quarta-feira, 18 de outubro de 2006

A lição da Princesa

Morreu a filha do Rei. A princesa que nunca teve trono, cuja vida jamais chegou perto de ser um conto de fadas. Morreu a princesa negra, pobre, bastarda.

Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento, vereadora de Santos (SP), morreu ontem, vítima de um câncer. Sandra ganhou notoriedade por sua luta para ser reconhecida como filha do jogador de futebol Pelé. E o suposto “rei” sempre a renegou. Argumentava que não podia amar, de uma hora para outra, uma filha que caiu de para-quédas em sua vida. Mas ele também nunca se esforçou para tal. Em compensação, todos os demais filhos que teve com mulheres brancas e loiras, Pelé reconheceu e deu afeto.

Não gosto da monarquia. Não acredito em reis e rainhas impostos pela mídia. Na maior parte das vezes, a coroa concedida pela admiração da opinião pública, transforma a soberania em soberba. É o caso de Pelé.

Sandra quis carinho e não recebeu. Então brigou na justiça pelo direito mínimo de assinar o sobrenome famoso. O rei negou amor à sua própria filha, justo aquela que, por ironia do destino, mais carregava seus traços físicos. Ele nunca procurou, nunca buscou construir uma relação de afetividade com a filha. Uma pessoa assim não é rei, não é pai, não é sequer homem.

E ela era a parte menos culpada de toda essa história. O fruto da inconseqüente paixão de dois jovens da década de 60.

O cantor Roberto Carlos, outro de nossos “reis”, tomou conhecimento do filho Rafael quando este já tinha mais de 20 anos. Roberto o reconheceu, trouxe-o para trabalhar consigo, fazer parte da sua vida. Apresentou-o em rede nacional, no seu tradicional programa de fim de ano, como um presente de Deus. É. Existem reis e reis.

Em tempos de eleição, vale lembrar que Sandra teve um correto mandato com vereadora. Usou os benefícios que a fama lhe trouxe para criar um projeto que garante a realização de exames de DNA gratuito a mães e filhos sem recursos para tal. A princesa, ao contrário do rei, preocupava-se com o povo e teve postura realmente nobre.

Dizem que o último de Sandra era receber, ao menos, um telefonema do pai. O rei, inatingível em seu castelo, não atendeu. A princesa queria, do alto de sua grandeza, perdoá-lo. Não sei se ele merecia. Mas estou certa de que a princesa agora está no seu devido lugar, no reino dos Céus, ao lado do verdadeiro Lorde.

9 comentários:

Anônimo disse...

Dinha, esta historia nunca me desceu, sempre achei que o Pelé de rei não tem nada...
Adorei seu texto!
Beijo enorme,

Rose disse...

Dinha, seu texto é lindo, acompanhei um pouco dessa história, e realmente achei um absurdo chamarem de rei uma pessoa que teve coragem de rejeitar uma filha (ou filho, tanto faz), como você mesma disse, não pode ser considerado nem 'homem', muito menos 'rei' de qualquer coisa.
Beijo

Anônimo disse...

oi dinha, você conseguiu reproduzir aqui tudo o que eu sempre pensei sobre este caso, que eu acompanho desde que apareceu na mídia
mas eu não sabia que ela tinha morrido, que pena! eu nunca achei que ele merecia o título de rei, antes de ser rei, precisaria ser humano
beijos

Anônimo disse...

Dinha, mais uma vez você escreveu tudo o que eu escreveria se tivesse esse dom que vc tem em traduzir sentimentos em palavras. Teve um escândalo do "rei" há uns anos sobre uma garçonete de boate que era amante dele, e quando ele não quis mais deixou a menina na rua e humilhada. Até o que era dela antes de conhecer ele, ele tirou.( Lógico que a moça não era santa, mas ele fica pregando de evangélico com uma mulher loira e 'quase santa' em casa) Por isso nem gosto de comentar este fato da filha dele, porque eu acabo sendo agressiva. Nunca engoli o "rei" como rei de procaria nenhuma, e para mim uma pessoa sem caráter pode ser bom no que ele quiser, que não me vale de nada. Acho que a Sandra cumpriu a missão dela na Terra, e quem quiser entender qualq foi a missão você explicou bem no seu post.

Anônimo disse...

Adorei cada letra, espaço e vírgula. Concordo plenamente com o que vc escreveu tão lindamente sobre esta história........bj

Isabella disse...

Dinha, como sempre me emocionei com seu post. Você falou tudo o que eu falaria sobre o caso também. Beijo.

Anônimo disse...

Oi Dinha... Cheguei aqui por intermédio da Greice. Sem tanta propriedade quanto você, também disse o que penso desse crápula no meu blog. Parabéns!

Anônimo disse...

Dinha, muito lindo seu texto, e sem palavras a dizer a respeito dessa pessoa que foi capaz de tamanha barbaridade com a própria filha.
Beijos!

Alessandra disse...

Dinha,
Concordo com você. Por melhor que pareça ser a pessoa pública Pele, o que ele fez com a filha faz dele um calhorda ! Que a filha dele encontre o amor e a paz que sempre procurou onde ela estiver agora.

Beijos
Alessandra