Quase uma semana depois do início das aulas do Caio no Ensino
Fundamental e eu confesso, ainda estou em choque. Estou triste. Doída.
Revoltada. Mas se tivesse que resumir tudo a uma só palavra ela seria
frustração.
Eu não sou uma alienada. Sei que a grande maioria afirma que
a inclusão não existe porque, infelizmente, a grande maioria dos pais e alunos
deficientes não a conseguem vivenciar plenamente nos seus cotidianos. Não achei
que seria tudo perfeito, mas achei que seria mais fácil.
A escola do Caio fez uma reunião dia 20 de fevereiro na qual
apresentou o novo formato para o ensino fundamental I (de 1º a 4º ano): o turno
integral. Haveria uma professora condutora, a da “matéria” propriamente dita.
Mas a alfabetização e os demais processos de aprendizagem seriam intercalados
com oficinas diversas: meio ambiente, capoeira, informática, xadrez, línguas...
Assim, seria possível avaliar em quais áreas determinadas crianças se
destacavam mais ou tinham mais aptidão para desenvolverem suas potencialidades.
Em princípio, muito interessante. Se funcionar.
Há 45 alunos matriculados no primeiro ano. A ideia é
dividi-los em três ou quatro grupos. Enquanto um fica em sala de aula, os
outros dois ou três participam de oficinas diversas. Depois de um período de
30-40 minutos, é feito um rodízio. Esta foi a teoria. Na prática, mil erros de
percurso. Alguns por falta de organização. Outros, no meu ponto de vista, por
pura falta de respeito.
O primeiro ano tem Caio e Brenda, outra cadeirante, com pc.
O segundo ano tem Thiago, idem quadro. Thiago já aluno da escola. Começou com
uma escolha que ninguém me fará compreender. As salas do primeiro e segundo ano
estão localizadas no segundo andar do prédio. Que não conta com elevador. Onde
ninguém se responsabiliza por transportá-los via escada. Então o que aconteceu
é que ao longo da primeira semana de aula, Caio, Brenda e Thiago ficaram
confinados na sala de recursos, no térreo. Não tiveram acesso nem à turma nem
aos horários de aula propriamente ditos. Mas também não tiveram acesso às
oficinas, estas sim, todas realizadas no andar térreo. Porque NENHUM professor
oficineiro ou condutor veio buscá-los!
Brenda, Caio e Thiago |
Caio, que entende e vivenciou um ambiente escolar, ficou
claramente frustrado. Onde estavam os colegas? As atividades em grupo? As conversas,
as risadas? Thiago então, nem se fala, de doer o coração. Como fala de maneira
fluente, cobrava: “eu quero ir pra sala com os meus colegas!”. Brenda está em
sua primeira experiência escolar, mas também não mostrou contentamento com a
situação.
Repito, porque nem eu mesma acredito: nenhum professor veio
buscá-los para a aula, para as oficinas, sequer para o lanche. Como assim? Não
há lista de chamada? Ninguém sabe da existência deles? Não sentem sua ausência?
Para piorar ainda não há monitor para as crianças. Estão buscando estagiárias.
Enquanto isso, somos três mães-monitoras, também confinadas na escola, tendo
que atender nossos filhos integralmente. Ah, e quando as estagiárias vierem,
elas não poderão alimentá-los nem ajudá-los com a higiene, seja trocando fralda
(Brenda) ou conduzindo-os ao banheiro (Caio e Thiago). Porque, me disseram, é
“exercício ilegal” da profissão de professor.
Eu sabia que seria difícil? Sim, sabia. Tinha medo e quase certeza de que não haveria outra Vó Corina em nossas vidas assim, caindo de presente dos céus. Mas, eu sou daquelas que costuma acreditar nas pessoas, que costuma confiar quando me é feita uma promessa – como foi o nosso caso. Caio iniciou idas à escola em setembro do ano passado! Semanalmente! Ou seja, sabiam que iriam recebê-lo! Me convidaram a matriculá-lo lá! Disseram que o queriam! E que esta adaptação seria justamente para a escola se adaptar às necessidades dele. Para que quando as aulas iniciassem, tudo já estivesse pronto e não se perdesse tempo indo atrás da estrutura necessária. E fico magoada e me sinto passada para trás. Perdi meu tempo e o do Caio. Freqüentamos a “adaptação” à toa.
E o que dizer de Thiago, que já é aluno da escola? Que está
em processo de continuidade? Senti as crianças completamente excluídas.
Ignoradas em sua existência e em seus direitos. E isso machuca. E revolta.
No término do primeiro dia, ainda em choque, vim pra casa e
chorei até adormecer. No terceiro dia, pensei em não ir. Mas acho que é isso
mesmo que a sociedade como um todo ainda espera: que desistamos. E não, não vou
entregar os pontos. Sempre digo que minha meta é levar Caio à faculdade. Se
depender de mim, da vontade dele e de nossa capacidade de lutar, vai acontecer!
Claro que já entramos em contato com autoridades responsáveis
dentro da Secretaria Municipal de Educação. Hoje não teve aula. Há uma reunião
pedagógica acontecendo, onde dois professores que estão engajados conosco iriam
colocar as cartas na mesa. Para amanhã nos foi prometido um encontro na própria
escola – e uma resposta – do Departamento de Inclusão da SME. Aguardo. Torço. Sexta-feira
Caio conseguiu participar de duas oficinas, porque o monitor do Thiago ficou
andando atrás de um, de outro, até que conseguiu com que eles ficassem com seus
respectivos grupos. Quero confiar nas pessoas que me olharam no olho e me
fizeram promessas de boas vindas ao Caio, ainda não cumpridas.
Caio e Brenda se reencontraram, depois de anos, pois já foram colegas de fisioterapia, quando tinham 1-2 aninhos! |
A monitoria deixou de ser nosso maior problema. Mas eu
deixei claro: não vou ficar acompanhando meu filho na escola. Isto não é inclusão.
Ele tem direito à assistência integral. É lei, não é favor, não é benefício.
Para Caio, como eu fui a mãe que mais esperneou, estão correndo para resolver a
questão da monitora. Mas o mais grave é a exclusão acontecendo assim,
abertamente. Na escola, mas sem escola.
Alguns hão de pensar: “Tá vendo? Disse que a inclusão
existia...”. Sim, eu disse. Vivemos ela plenamente na educação infantil. Sigo
acreditando que ela é possível. Difícil, sim. Longo caminho para mudar atitudes
e mentalidades. Árdua luta pelo direito à igualdade. E vamos atrás. Sei que vou
voltar aqui e escrever uma história, uma postagem diferente.
Assim seja!
Um comentário:
Oi Claudia!!!
Li atentamente o teu post!!! Nem sei o que dizer a respeito dos meus colegas que fizeram promessas e trataram o Caio e seus colegas desta forma. Que bom que já procuraste a Sec de Educação. Realmente as monitoras não poderão fazer a limpeza dos alunos, para isso, podes solicitar uma profissional da área de enfermagem. Estás sendo quase pioneira em tal luta, isso fará com que sofras um pouco, ou muito... O importante é não desistir e seguir munida deste sentimento: LUTAS POR UM DIREITO, NÃO PEDES UM FAVOR!!! Um beijo no <3!
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