terça-feira, 21 de junho de 2011

A inclusão acontecendo

Enquanto escrevo esse post, Caio está no auge do seu primeiro passeio com sua turma da escola. Um momento lindo e único para mim que, como diz aquela famosa música, “você não não sabe o quanto eu caminhei para chegar até aqui”.



Em nossa história toda os momentos de descrédito, desesperança e prognósticos negativos sempre foram maioria. E eu realmente não sei se foi por negação, por teimosia ou instinto materno, mas eu nunca quis acreditar neles. Até hoje, tento sempre ver, acreditar e, principalmente lutar pelo melhor, pelos risos, pelos ganhos. E a inclusão do Caio na escola me faz ver que sim, é por aí, é possível e vale muito à pena.


Caio recém fez um mês na escola e eu já me arrisco a dizer que tivemos a sorte imensa de dar certo de primeira. A equipe toda realmente me parece muito preparada para fazer a inclusão acontecer de verdade, no dia-a-dia. São pessoas interessadas, amorosas e com muita boa vontade. E a boa vontade é o primeiro e talvez mais importante passo para que a inclusão exista.

O passeio de hoje é um grande exemplo disso. Há uns 15 dias me avisaram do cronograma escolar, que haveria um desfile cívico dia 18, que adorariam a presença do Caio (e ele foi, foi um arraso!) e dia 22, um passeio à uma mostra de arte alusiva ao aniversário de 72 anos de nossa cidade, comemorados ao longo desta semana. Logo avisei que, infelizmente, ele não poderia ir, pois tinha consulta de revisão com a equipe de neurocirurgia do HCPA agendada para a mesma data. A consulta é anual, importantíssima, para controle da válvula e a agenda do hospital é muito difícil, então eu não teria como trocar. Pois, para minha imensa e gratíssima surpresa, a monitora dele conversou com a direção, pois achava uma lástima Caio perder o passeio. E eles reorganizaram tudo, trocaram as turmas (o passeio seria para todas as turminhas da escola, duas por dia, de segunda a quarta-feira) e realizaram o passeio dele na terça, hoje, para que ele pudesse participar.



Eu achei isso fantástico! Mostra que a equipe que está com meu Cainho pode e vai fazer a diferença em sua vida! Pois seria muito cômodo para todos deixar como estava, a impossibilidade era do Caio, pessoal. Simples assim. Mas a monitora achava que ele perderia uma grande oportunidade de aprendizado. E também por fazer questão de levá-lo à uma mostra de arte e não a uma atração mais “infantil”, por assim dizer, me mostram o quanto acreditam no potencial do meu menino. E no direito que ele tem de participar, afinal, faz parte da turminha.


A monitora poderia passar a tarde de amanhã “de folga”, cuidando de alunos do berçário apenas para cobrir seu horário, não precisaria se preocupar em se deslocar com o Caio, em levar lanche, medicação... Mas ela foi atrás da melhor maneira de incluir meu menino.



Isso que, me alertaram no princípio, recebiam o Caio de braços abertos, mas com muitas dúvidas. Nunca antes atenderam um cadeirante. Já tiveram downs, autistas e deficientes visuais. Mas nunca um cadeirante que não fala. Me avisaram que iam se esforçar muito, mas que precisariam aprender a lidar com ele. Um mês depois, já dou nota 10 a toda a equipe.



Como eu sempre digo, a inclusão não é tão difícil como muitas vezes se prega por aí. Ela nasce e acontece a partir da vontade em realizar. De um coração sem preconceito com nenhuma situação. Fico muito, mas muito feliz mesmo, por Caio estar cercado de pessoas com este dom.



Imagino que nem sempre vai ser tão fácil assim. De todos os muitos sonhos que carrego pra gente, dos mais simples, como Caio ser aceito em todas as esferas como criança e, mais tarde como cidadão, até os mais complexos para sua deficiência física, como talvez ser um “doutor” e conquistar um diploma universitário ou a autonomia laborativa, agora estamos realizando de maneira plena sua inserção na escola.

