Mas, pra quem não acompanhava e, como costumo dizer, escrevo pra mim mesma. Para deixar registrado e tentar não esquecer.
Acho que ao longo destes poucos dias no hospital, pude mais uma vez relembrar que não, ao contrário do que costumamos pensar, a grama do vizinho não é sempre a mais verdinha.
Ao lado do atendimento excelente do HCSA, para mim que costumo "comprar" a dor dos outros, é muito triste também estar ali. Porque é um hospital exclusivo para crianças. Pequeninos com as mais diversas doenças, com deformidades jamais vistas, síndromes raríssimas. E suas mães, ali, lutando junto, tentando não esmorecer.
Eu não vou me fazer de supermulher e dizer que não acho que temos, às vezes, eu e Caio uma jornada difícil. Mas se tem algo que acho que aprendi ao longo destes quase 7 anos é que a nossa luta é somente a nossa luta. Nem a maior, nem a mais grave, nem a mais amena...
Nestes quase quatro dias, vi mães se perguntando no elevador: "O meu tá aqui há 6 meses, e o teu?". "Nós já fez 8, mas não tenho ideia de quando poderemos ir embora".
O próprio pessoal da enfermagem vinha me perguntar: "A senhora interna sempre aqui? Não lembro do Caio." Interna SEMPRE? Como assim?
E aí preciso viver isso para lembrar que sim, infelizmente a maiora das crianças com paralisia cerebral e epilepsia necessita de internações com alguma frequência. No segundo dia, minha colega de quarto passa a ser a mãe de uma menina de 14 anos. Ela diz que interna, em média, 3 vezes por ano. A última, passou Natal no hospital. Três meses depois, estavam de volta, sem previsão de alta.
Chego a me envergonhar por ter surtado tanto por uma internação para exames, eletiva, com previsão de quatro dias. Penso no quanto abençoados somos em termos tido agora nossa terceira internação em quase 7 anos... Mas também acho que não devemos minimizar o sofrimento alheio. A mãe que estava lá com a filhinha com infecção intestinal viral, agoniada pelo mero soro que a sua pequena necessitava também estava exausta e sofrendo legitimamente. Porque nunca queremos dor, sofrimento, desconforto, até mesmo contrariedade para nossos filhos.
O que fica disso tudo? A lembrança de que sempre temos algo a agradecer. Lamentar faz parte, é humano. Mas ter fé e agradecer cada dia, cada oportunidade de aprendizado, cada chance de seguir lutando por momentos melhores e para que nossa grama tenha a cor que tanto sonhamos; esta é a essência da vida, acredito eu. Como me disse um dia uma amiga "Deus não escolhe os capacitados. Ele capacita os escolhidos". Somos capazes de dar conta. E saber disso faz toda a diferença.
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