher responsável por si e pelo reflexo de suas escolhas em outra vida,
solidária porque também viria a receber muita solidariedade, humilde porque
alcançou a consciência de sua mera condição de aprendiz nesta vida.
Caio me apresentou gente que nunca imaginei conhecer. Me
motivou a fazer ações entre amigos e exercer liderança em alguns momentos. Me
fez encontrar a espiritualidade e desenvolver minha intuição, para meu imenso
fortalecimento. Me fez deixar os mimimis de lado e partir para a ação. Me faz
ir em busca de sonhos antigos ou teoricamente impossíveis. Me faz ter fé na
humanidade. Me ensina os valores de verdadeira justiça e amor incondicional ao
próximo. Me reitera constantemente o conceito de coragem. Me faz amar a vida em
sua simplicidade. Me permitiu me redescobrir. Me fez florescer.
Nada disso veio da noite para o dia. A semente teve que ser
cuidada, entendida, regada, amada. Para que frutificassem na vida que temos
hoje. Na mãe que conseguiu retomar a vida profissional 7 anos depois de largar
tudo por este filho que exigia tantos cuidados, que reaprendeu a se amar e se
cuidar para ainda melhor poder amar e cuidar esse filho tão maravilhoso que lhe
foi destinado. No irmão que era criança e hoje é quase um homem, com valores de
inclusão e igualdade impressos naturalmente em seu caráter. Em tantas pessoas
que aprenderam alguma pequena coisinha com Caio, em alguma oportunidade que
tiveram de se aproximar dele com o coração aberto – sempre lembro do querido
exemplo da tia Dina... Que frutificou especialmente nele mesmo, Caio. O menino
que não viveria um ano e hoje já passa dos 10. Que seria vegetativo e hoje
freqüenta o terceiro ano de uma escola regular de ensino fundamental. Que segue
evoluindo física e cognitivamente, florescendo a seu tempo.
Me sinto despedindo-me dos Meus Frutos. Gradualmente. Aceito
cada vez mais nossa rotina com naturalidade e não existe mais a necessidade
inicial de compartilhar tudo o que fazemos. Aceito a deficiência de meu filho
como apenas uma pequena faceta do ser humano gigante que ele é. Estou ciente
que nada parou. Que haverão novos desafios, novas provas, novos aprendizados.
Mas, como sempre tentei escrever por aqui – para quem a vida não é assim? Eu,
Caio, Yuri, somos iguais. Apenas mais uma família. Apenas três entre bilhões de
pessoas no mundo. Não há mérito nem deferência em nosso caminho. Apenas há a
estrada trilhada a nosso particular modo.
A nossa história? Não preciso mais me apoiar no que já foi. Cultivamos
fé, amor e aprendizados, ao longo de 10 anos. Acho que um ciclo se encerra.
Está na hora de colher os Frutos. E caminhar para frente, saboreando o que nos
tornamos.
2 comentários:
Como não ser tua fã incondicional, xará ?!!!!!!
E amar de paixão teus textos, todos eles ?!!!!
Tu é show de bola, mulher !!!!
Incrível como muitas de tuas palavras, são a escrita do que o coração de muitas mães querem dizer... Parabéns por tudo que és, pela linda família!!!
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