Hoje ele passeia sozinho com sua turma. Repito, é um momento único. Para quem, como eu, já teve tantos medos – alguns com fundamento, outros não. Para o menino que ainda ontem estava superprotegido embaixo da minha asa. Caio começa a aprender a voar sozinho. E fico muito feliz e orgulhosa por isso. Ouso dizer que nunca fomos tão felizes. Deus abençoe.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Do lado de cá...

... andamos assim:

Caio completa hoje um mês de escola. E está feliz como só! Se alimenta bem na escola e volta pra casa louco pra "contar" tudo o que fez... Os colegas o aceitam muito bem, são muito carinhosos. Esta semana ele (como 90% dos gaúchos) teve um resfriado e não foi à aula por três dias. Quando retornou, os amigos lhe fizeram a maior festa, regada a muitos "vivas" e gritos de "Caio, Caio!", além de uma fila de beijos e abraços de boas-vindas.
Daquelas coisas de deixar qualquer mãe muito feliz.


Na contrapartida das boas notícias, ele perdeu um pouco de peso. Como teve uma leve virose, um princípio de amigdalite e mais o resfriado, tudoaomesmotempoagora, a nutricionista disse que não devo entrar em pânico. Ele volta a pesar em 15 dias, daí a gente vê...

Como ele está indo super bem na escola decidi, por ora, deixar as aulas de música de lado. Lamento bastante, mas os horários mudaram e a única turma agora é segundas das 16 às 17h30. Acho complicado ele ficar 3 dias seguidos sem ir à escola (contando com os finais de semana, claro). E segundas-feiras é o dia em que ele faz, pela manhã, fisio e, quinzenalmente alterna terapia ocupacional e fonoaudiologia, fica muito puxado pra ele! Depois, não há transporte para as aulas de música, que ficam na divisa da cidade. Durante o inverno, sair de lá no fim da tarde e ter que contar com muito boa sorte para pegar dois ônibus adaptados para chegar em casa em pleno horário de pico... Acho que não... Os estímulos e respostas que ele já mostra na escola me dão a quase certeza que, neste momento, é este convívio sua melhor terapia.

Falando nisso, semana passada, teve uma palestra para pais e cuidadores na ACADEF. E, num primeiro momento, eu achei que até não me contariam nenhuma novidade, sobre a importância de amar nossos filhos e aceitar suas deficiências, sejam quais e em que grau forem... Mas daí a chefe da fisioterapia pediátrica entrou num terreno que me caiu como uma luva. Sobre o desejo da gente querer fazer todas as terapias possíveis e imagináveis, fazer cada vez mais atividades, lotando a "agenda" do filho, achando que assim vai estar proporcionando mais chances de reabilitação a ele. E não é assim que as coisas funcionam. O cérebro, ela conta, na maioria das vezes, absorve muito mais o carinho, as brincadeiras em casa, o modo como a criança é tratada... é este o melhor caminho para a melhor reabilitação que ela pode ser - e que nem sempre vai ser como nós, pais, sonhamos.

Pode parecer bobagem, mas ver uma profissional especializada em reabilitação infantil dizer isso, me tirou um peso dos ombros. Até para apoiar minha decisão sobre as aulas de música. E, para minha imensa alegria, ela usou exatamente o Caio como um exemplo de criança que tem mostrado grande desenvolvimento cognitivo, maior que o físico, creditado a este "tratamento".

Fico feliz. Não me mostra que sou a melhor, que já sei tudo. Longe de mim. Mas indica que estamos trilhando um dos caminhos - principalmente em se tratando de filho com deficiência não há um único caminho, mas vários - certos. Que estou conseguindo cumprir para meu filho a promessa que lhe fiz de buscar as melhores maneiras de fazer dele uma pessoa feliz.